O mapeamento dos repositórios institucionais brasileiros: perfil e desafios

AutorSimone da Rocha Weitzel
CargoProfessora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro do Departamento de Biblioteconomia e do Programa de Pós-graduação em Biblioteconomia, PPGB
Páginas105-123
105
v. 24, n. 54, 2019.
p. 105-123
ISSN 1518-2924
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 24, n. 54, p.
105-123, jan./abr., 2019. ISSN 1518-2924. DOI: 10.5007/1518-2924.2019v24n54p105
O mapeamento dos repositórios institucionais
brasileiros: perfil e desafios
The mapping of Brazilian institutional repositories: profile and
challenges
Simone da Rocha WEITZEL (sweitzel@unirio.br)*
*Professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro do Departamento de
Biblioteconomia e do Programa de Pós-graduação em Biblioteconomia PPGB.
Resumo
O estudo tem por objetivo mapear os repositórios institucionais brasileiros até o período de maio de
2017 a fim de retratar a situação atual e contribuir com subsídios para orientar as ações e diretrizes
nacionais e internacionais para implementação de repositórios ou sua integração em rede. O Estudo foi
baseado em um levantamento exaustivo de repositórios brasileiros por meio de fontes específicas e
pela observação direta. As análises foram baseadas nas variáveis: a) número de artigos e volume total
de itens para identificar os repositórios alinhados ao Acesso Aberto Verde; b) tipos de financiamento
recebidos além do apoio da própria instituição como indicadores de sua manutenção e permanência; c)
verificação da qualidade dos repositórios por meio do indicador gerado pela fonte The Ranking Web of
World Repositories que avalia visibilidade e impacto. Foi verificado que cerca de 54,5% dos repositórios
concentram 97,5% do total de artigos dentre os 101 repositórios identificados no país. Um terço dos
repositórios receberam financiamento direto ou indireto do governo brasileiro e representam 20% do
total de artigos depositados. O total de 45,5% dos repositórios foram qualificados no The Ranking Web
of World Repositories. Apesar dos dados apontarem para a concentração de repositórios com artigos
científicos cumprindo o estabelecido para a estratégia do Acesso Aberto Verde foram observadas
dificuldades em relação ao apoio institucional e qualidade (visibilidade e impacto). O estudo
recomenda que o governo brasileiro estabeleça diretrizes nacionais e políticas específicas para
fomentar as boas práticas em repositórios no país com o objetivo de fortalecer o desenvolvimento do
Acesso Aberto Verde.
Palavras-chave: Acesso Aberto Verde. Repositórios Instituicionais.
Abstract
This study aims to map Brazilian institutional repositories to build a profile of Green Open Access in
the country until the period of May 2017 in order to portray the curre nt situation and contribute with
subsidies to guide national and inte rnational actions for the implementati on of repositories or their
integration in a network. This study is based on a comprehensive survey of Brazilian repositories
through specific sources and direct observation. Analysis was based on the following variab les: a) the
number of articles and total volume of items to identify the repositorie s aligned with Green Open
Access; b) whether the repository received funding from sources outside the institution as an indicator
of its capacity for maintenance and resilience; and c) verification of the repository’s quality, as
indicated by its inclusion in The Ranking Web of World Repositories. It was found that 97.50% of the
total articles are concentrated in only 54.50% of the 101 repositories identified in the country. One
third of the repositories receive direct or indirect funding from the Brazilian government and represent
20% of the total of articles deposited . A total of 45.5% of the repositories were listed in The Ranking
Web of World Repositories.Although the d ata indicate a concentration of repositories co mplying with
Green Open Access, difficulties were observed in relation to institutional support and quality (visibility
and impact). The study reco mmends that the Brazilian government establi sh national guidelines and
specific policies to promote good practices in repositories in the co untry with the objective of
strengthening the development of Green Open Access.
Keywords: Green Open Acess. Institutional Repositories.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
ARTIGO
Recebido em:
11/09/2018
Aceito em:
22/11/2018
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1 INTRODUÇÃO
A grande campanha mundial pelo Acesso Aberto à produção científica enunciada
pela Budapest Open Access Initiative (2002) completou apenas dezesseis anos, mas já é
possível verificar e desfrutar de seus benefícios em escala global. Mesmo sem ter cumprido
as suas promessas e potencialidades com os patamares sonhados de 100% de acesso livre à
produção científica sem qualquer barreira legal, técnica ou financeira, hoje, em qualquer
parte do mundo, qualquer pessoa pode acessar por meio da internet à uma parcela dessa
produção em texto completo estimado por Ha rnad em cerca de 25%.
