Monetary and macroprudential policies and banks: empirical evidences from panel-VAR/ Politica monetaria, macroprudencial e bancos: evidencias empiricas usando VAR em painel.

AutorVinhado, Fernando da Silva
CargoTexto en portugues - Vetor Autorregressivo - Ensayo
  1. Introducao

    Bancos sao instituicoes complexas, compreendidas tanto como intermediarios financeiros como criadores de meios de pagamento que irrigam de liquidez a economia. Dessa forma, sao percebidos como instituicoes com comportamento decisivo capaz de influenciar o nivel de gastos dos agentes e, consequentemente, as variaveis reais da economia.

    Ainda sob o aspecto macroeconomico, a moderna teoria monetaria enfatiza o papel da taxa basica de juros como o principal instrumento de politica monetaria, sendo que uma parcela da transmissao dessa politica ao setor real da economia ocorre via canal do credito bancario. Dessa forma, os bancos assumem uma posicao central para essa dinamica, uma vez que sao instituicoes ofertantes do maior volume de credito na economia, tanto aos individuos quanto as firmas. Taylor (1995) foi o pioneiro a identificar o uso da taxa de juros como o principal instrumento da politica monetaria.

    Adicionalmente, conforme aponta Galati & Moessner (2011), tem-se o papel da autoridade regulatoria que busca evitar riscos sistemicos e custos de uma crise, bem como controlar expansoes excessivas mediante intervencoes para manutencao da estabilidade da oferta de credito, suavizacao de ciclos e contencao de bolhas especulativas. Tal papel, especialmente apos a crise americana do subprime, vem sendo realizado por meio do desenvolvimento de um arcabouco regulatorio denominado politica macroprudencial. O uso de requerimentos de reservas sobre depositos bancarios, como destaca Tovar et al. (2012), assim como as acoes de Basileia, especialmente via definicao de niveis minimos de capital, sao os principais exemplos de politica macroprudencial atualmente em uso no Brasil.

    Cecchetti & Kohler (2012) destacam o grau de relacionamento entre as politicas monetaria e macroprudencial, ressaltando que elas nao devem ser vistas isoladamente devido a elementos comuns que afetam o canal bancario por meio da concessao de credito. Ha uma complementariedade entre medidas monetarias e macroprudenciais, cujos efeitos sobre o lado real da economia devem ser tomados conjuntamente considerando o canal do credito como um dos mecanismos de transmissao.

    Nesse contexto, em que nao se pode negar a influencia dessas decisoes monetarias e regulatorias no cotidiano das instituicoes financeiras, ressalta-se que os bancos, sob uma perspectiva microeconomica, exercem suas atividades empresariais como firmas que buscam a otimizacao racional dos seus lucros. A gestao e o desempenho microeconomico dos bancos, que envolvem basicamente perspectivas de liquidez, solvencia, exposicao a riscos e geracao de resultados, sao fortemente influenciados pelas orientacoes das politicas monetaria e macroprudencial.

    Hirtle & Lopes (1999) consideram que as principais metricas para expressar o desempenho microeconomico dos bancos estao contidas na metodologia CAMELS, utilizada na definicao de ratings entre instituicoes financeiras por orgaos de supervisao bancaria. Essa sigla deriva dos aspectos definidos como chave no desempenho dos bancos, quais sejam: Capital adequacy (C), Asset quality (A), Management (M), Earnings (E), Liquidity (L) e Sensitivity to market risk (S).

    Diante da intensiva utilizacao, relevancia e impacto das medidas de politicas monetarias e macroprudenciais sobre a atividade bancaria, temse como problema de pesquisa saber como e em que intensidade choques exogenos nessas politicas sao transmitidos para o setor bancario da economia. Logo, o objetivo central do presente artigo e explorar as relacoes empiricas entre as politicas monetaria e macroprudencial e o segmento bancario do sistema financeiro da economia brasileira.

    A investigacao e conduzida por meio da aplicacao de um Vetor Autorregressivo a dados organizados em painel (PanelVAR) para 56 instituicoes que atuaram no mercado bancario brasileiro entre 2001 e 2013. Espera-se que a estrutura em cross-section do segmento bancario revele inter-relacoes entre aspectos sistemicos das politicas monetaria e macroprudencial e o comportamento individual dos bancos.

    Os principais resultados sugerem que as elevacoes na taxa basica de juros e no requerimento compulsorio ampliam o nivel de exposicao dos bancos a riscos financeiros, na adequacao do capital e na estabilidade financeira, provocando efeitos conflitantes para o Banco Central em termos de busca por estabilidade monetaria ou estabilidade financeira.

    Foram, tambem, encontradas evidencias de complementaridade entre as politicas monetaria e macroprudencial, com o uso do requerimento de reservas compulsorias como instrumento de controle do nivel de precos. Esse resultado esta de acordo com as evidencias obtidas por Kornelius e Divino (2011) acerca da combinacao adequada entre a regra de juros e a politica de requerimento de compulsorio para o controle da inflacao.

