Missão no olho do furacão

AutorErnani Buchmann
CargoAdvogado
Páginas256-257
ALÉM DO DIREITO
256 REVISTA BONIJURIS I ANO 31 I EDIÇÃO 656 I FEV/MAR 2019
Marion Bach ADVOGADA
A APREENSÃO DA (NOVA) PROFESSORA!
Dezoito horas eu já estava
lá. Não queria arriscar perder
a vaga do estacionamento – es-
tava de carro novo, recém-com-
prado de um amigo. Apreensiva,
entrei em sala de aula e cum-
primentei todos os alunos, far-
dados. Estavam armados – no
sentido literal, mas também no
sentido figurado. Não sei se por
uma advogada criminal estar
dando aula a policiais militares.
Ou se por ser uma mulher. Ou
por ser loirinha. Com cara de
criança. E acima do peso.
Logo nos primeiros minu-
tos, porém, discutindo a teoria
do delito, nos desarmamos.
E assim passaram os dias.
Segunda-feira. Terça-feira.
Quarta-feira. Quinta-feira. E
chegou o último dia do curso.
Agradeci a presença de todos
e questionei se alguém tinha
alguma dúvida, antes da des-
CoMEÇo DE CARREiRA
como professora de direito
penal. Vinte e poucos anos.
Loirinha. Rosto de criança. O
excesso de peso não ajudava
a parecer mais velha. Só a pa-
recer acima do peso, mesmo.
Coloquei um salto alto – no
sentido literal, não figurado –
e aceitei o convite: ministrar
um curso sobre direito crimi-
nal para policiais militares,
durante uma semana, nas ins-
talações do Departamento de
Trânsito (Detran).
Professora, serão quinze
alunos. Todos policiais milita-
res. E homens. Nessa turma,
não há nenhuma mulher. A
senhora pode chegar antes das
dezenove horas e parar o seu
carro no próprio estaciona-
mento do Detran. Há quadro
negro e giz na sala de aula, caso
a senhora precise.
pedida. Um policial levantou
a mão.
– Tenho uma dúvida, profes-
sora.
– Pois não?
– A senhora está com os do-
cumentos do seu veículo? Gos-
taria de vê-los.
Procurei na bolsa e encon-
trei. Logo ali, ao lado do batom
e do que restou da minha au-
toridade enquanto professora.
Apresentei ao aluno-policial.
– Há um problema. Por pra-
xe, levantamos a situação dos
carros que entram no estacio-
namento do Detran. Consta-
tamos, pela sua placa, que a
senhora está com o IPVA atra-
sado. Infelizmente, teremos de
apreender o veículo.
Sim. O meu amigo – aquele
que me vendeu carro pouco
tempo antes – não havia pago a
última parcela do imposto. Eu
sequer sabia. Meu carro, então,
permaneceu exatamente onde
estava: estacionado na primei-
ra vaga do pátio do Detran. E
foi assim que, no meu primeiro
curso de direito penal para po-
liciais militares, entrei apreen-
siva e saí apreendida. n
Ernani Buchmann ADVOGADO
MISSÃO NO OLHO DO FURACÃO
EM UMA TARDE de sexta-feira
dos anos 80, um conhecido ad-
vogado trabalhista curitibano
recebeu em seu escritório um
homem que se apresentou
como garçom. Havia sido demi-
tido da espelunca em que tra-
balhava, uma boate da rua Cruz
Machado – ponto tempestuoso
da noite curitibana – sem rece-
ber nada do que tinha direito.
Também nada sabia sobre seu
empregador, além do prenome
do gerente (“Um tal de João”) e
do nome do Lugar (“Bar Chic”).
O advogado disse que daria
um jeito. Chamou um jovem
colega contratado havia pou-
cos dias, deu-lhe uma nota de
R$ 100,00 e o orientou para
que, naquela noite, fosse ao
bar citado, pedisse uma bebida
qualquer e trouxesse a respec-
tiva nota fiscal. “E pode guar-
dar o troco”, determinou.
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