Ser mulher importa? Determinantes, evidências e estimativas da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro

AutorAna Carolina Freitas Tedesco - Kênia Barreiro Souza
CargoUniversidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Brasil - Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Brasil
Páginas1-21
Artigo
Original
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-21, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71518 .
SER MULHER IMPORTA? DETERMINANTES,
EVIDENCIAS E ESTIMATIVAS DA PARTICIPAÇÃO
FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO.
Does being a woman matter? Determinants, evidences and estimates of
female participation in the Brazilian labor market.
Ana Carolina Freitas TEDESCO
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Brasil
anacarolinaftedesco@gmail.com
Kênia Barreiro SOUZA
Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, Brasil
keniadesouza@gmail.com
RESUMO
A participação feminina na oferta de trabalho é mais instável que a masculina. As mulheres são mais afetadas em períodos
de crise, pela maternidade, discriminação e têm menores chances de encontrar um emprego no setor formal. No presente
trabalho foram utilizados os microdados da PNAD entre 2001 a 2015, em um modelo probit, para verificar como
características individuais afetam a inserção no mercado de trabalho e como esses efeitos alteram-se ao longo do período
analisado. Os resultados mostram que “ser mulher” reduz significativamente a participação da mulher no mercado de
trabalho para todo o período analisado, e que essa redução é ainda maior para mulheres com filhos ou chefes de domicílio.
PALAVRAS-CHAVE: Mercado de trabalho. Mulheres. Brasil.
ABSTRACT
Female participation in labor supply is more unstable than male participation. Women are most affected in times of crisis,
by maternity, discrimination and they are less likely to find a job in the formal sector. In the present work we used the PNAD
microdata from 2001 to 2015, in a probit model, to verify how individual characteristics affect labor market insertion and
how these effects change over the analyzed period. The results show that “being a woman” significantly reduces women's
participation in the labor market for the entire period analyzed, and this reduction is even greater for women with children
or heads of household.
KEYWORDS: Labor market. Women. Brazil.
Classificação JEL: D13; J16; J22.
Recebido em: 15-02-2020. Aceito em: 01-06-2020.
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Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-21, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71518
1 INTRODUÇÃO
O mercado de trabalho feminino brasileiro apresentou transformações nos últimos
anos e a literatura aponta uma série de fatores que ajudam a compreender a participação
da mulher no mercado de trabalho. Em um contexto geral, as mulheres têm menores taxas
de participação no mercado de trabalho relativamente aos homens (SCORZAFAVE e
MENEZES-FILHO, 2001), tendem a ocupar cargos informais (BRUSCHINI e LOMBARDI,
2000) e a receber menores salários comparativamente aos homens (OLIVEIRA e
SCORZAFAVE, 2009). Um dos fatores que influenciam diretamente a participação no
mercado de trabalho é a presença e a quantidade de filhos (SOUZA et al., 2011) e, segundo
Barbosa e Costa (2017), a disponibilidade de creches nas proximidades da residência ou
do local de trabalho da mulher. Ainda, no caso das mulheres muito pobres, receber ou não
algum programa de assistência social, como o Bolsa-Família, pode ser um fator importante
na hora de ofertar trabalho (TAVARES, 2010).
A participação das mulheres no mercado de trabalho é analisada na teoria
econômica, sob a ótica da economia de gênero
1
, como uma escolha entre participar ou não
participar, condicionada a uma série de características individuais da família e do ambiente
econômico que levam a diferentes ponderações entre alternativas dentro e fora do mercado
de trabalho. Essa concepção teve início com os trabalhos da chamada “economia da
família”
2
, que mantém o princípio básico de que as decisões de participação no mercado
de trabalho têm início no contexto familiar.
Por sua vez, a corrente feminista ressalta que a formação das preferências está
intrinsicamente ligada a construções sociais, que tendem a reduzir o potencial produtivo
das mulheres e proteger privilégios masculinos no mercado de trabalho (KABEER, 2012;
2020). Nesse sentido, as próprias escolhas, ainda que analisadas como decisões racionais,
dadas as preferências individuais, carregam aspectos anteriores e dificilmente
1
Refere-se aqui a “economia de gênero” o significado defendido por Fernandéz (2018), de uma discussão
supra vertentes de pensamento econômico, isto é, estruturado como um todo pela introdução do gênero como
categoria analítica, sem distinções entre vertentes ortodoxas ou heterodoxas de se pensar a economia.
2
Segundo Becchio (2020), na década de 1960, Theodore Schultz, Gary Becker e Jacob Mincer, ao aplicarem
os princípios da economia neoclássica para entender o comportamento da economia familiar, criaram uma
nova área de pesquisa, chamada “economia da família” (Household economics). Com o desenvolvimento da
teoria e dos instrumentos empíricos, as decisões tomadas pelas famílias passaram, então, a serem
entendidas como tópicos microeconômicos. A autora afirma que essa conexão entre a economia neoclássica
e a economia da família têm uma grande influência no que, mais tarde, foi chamado de “Economia do Gênero”,
ou New Home Economics (NHE).

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