    O historico de pratica de preferencia por liquidez em contexto de maior risco, tracos de competitividade no mercado bancario brasileiro e indicios que sugerem como a formacao de niveis minimos de capital favorecem a estabilidade e solidez do sistema financeiro tambem foram observados na evidencia empirica.

    Esses resultados contribuem com a literatura ao ampliar a compreensao sobre o funcionamento do mercado financeiro brasileiro, oferecendo subsidios para orientar tanto a gestao nas organizacoes bancarias como a regulacao do ambiente financeiro.

    O restante do artigo esta organizado conforme se segue. Na secao 2 e apresentada literatura relacionada. A secao 3 discute a metodologia empirica, abordando tanto a formulacao empirica propriamente dita como a modelagem econometrica utilizada. Na secao 4 sao descritos os dados e apresentados e analisados os resultados obtidos. Por fim, a secao 5 e dedicada as observacoes conclusivas.

  2. Revisao da literatura

    Um arcabouco teorico e empirico relacionado a discussao proposta neste trabalho e apresentado, comecando pela discussao sobre a transmissao das politicas monetaria e macroprudencial e seus efeitos sobre a atividade bancaria. Na sequencia, procura-se elucidar como as politicas estao associadas entre si.

    2.1. Transmissao da politica monetaria para a atividade bancaria

    Os tradicionais mecanismos de transmissao da politica monetaria, segundo Mishkin (1996) e Taylor (1995), envolvem, entre outros, o canal dos juros e do credito, com efeitos diretos sobre os volumes de depositos e a concessao de credito pelas instituicoes financeiras.

    Ramos-Tallada (2015) ao discutir a transmissao da politica monetaria pelo credito, ressalta a sensibilidade da politica, usualmente avaliada por elevacoes na taxa de juros, em relacao a caracteristicas bancarias que envolvem incerteza, riscos e liquidez. Ilustra, dessa forma, a interacao e tambem potenciais efeitos da politica monetaria sobre diferentes elementos da atividade bancaria.

    O autor enfatiza essa condicao, destacando que a literatura empirica aborda variaveis relacionadas a estrutura financeira dos bancos, como liquidez e indice de capitalizacao, e concluindo que os bancos enfrentam riscos a partir de choques monetarios. Isso contrapoe as evidencias empiricas de Distinguin et al. (2013) que, ao estudar a relacao entre a liquidez e o capital dos bancos na Europa e Estados Unidos, nao encontram indicios que a politica monetaria via taxas de juros exerce influencia relevante para explicar a liquidez bancaria.

    Nesse contexto, Chmielewski (2005) argumenta que o grau de aversao a riscos dos bancos e o impacto das taxas de juros sobre o risco de default tambem estreitam o canal de politica monetaria. Complementarmente, Altunbas et al. (2010) consideram que quanto maior o grau de exposicao do banco ao risco de credito, menor e a restricao da oferta de credito do banco frente a um choque na politica monetaria.

    Agur & Demertzis (2012) dao enfase tambem a potenciais efeitos da transmissao da politica monetaria sobre os riscos, argumentando que o aumento nos juros provoca efeito no custo de captacao dos bancos, exigencia de um maior premio de risco por parte dos debt holders, aumento dos custos passivos e potenciais reflexos sobre a exposicao e volatilidade na composicao dos ativos. Defendem que esse efeito encadeia menor rentabilidade e maior ineficiencia a atividade bancaria.

    Para Delis & Karavias (2015), existe um nivel otimo de risco de credito que maximiza o lucro dos bancos, sendo que politicas monetarias expansionistas ou contracionistas, em periodos de estabilidade, distanciam o nivel de assuncao de riscos de credito das instituicoes do ponto otimo que potencializa a geracao de lucros.

    Sob uma perspectiva de risco de mercado, Kerstein & Kozberg (2013) destacam que, dada a configuracao dos ativos e passivos dos bancos, tanto em termos de periodo de vencimento quanto de natureza das taxas contratadas, alteracoes na taxa de juros provocam distorcoes momentaneas com pressoes sobre os spreads e lucros dos bancos.

    Van den Heuvel (2006) dispensa atencao ao fato de que o aumento na taxa de juros de curto prazo corroi os recursos proprios dos bancos, haja vista os desequilibrios existentes no balanco das instituicoes. Para o autor, esse efeito encoraja os bancos a reduzirem sua oferta de credito como forma menos onerosa comparativamente a aumentos de capital, dada a necessidade de manutencao de limites regulatorios.

    O efeito da politica monetaria sobre o capital bancario tambem e abordado por Tabak et al. (2011), que relacionam os efeitos de uma politica monetaria restritiva com excesso de capital nos bancos e formacao de buffers. Argumentam que aumentos nos juros afetam negativamente a oferta de credito, com consequente reducao na exigencia de capital regulatorio.

    Lambert & Ueda (2014) discutem o efeito de uma politica monetaria nao convencional sobre os bancos e destacam que, nesse contexto, pode existir um efeito positivo sobre o custo de captacao quando as taxas estao proximas de zero, afetando a rentabilidade dos bancos. Entretanto, pode surgir uma estrutura achatada na rentabilidade das...

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