O 'Movimento' LGBT de Santa Catarina: polêmicas e questões

AutorWagner X. Camargo
CargoDoutorando do PPGICH da UFSC
Páginas79-95
79
O ‘movimento’ LGBT de Santa Catarina: polêmicas e questões
The LGBT ‘community’ of Santa Catarina: polemics and questions
Wagner Xavier Camargo13
RESUMO
Partindo de uma polêmica levantada por um grupo de delegados de santa catarina
sobre sua ida ou não à conferência nacional LGBT de Brasília devido à falta de
verba e apoio das esferas governamentais, este ensaio discute o estabelecimento
de uma sociedade de ressentidos, que clama por reconhecimento. A liberdade em
se manifestarem, e mesmo a autonomia com que o faziam, trouxeram à tona uma
preocupação cara a todos nós: o que daria suporte à vida e à subjetividade desses
indivíduos? O que está em oposição? Há reais lutas de resistência? Viveríamos
nas eternas e lineares oposições binomiais: governantes versus governados? O
artigo conclui que para além de santa catarina e de seu movimento LGBT
incipiente e mal organizado, que nem estava preparado discursivamente para uma
representatividade política maior, há que se pensar na arquitetura de uma
reivindicação de direitos LGBT, que contemplem a diversidade sexual e de
gêneros em todo o território nacional.
Palavras-chave: Movimento LGBT. Políticas de reconhecimento. Estudos de
gênero.
ABSTRACT
Based on a polemic round the trip of some representatives from Santa Catarina to
Brasília in sense to participate at the National Conference of LGBT community, this
essay discusses the establishment of a reclaimed society, whose claims for
recognition. The spoken freedom and the behaved autonomy bring us some
concerns to be considered: what do give support to the live and the subjectivity of
these individuals? What is in opposition? Are there real fights for resistance? Or do
we live in eternal binomial oppositions? This article concludes that beyond Santa
Catarina LGBT community and their incipient actions in the local landscape (which
wasn’t prepared for a wide discursive representation), it is essential to consider a
very well structured discourse about LGBT Rights, which one could give the real
attention to the sexual and gender diversities all over the country.
Key Words: LGBT Community. Policies of Recognition. Gender studies.
13 Doutorando do PPGICH da UFSC.
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1 SITUANDO A PROBLEMÁTICA
Este artigo14 inicia-se trazendo um acontecimento emblemático, ocorrido
em maio de 2008, e transformado em polêmica por representantes de movimentos
sociais de Santa Catarina em Fórum de discussão on-line. As mensagens eram
trocadas principalmente entre os delegados eleitos que se deslocariam a Brasília,
a fim de participarem da I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais,
Travestis e Transexuais (GLBT)15, proposta pelo Governo federal.
Tal ação do governo brasileiro relacionada à organização da dita
Conferência responde a uma tendência mundial de descentralização de soberania,
nos atuais moldes da globalização. Atualmente cada vez mais temos novas e
diferenciadas oportunidades operativas para a participação política de atores e
sujeitos distintos do Estado, como é o caso da população plural representada pelo
segmento LGBT.
Segundo a versão oficial do governo sobre a Conferência LGBT, nas
palavras de Paulo Vannuchi16 (2008, p.01)
[tal iniciativa] representa um marco histórico na luta pela Cidadania e
Direitos Humanos da população GLBT, tendo a grande responsabilidade
de discutir e propor, de forma coordenada e com a garantia de
participação popular, as políticas que nortearão as ações dos Poderes
Públicos.
A tentativa de diálogo e de propor ações representa um “marco histórico” e
um ineditismo em relação a esse agrupamento, mas não em direção a outras
minorias ou outros setores sociais (como, por exemplo, grupos de mulheres, de
índios ou mesmo de negros), como uma política de reconhecimento e de
redistribuição, em termos de Paulo Krishcke (2003). Essa tem sido, diga-se de
passagem, uma marca registrada amplamente aplicada pelas gestões Lula
dentro de um espectro de super-valorização de políticas públicas a inúmeros
segmentos sociais.
É importante frisar que não é o objetivo deste ensaio analisar a proposta do
governo, ou mesmo argumentar pró ou contra o corpus jurídico de enunciações
14 LGBT faz referência a “lésbicas, gay, bissexuais e transgêneros”
15 Importante frisar que a própria sigla GLBT muda para LGBT como uma das sugestões finais da
Conferência, isso com o propósito de clamar por um aumento de participação política de grupos lésbicos. Este
artigo não discutirá o emprego lingüístico, apenas adotará a sigla como foi convencionado seu uso.
16 Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

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