Mulheres em tempos de covid-19

AutorMaria Celina Bodin de Moraes
Ocupação do AutorDoutora em Direito Civil pela Università degli studi di Camerino, Itália
Páginas165-169
MULHERES EM TEMPOS DE COVID-19
Maria Celina Bodin de Moraes
Doutora em Direito Civil pela Università degli studi di Camerino, Itália. Professora
Titular de Direito Civil da Faculdade de Direito da UERJ e Professora Associada do
Departamento de Direito da PUC-Rio. Editora-chefe da Civilistica.com – Revista Ele-
trônica de Direito Civil. Advogada, árbitra e parecerista.
The opposite of love isn’t hate.
It isn’t even indifference.
It’s fear.
– Mary Carr
O ano de 2020 começou com a notícia de uma doença contagiosa em Wuhan, na
China. A maioria de nós, brasileiros, pensou que dif‌icilmente nos atingiria. Até que, em
março, a Itália e a Espanha, países tão próximos, apresentaram taxas de contágio acima de
qualquer expectativa. Em cerca de três meses, o mundo já se havia infectado e o número
de mortes passou a crescer exponencialmente. Não era uma situação inédita na história
da humanidade, mas a última vez tinha sido em 1918 – portanto, praticamente ninguém
havia vivenciado uma pandemia.
Cada país reagiu à sua maneira, sem saber o que fazer, em um paralelo com a lenda
da sucessão de Rômulo em Roma. Conforme relata Plutarco, depois de 38 anos de rei-
nado, Rômulo desapareceu, levado pela chuva e pelo vento, sem que dele nada tivesse
restado, nem sequer seu cadáver. Não havia sido formulado, até então, qualquer processo
de transição que apontasse um sucessor, de modo que a coroação de Numa Pompílio
não ocorreu imediatamente após a morte de Rômulo, mas por um tempo os senadores
governaram a cidade em rotação, alternando-se a cada dez dias, em uma tentativa de
substituir a monarquia com uma oligarquia – período que f‌icou conhecido, justamente,
como interregno (“inter rex”) (PLUTARCO).
No mundo atual, vive-se também um período de interregno. Foi Bauman quem o
disse, ao ser indagado sobre a principal característica do início do séc. XXI: “no interreg-
no, as formas com que aprendemos a lidar com os desaf‌ios da realidade não funcionam
direito mais, mas as novas formas, que serviriam a substituir as antigas, ainda não foram
formuladas” (BAUMAN, 2015). 1 Isto signif‌ica, prossegue o sociólogo, que as instituições
coletivas, o sistema político, o sistema partidário, a forma de organizar a própria vida,
as relações com as outras pessoas, todas essas formas aprendidas de sobrevivência no
mundo não funcionam mais. E conclui: “Nossas ações consistem principalmente em
reagir às crises mais recentes, mas as crises também estão mudando. Elas também são
1. Bauman af‌irma ainda que “estamos nos afogando em informações e famintos por sabedoria”, citando o biólogo E.
O. Wilson. Continua dizendo que “não temos tempo de transformar e reciclar fragmentos de informações variadas
numa visão, em algo que podemos chamar de sabedoria. A sabedoria nos mostra como prosseguir. Como o grande
f‌ilósofo Ludwig Wittgenstein dizia: ‘Compreender é saber como seguir adiante’. E é isso que estamos perdendo.
Não sabemos como prosseguir.”
EBOOK DIREITO GENERO E VULNERABILIDADE_2ed.indb 165EBOOK DIREITO GENERO E VULNERABILIDADE_2ed.indb 165 07/03/2021 11:15:4907/03/2021 11:15:49

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