Movimento de Mulheres e Ativismo-uma vida de luta: Entrevista com Ivanete Silva.

AutorMedeiros, Luciene
CargoENTREVISTA

Entrevista realizada por escrito, via e-mail, em maio de 2020.

Ivanete Silva é uma mulher negra, professora da rede pública, feminista e LGBT. Integrante do Fórum de Mulheres de Duque de Caxias e da Baixada e do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE). É militante do Movimento Negro Unificado (MNU) e integrou o Conselho Municipal de Direitos da Mulher, em Duque de Caxias. Começou a trabalhar ainda adolescente e sua militância iniciou-se nos Movimentos de base da Igreja Católica. Foi candidata a vice-governadora na chapa do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) com o candidato Tarcísio Motta e sua candidatura constituiu-se em um marco para os movimentos organizados de seu município.

Em Pauta: Fale-nos um pouco sobre sua história de vida, militância e como se deu sua participação no Fórum Municipal dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias (FMDM/DC)?

Ivanete Silva: Minha primeira experiência de formação política se deu nos bancos da igreja católica. Durante minha adolescência fiz parte dos grupos de catequese e formação de lideranças, na década de 1980, período em que o Movimento das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs) desempenhou um importante papel na organização do povo, onde o evangelho era estudado e contextualizado com nossa realidade local, com isso participei ainda aos 15/16 anos da organização do processo eleitoral da Associação de Moradores do meu bairro. Como muitos jovens pobres, ao terminar o Ensino Médio, onde fiz o curso de Formação de Professores, fui trabalhar e cursar a faculdade de Pedagogia à noite. Conheci outras pessoas, realidades e crenças diferentes da minha. Vivi várias outras experiências, trabalhei em uma grande indústria, formei família e me tornei mãe. Perdi meu companheiro para violência urbana em início de 2000, em 2001 passei a compor a direção do Sindicato Estadual dos Trabalhadores da Educação do Rio de Janeiro no núcleo municipal de Duque de Caxias (Se-pe-Caxias) e a partir de 2003 a direção central, em nível Estadual, ficando nestas duas instâncias até 2014. Em meados de 2012 já havia iniciado minha participação no Fórum Municipal dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias (FMDM/DC) como representante do SEPE-Caxias. Logo em seguida tornei-me conselheira no Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias. Neste ponto iniciei um outro aprendizado. Estive com muitas e diferentes mulheres que retratavam a triste realidade de muitas outras, uma realidade interseccional, marcada pelas violências sociais-a violência de gênero e a violência doméstica. Um ponto central foi a morte das mulheres. Até então minha relação como o FMDM/DC era contribuir em momentos pontuais, principalmente nas atividades do Oito de março, representando o sindicato e como mulher militante. Ao fazer parte de sua estrutura, compondo a executiva, compartilhei com outras mulheres o processo de construção da política voltada para as mulheres, transformando em articulação e ação, fosse como do Fórum ou enquanto representação dentro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Duque de Caxias, com o objetivo de não só denunciar a situação das mesmas, mas sobretudo pressionar o governo a implementar políticas públicas que melhorassem suas vidas. Estudar sobre esta temática também foi muito importante, fiz a qualificação no curso "Políticas Públicas de Enfrentamento à Violência Contra Mulher" pela PUC-Rio no Polo de Duque de Caxias. Então, entendendo melhor sobre a construção de políticas públicas e tendo uma estreita relação com as lideranças de mais tempo nesta frente, pude compartilhar momentos importantes e decisivos para o fortalecimento do movimento, articular, promover e dar visibilidade às demandas das mulheres de Duque de Caxias, e assim ter o Fórum como um segmento reconhecido na cidade, articulando outras representações do movimento social e influenciando as decisões do executivo municipal em alguns momentos.

Em Pauta: Duque de Caxias faz parte da região metropolitana do estado do Rio de Janeiro e, forma em conjunto com mais 12 municípios o território da Baixada Fluminense. Conte-nos sobre a realidade das mulheres de Caxias.

Ivanete Silva: A Baixada Fluminense tem uma geografia bem diversificada, cortada por rodovias e faz fronteira com a região Serrana, o município do Rio de Janeiro e a Baía de Guanabara. Mais de 3 milhões de habitantes vivem na área, a segunda mais populosa do...

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