Além das mudanças e inovações no sistema de comunicação e produção científica a
infra-estrutura estabelecida pelo Acesso Aberto viabilizou também as novas práticas
científicas mais colaborativas tanto em relação à pesquisa quanto à produção científica,
propriamente dita, fortalecendo as bases do surgimento do movimento pela Ciência Aberta
um termo guarda-chuva que engloba diferentes tipos de prá ticas e abordagenscientíficas
estabelecidas em rede, transparentes e responsáveis baseadas fortemente na cultura digital e
no pressuposto de que o conhecimento científico é um bem público (ALBAGLI, 2015, p. 2 ;
PORTUGAL, c2016).
A instituicionalização do Acesso Aberto no mundo se deu basicamente por meio de
duas estratégias estabelecidas pela Declaração de Budapeste (BUDAPEST OPEN ACESS
INITICATIVE, 2002) assim denominadas nos últimos anos: a) Acesso Aberto Dourado:
baseado nos esforços da comunidade científica para produzir uma nova geração sustentada
de periódicos eletrô nicos sem cobrança de assinaturas ou taxas; b) Acesso Aberto Verde
baseado no depósito do texto do artigo submetido a um periódico em um repositório
institucional pelo próprio autorseja a primeira versão seja a versão final já com a revisão
pelos pares conforme as o rientações da política editorial da revista a que o autor submeteu
o artigo.
Apesar dos revezes que afetaram o avanço do Acesso Aberto, especialmente em
relação à monetarização do Acesso Aberto Dourado pelos g randes oligopólios representados
pelas editoras comerciais que publicam periódicos de grande fator de impacto e cobram
taxas de processamento de artigos (APCs article processing charges), iniciativas de vários
setores da comunidade científica desde pesquisadores a instituições de ensino superior e
pesquisa somam esforços para a manutenção dos ideais estabelecidos na Declaração de
Budapeste (BUDAPEST OPEN ACESS INITICATIVE, 2002), principalmente. O surgimento do
COAR é um grande ex emplo da vitalidade do Acesso Aberto Verde e suas ações visam
alcançar uma nova geração de repositórios. Redes de repositórios vem sendo fortalecidas
tais como RCAAP em Portugal, La Referencia na América Latina dentre outras iniciati vas
locais e nacionais que visam agregar esforços para alcançar a tão sonhada meta de 100% de
acesso aberto.
Algumas fontes surgiram logo no início do chamado Movimento do Ac esso Aberto
especialmente para monitorar o desenvolvimento dos repositórios ao redor do mundo tal
como por exemplo a fonte Directory of Open Access Repo sitories (OpenDOAR) que contém em
sua base mais de 3.300 repositórios segundo dados de maio de 2017 um dos maiores
diretórios de repositórios do mundo.
No entanto, essas fontes são dependentes do cadastramento voluntário pelo gestor
do repositório. Cada diretório contém suas regras, requisitos e critérios próprios para que o
repositório seja incluído e permitindo que seus dados at ualizados frequentemente de forma
automática, especialmente em relação ao conteúdo dos repositórios cuja tendência é
aumentar em termos de itens colecionados. Assim, em função da necessidade de
cadastramento para fazer parte do monitoramento automático, é possível que uma parcela
de repositórios existentes não esteja listada nos Diretórios. Outros problemas agravam a
situação. Em consultas simples nesses dir etórios percebe-se que alguns repositórios lis tados
não existem mais ou seus dados não estão atualizados talvez por problemas técnicos
relativos ao protocolo de intercâmbio de metadados, entre outros problemas. Há também
dados duplicados (dupla entrada), links quebrados, entre outros problemas afetando a
missão desses diretórios em retratar de forma mais exaustiva possível o panorama dos
repositórios no mundo.
Considerando esses fatores o presente estudo tem por objetivo mapear os
repositórios institucionais brasileiros até o período de maio de 2017 a fim de retratar a
situação atual em relação ao seu potencial de cumprir ao que foi estabelecido pela estratégia

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