Amor e moralidade: um estudo com participantes de 5 a 70 anos

AutorAriadne Dettmann Alves - Heloisa Moulin de Alencar - Antonio Carlos Ortega
CargoMestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES - Professora do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES - Professor Colaborador e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES
Páginas363-380
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 44, Número 2, p. 363-380, Outubro de 2010
__________________________________________________
* Love and morality: a study with participants from 5 to 70 years old
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES. Endereço para correspondências:
Av. São Paulo, 1270, apto 1002, Praia da Costa, Vila Velha, ES, 29101-300 (alves.ariadne@gmail.com).
Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro concedido.
2 Professora do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-
Graduação em Psicologia da UFES.
3 Professor Colaborador e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.
Amor e moralidade: um estudo com participantes
de 5 a 70 anos*
Ariadne Dettmann Alves1
Heloisa Moulin de Alencar2
Antonio Carlos Ortega3
Universidade Federal do Espirito Santo
Refletindo sobre importância das
virtudes no estudo da moralidade, obje-
tivamos investigar os juízos dos partici-
pantes no que diz respeito a concepção
do amor. Entrevistamos sete pessoas,
com idades que compreende desde a
infância até a velhice. Pesquisamos o
que cada um considerava como exem-
plo de amor, e destes qual seria o mais e
o menos importante. Constatamos que
os participantes mais novos destacam
um amor direcionado a outrem, sem de-
finir quem seria esse outro. Entretanto,
os mais velhos citam mais família e ami-
gos. As justificativas para a escolha dos
exemplos de amor ressaltam a expe-
riência pessoal ou exemplos de outras
pessoas. Apesar de o exemplo escolhi-
do como mais importante remeter a um
amor a Deus ou a uma preocupação
com o outro, essa escolha relaciona-se
às conseqüências que este traria à pró-
pria pessoa. Nesse trabalho explorató-
rio, procuramos destacar a amplitude e
importância do estudo desse tema no
campo da moralidade.
Reflecting on the importance of
virtues in the study of morality, we aim
to investigate the participants’ judg-
ments regarding the concept of love.
We interviewed seven people, with
ages comprising from childhood to el-
derly. We researched what each one
regarded as an example of love, and
of those, which would be the most and
least important. We found that youn-
ger participants highlighted a love di-
rected to others, without defining who
this other would be. However, the ol-
der ones cite more family and frien-
ds. The justifications for the choice
of the examples of love emphasize
personal experience or examples of
other people. Although the example
chosen as most important refers to a
love of God or a concern with ano-
ther, this choice relates to the conse-
quences that this would bring to one-
self. In this exploratory work, we look
to highlight the extent and importan-
ce of studying this subject in the field
of morality.
364
UMANAS
Revista de Ciências
H
Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Volume 44, Número 2, p. 363-380, Outubro de 2010
Introdução
Piaget (1932/1994) dedicou um livro ao tema do desenvolvimento moral,
intitulado O juízo moral na criança. Essa obra serviu de referência para
estudiosos da psicologia da moralidade. Como afirma La Taille (1994) no pre-
fácio desse livro, por meio da moralidade infantil, o objetivo de Piaget é pensar
a moralidade humana. A partir de situações de jogos e histórias envolvendo
conteúdos morais, Piaget (1932/1994) formulou a hipótese de que o sujeito
passa de uma fase de anomia (pré-moral) a uma fase de heteronomia, podendo
chegar à fase de autonomia, se as interações com o meio forem favoráveis.
Até os quatro anos de idade, aproximadamente, a criança ainda não pe-
netrou no mundo da moral, estando na fase da anomia (PIAGET, 1932/1994).
A criança é inserida em um universo de regras sociais, mas essas regras não
são ainda associadas a valores como o bem e o mal, o certo e o errado.
A entrada na moral ocorre quando a criança começa a conceber, por volta dos
quatro anos, que há ações que devem ou não devem ser realizadas, se referin-
do à idéia de que as regras apontam para ações que são boas ou más, certas ou
erradas. Neste momento, a criança encontra-se na fase da heteronomia.
Nessa fase, a criança respeita as regras impostas pelos adultos por medo
e amor. Medo de perder o amor e proteção dos pais e medo das punições, e
pelo amor, devido ao apego e admiração que a criança tem pelos pais, ou pelas
pessoas para ela significativas. Aqui há menção do amor, mas o que sobressai
é o medo. Assim, obedecer às regras seria determinado “pelo amor” do outro
ou “pelo medo de perder o amor”. Existe, portanto, uma relação de coação,
predominando o respeito unilateral. A criança tende a interpretar as regras ao
pé da letra, não as compreende, e as considera imutáveis. Privilegia as conse-
qüências da ação, não levando em conta a intenção que a motivou (PIAGET,
1932/1994).
Por volta dos oito, nove anos, a criança pode começar a apresentar indí-
cios de autonomia. As relações de coação são substituídas pelas relações de
cooperação, agindo por princípios de reciprocidade e igualdade entre os parceiros.
Há o predomínio do respeito mútuo. Nessa fase, a criança passa a compreen-
der e interpretar as regras. Torna-se capaz de fazer suas avaliações morais,
passando a julgar a partir de seus princípios. A intencionalidade passa a ser o
critério para o juízo moral (PIAGET, 1932/1994).
Além de relacionar o amor à moral heterônoma, Piaget (1932/1994) faz
menção a algumas virtudes como o “perdão”, a “generosidade” e o “amor
Palavras-chave: Desenvolvimento
moral – Juízo moral – Virtude – Amor Keywords: Moral development –
Moral judgment – Virtue – Love

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT