Mulheres CEO (Chief Executive Officer) e CFO (Chief Financial Officer): influência da presença feminina na qualidade dos accruals

AutorSarah Amaral Fabrício/Kátia Dalcero/Denize Demarche Minatti Ferreira/Alex Mussoi Ribeiro
CargoMestranda em Contabilidade (UFSC), Florianópolis-SC, Brasil/Doutoranda em Contabilidade (UFSC), Florianópolis-SC, Brasil/Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento (UFSC)/Doutor em Controladoria e Contabilidade (USP) Professor do Departamento de Ciências Contábeis (UFSC), Florianópolis-SC, Brasil
Páginas72-90
72
Artigo
Original
Artigo
Original
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 47, p. 72-90, abr./jun., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e76616
Mulheres CEO (
Chief Executive Officer
) e CFO (
Chief
Financial Officer
): influência da presença feminina na
qualidade dos
accruals
Women as CEO (Chief Executive Officer) and CFO (Chief F inancial Officer): influence of female
presence on the quality of accruals
Mujeres como CEO (Chief Executive Officer) y CFO (Chief Financia l Officer): influencia de la
presencia femenina en la calidad de las acumulaciones
Sarah Amaral Fabrício
Mestranda em Contabilidade (UFSC),
Florianópolis-SC, Brasil
sarahamaralfabricio@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-5078-8743
Denize Demarche Minatti Ferreira*
Doutora em Engenharia e Gestão do
Conhecimento (UFSC)
Professora do Departamento de Ciências Contábeis
(UFSC), Florianópolis-SC, Brasil
denize.minatti@ufsc.br
https://orcid.org/0000
-
0002
-
4661
-
9672
Kátia Dalcero
Doutoranda em Contabilidade (UFSC),
Florianópolis-SC, Brasil
katiadalcero13@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-2123-3343
Alex Mussoi Ribeiro
Doutor em Controladoria e Contabilidade (USP)
Professor do Departamento de Ciências Contábeis (UFSC),
Florianópolis-SC, Brasil
alex.mussoi@ufsc.br
https://orcid.org/0000-0003-3389-9713
Endereço do contato principal para correspondência*
Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade, CEP: 88040-900, Florianópolis/SC, Brasil
Resumo
A presença feminina em cargos de diretoria executiva, gerência de alto escalão e nos conselhos tem apontado
influência significativa na diminuição dos accruals discricionários das companhias. O estudo parte dos
pressupostos evidenciados nas hipóteses H1a e H1b de que empresas com CEO e/ou CFO do gênero
feminino possuem menos accruals discricionários e, assim, uma maior qualidade dos lucros. O modelo
empírico foi aplicado numa amostra de 170 empresas não financeiras listadas na B3 S/A Brasil, Bolsa,
Balcão de 2013 a 2018. Os resultados rejeitam a H1a. Já os achados não rejeitam H1b, ou seja, foi encontrada
influência significativa do CFO do gênero feminino com a diminuição da discricionariedade dos accruals que
resulta em uma melhor qualidade dos lucros. A pesquisa ainda observou o total de mulheres como CEOs e
CFOs, sendo 25 (2,68%) e 72 (7,73%), respectivamente, totalizando 97 mulheres em ambos os cargos.
Palavras-chave: Presença Feminina; CEO; CFO; Accruals; Qualidade dos Lucros
Abstract
The presence of women in the positions of executive board, senior management and councils has pointed to
a significant influence in the reduction of company discretionary accruals. The study started from the
assumptions evidenced in hypotheses H1a and H1b that companies with female CEO and/or CFO have less
discretionary accruals and so, a higher earnings quality. The empirical model was applied to a sample of 170
non-financial companies listed in B3 S/A – Brasil, Bolsa, Balcão from 2013 to 2018. The results reject H1a.
The findings do not reject H1b, that is, there was a significant influence of the female CEO with the decrease
in the discretion of accruals, which results in better earnings quality. The survey also recorded the total number
of women as CEOs and CFOs, with 25 (2.68%) and 72 (7.73%), respectively, totaling 97 women in both
positions.
Keywords: Female Presence; CEO; CFO; Accruals; Earnings Quality
Sarah Amaral Fabrício, Kátia Dalcero, Denize Demarche Min atti Ferreira, Alex Mussoi Ribeiro
73
Revista Contemporânea de Contabilidade, Florianópolis, v. 18, n. 47, p. 72-90, abr./jun., 2021.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 2175-8069. DOI : https://doi.org/10.5007/2175-8069.2021.e76616
Resumen
La presencia de mujeres en puestos de dirección, alta dirección y en los consejos ha apuntado a una influencia
significativa en la reducción de los devengos discrecionales de las empresas. El estudio parte de los
supuestos evidenciados en las hipótesis H1a y H1b de que las empresas con directora ejecutiva y / o directora
financiera mujer tienen menos devengos discrecionales y, por tanto, una mayor calidad de beneficios. El
modelo empírico se aplicó a una muestra de 170 empresas no financieras que cotizan en B3 S/A - Brasil,
Bolsa, Balcão de 2013 a 2018. Los resultados rechazan H1a. Los hallazgos no rechazan H1b, es decir, hubo
una influencia significativa de la directora financiera femenina con la disminución en la discreción de las
acumulaciones, lo que se traduce en una mejor calidad de las ganancias. La encuesta también observó el
número total de mujeres como CEO y CFO, con 25 (2,68%) y 72 (7,73%), respectivamente, para un total de
97 mujeres en ambos puestos.
