A morte e o morrer em Pierre Bourdieu

AutorTanise Zago Thomasi - Lara Costa Barroso Andrade de Oliveira
CargoDoutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (2017). Mestre em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (2009). Professora adjunta na Universidade Federal de Sergipe e Universidade Tiradentes. Professora do Programa de Pós Graduação em Direito Stricto Sensu da Universidade Tiradentes. Avaliadora do sistema BASis (Portaria 430 de 2...
Páginas129-146
A MORTE E O MORRER EM PIERRE BOURDIEU
DEATH AND DYING IN PIERRE BOURDIEU
Tanise Zago Thomasi
1
Lara Costa Barr oso Andrade de Oliveira 2
RESUMO
O presente estudo analisa e discute a morte e o morrer na atualidade. Para tanto aborda conceitos
trabalhados por Pierre Bourdieu para caracterizar o poder simbólico dentro do campo da saúde e a
formação do seu ha bitus. Essas práticas, e, particularmente a finitude humana, ainda são consideradas
um mito, diante das diferentes liturgias, uma vez que a própria religião é considerada uma estrutura. A
ideia é estabelecer um estudo comparativo de como estas foram, são e serão empregadas no cenário
nacional, pois a forma de agir constitui o “habitus” e fundamenta bases científicas para a melhoria da
qualidade de vida da população brasileira. Aspectos jurídicos são enaltecidos diante da existência de
julgamentos, envolvendo início e fim da vida humana, como o caso das células-tronco, aborto dos
encéfalos, conclamando à reflexão sobre a espiritualidade e, consequentemente, sua cientificidade.
Palavras-chave: Morte. Religião. Cultura. Doença. Habitus”.
ABSTRACT
The present study analyzes and discusses death and dying today. For that covers concepts used by Pierre
Bourdieu to characterize the symbolic power within the health field and the formation of their habitus.
These practices, and particularly human finitude, are still considered a myth, given the different liturgies,
since their religion is considered a structure. The idea is to establish a comparative study of how these
were, are and will be employed on the national scene, as the course of action is the "habitus" and founded
scientific basis for the improvement of the Brazilian population's quality of life. Legal aspects are exalted
before the existence of judgments involving beginning and end of human life, as in the case of stem
cells, abortion of brains, calling for reflection on spirituality and therefore of its scientific.
Keywords: Death. Religion. Culture. Disease. "Habitus".
1 INTRODUÇÃO
O domínio do conhecimento, que até bem pouco tempo era considerado obra do
destino, transformou o mundo. A tão sonhada fonte de juventude, ou seja, a imortalidade
humana, parece estar bem próxima da nossa realidade, sendo, ainda, um mito a ser desvendado.
Descobertas diárias avançam e revelam o porquê de tudo, aumentando a expectativa de vida.Ou
1 Doutora em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (2017). Mestre em Direito pela Universidade de Caxias
do Sul (2009) . Professora adjunta na Universidade Federal de Sergipe e Uni versidade Tiradentes. Professora do
Programa de Pós Graduação em Direito Stricto Sensu da Universidade Tiradentes. Avaliadora do sistema B ASis
(Portaria 430 de 29 de maio de 2018 MEC/INEP).
2 Graduanda em Direito pela Universidade Tiradentes em Sergipe.
300 | A Morte e o Morrer em Pierre Bourdieu
Revista Direitos Fundamentais e Alteridade, Salvador, V. II, Nº 02, p. 299 a 316, jul-dez, 2018 | ISSN 2595-0614
seja, doenças terríveis, como neoplasias, epidemias e, naquelas onde ainda não é possível o
restabelecimento, constata-se o avanço através de tratamentos inovadores, que, apesar de não
recuperarem totalmente o estado de bem-estar, tentam, ao máximo, minimizar seus efeitos,
proporcionando um alívio quase que completo, além de disponibilizar esperança aos pacientes
até então desacreditados.
E, ao considerar que alguns conceitos, então fechados, como o começo e o término da
vida, precisam ser revistos, discutidos e analisados diante do adiantamento científico,
percebemos a celeuma na compreensão e interpretação religiosa
3 estrutura estruturada que
reúne toda a espiritualidade inerente ao homem, caracterizando a polêmica que existe em torno
do processo de adoecimento ou perecimento mundano. Além disso, atrelado ao assunto está à
fé particular de cada indivíduo, que condigno ao nosso fundamento do estado democrático de
direito deve ser respeitado, estabelecendo limitações morais e jurídicas, em contrapartida à
forma absoluta do jurídico em relação ao social.
Nota-se, então, as perspectivas históricas do processo de morte e, de forma sintética, a
necessidade de discussão sobre o simbolismo de cada religião como propõe Pierre Bourdieu
(1930-2002), ao discutir o conceito de poder simbólico, pois a devoção espiritual e seus rituais
influenciam diretamente as tomadas de decisões individuais, enquanto manifestação do habitus,
podendo ser objeto de pesquisa, no sentido de entender o porquê do campo religioso ser uma
construção científica, além de estar caracterizado o chamado jogo de poder, entre o direito e a
teologia.
Além de Pierre Bourdieu (2002), Hespanha (2005), Berman (1983) e Norberto Elias
(2001) foram utilizados como referenciais teóricos, no intuito de consubstanciar a discussão
sobre a morte e o morrer, confirmando a necessidade de haver mais estudos sobre o tema, ainda
mistificado, além de comprovar a existência do poder simbólico sobre a vida.
2 PERSPECTIVAS SOBRE PRÁTICAS ESPIRITUAIS RELACIONADAS À SAÚDE,
À VIDA E O VIVER
Ao abordar a temática da morte e, ao considerá-la através da noção de habitus, este
deve ser compreendido como
[...] um sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas
as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de
percepções, de aprecia ções e de ações e torna possível a realização de
3 De acordo com o último censo demográfico brasileiro, apenas 7,26% dos entrevistados declararam-se como “sem
religião” (GOLDIN, 2007, p.12)

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