Palabras clave: Presencia Feminina; CEO; CFO; Accruals; Calidad de Lucros
1 Introdução
As investigações sobre a presença feminina estão mais frequentes nos estudos das áreas da
contabilidade, especialmente no que tange as relações à tomada de decisão de investidores e
administradores. No entanto, apesar das iniciativas que estimulam o aumento da representação das mulheres
em posições de maior responsabilidade, seu progresso continua gradual e lento.
As desigualdades históricas em termos ocupacionais persistem, sobretudo se mencionar que as
mulheres constituem minoria nas ocupações de status, como, por exemplo, cargos de alta gerência e posições
executivas, como Chief Executive Officer (CEO), Chief Financial Officer (CFO), Chief Operations Officer
(COO), além dos boards de diretores (Hryniewicz & Vianna, 2018).
O censo realizado pela Catalyst (2009) apontou que em 2006 e 2007, respectivamente, o percentual
de mulheres foi de 14,8% e 14,6% nos conselhos das empresas da Fortune 500. E, em 2008 e 2009, elas
representavam 15,2% dos assentos no conselho de administração, com 90% dessas empresas tendo pelo
menos uma representante do sexo feminino em seus conselhos corporativos, enquanto 20%, mais de três
delas (Catalyst, 2009).
Em 2009, no Canadá, as mulheres ocupavam 14% dos assentos no conselho das empresas Fortune
500 e, em 41,9% das empresas não há mulheres no conselho. Esse percentual chega a 39,5% em 2011.
Além disso, em 2009, 19,3% das empresas da Fortune 500 detinham 25% ou mais de mulheres e, em 2011,
apenas 21% (Catalyst, 2019).
No que diz respeito a França, o aumento percentual de conselheiras na administração das empresas
da Cotation Assistée en Continu (CAC 40) foi de 16,5% em 2010 e 20,6% em 2011 (Natividad, 2011). Além
disso, a promulgação da Lei n° 2011-103 de 27/01/2011 que implica na representação igualitária de homens
e mulheres no conselho de administração e no conselho fiscal e igualdade profissional - incentivou as
empresas francesas a nomear mais mulheres em seus conselhos (Hili & Affes, 2012). França, Noruega e
Espanha apresentam obrigações legais para que as mulheres ocupem no mínimo 40% do quadro de diretores
do conselho de administração. Assim como na Austrália que, desde 2010 há campanhas para que empresas
tenham 30% de mulheres nos assentos dos conselhos (Fernandes et al., 2015).
O relatório da Grant Thornton (2020) aponta que nos últimos dezesseis anos houve diferença na
proporção de mulheres que ocupam cargos de liderança dentre as quase 5.000 empresas avaliadas pela
International Business Report (IBR), atingindo proporção global de 29%. Quanto aos dados referentes à
América Latina, a proporção de mulheres em cargos de liderança é de 33% maior que no mundo (Grant
Thornton, 2020) e, há ainda evidências de que a fração delas nos cargos de CEO/CFO no ano de 2020
globalmente corresponda a 20% e 30%, respectivamente.
A representatividade feminina é maior na Bélgica (33%), Finlândia (40%), Islândia (40%), Israel (50%),
Itália (33%), Québec – Canadá (50%) e Quênia (33%) que implementaram legislações impulsionadoras para
cotas de gênero no conselho de administração (Terjesen et al., 2015). Os autores afirmam que em outras
nações como Austrália, Áustria, Dinamarca, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Malawi, Malásia, Países Baixos,
Nigéria, Polônia, África do Sul, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos há códigos de boas práticas de
governança que recomendam diversidade de gênero nos conselhos (Terjesen et al., 2015).
A tendência de equidade de gênero está chegando lentamente no Brasil, o Projeto de Lei 112/2010
tramita no Senado Federal e estabelece que os conselhos de administração das empresas públicas,
sociedades de economia mista e aquelas controladas pela União apresentem um percentual mínimo de 40%
de mulheres em sua composição até 2022 (Alves, 2010). Porém, a realidade é distante desse projeto,
segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (2019) em 508 empresas listadas pela
Bovespa nos diferentes segmentos, 197 contam com pelo menos uma mulher no conselho de administração
(38,78%) e 165 (32,48%) quando se considera apenas a participação de conselheiras efetivas.
No que tange à presença de mulheres em cargos de CEO, a imprensa descreve escassez de
liderança feminina no mundo dos negócios. Em 2006, o New York Times informou que nove dos CEOs das
empresas da Fortune 500 eram mulheres, correspondendo menos de 2% do total (Bartz & Creswell, 2006).

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT