Mulheres na teoria geral da administracao: por uma educacao nao sexista/Women in the General Theory of Administration: for a non-sexist education.

AutorPetinelli-Souza, Susane

Introdução

Com o intuito de dar visibilidade para as mulheres no âmbito da teoria geral da administração e, desse modo formar administradoras e administradores que tenham mais contato com a contribuição feminina na área, propôs-se a encontrar mulheres e seus estudos no campo das organizações, tendo como foco aquelas estudiosas que compõem a chamada teoria geral da administração ou teorias organizacionais consideradas basilares na formação da área.

Acredita-se na importância da visibilidade feminina de autoria para que, desde a formação no ensino superior, ocorra uma compreensão de que as mulheres também construíram e constroem o pensamento administrativo, a despeito do que certo padrão cultural androcêntrico vem enfatizando historicamente.

O objetivo do estudo foi um mapeamento de mulheres estudiosas que contribuíram para a produção de conhecimentos considerados basilares aos futuros administradores, sendo tais conhecimentos aqueles que compõem a chamada teoria geral da administração. Neste estudo, compreende-se a importância de uma educação familiar e escolar (mesmo no âmbito do ensino superior) que não produza ou reforce uma formação que enquadre as pessoas em determinados papéis comportamentais e determinados lugares no mercado de trabalho. Isso pode ser enfatizado a partir de uma educação não sexista.

Outro aspecto importante a ser tratado no estudo é que para além das desigualdades atreladas ao gênero e à linguagem, as mulheres sofrem outros tipos de desigualdades, como desigualdades geográficas, raciais e de classe.

O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica de caráter qualitativo. Sendo assim, o artigo tratará num primeiro momento sobre a educação sexista, em seguida sobre os diversos tipos de desigualdades vivenciados pelas mulheres. Após a construção do referencial teórico, será apresentado o método utilizado e depois os resultados e as conclusões do estudo.

Educação sexista

Segundo Ávila (2018), professoras e professores, baseados em concepções essencialistas, delimitam comportamentos diferentes para meninos e meninas, gerando relações de poder como empoderamento masculino em relação ao feminino, pois a escola é um campo de dimensões significativas para a desconstrução de valores, crenças, olhares e comportamentos. Para Louro (2013), as justificativas para as desigualdades devem ser buscadas não nas diferenças biológicas, mas sim nos arranjos sociais, na história, nas condições de acesso aos recursos da sociedade e nas formas de representação.

Scott (1995) observa que é constante nas análises e no entendimento das sociedades um pensamento dicotômico e polarizado sobre os gêneros, masculino versus feminino, que se relacionam dentro de uma lógica invariável de dominação e submissão.

Observa-se ainda que o termo "gênero" ainda continua concebendo e naturalizando a existência de uma visão binária sobre os papéis culturais e sociais, ou seja, as categorias de análise ainda continuam divididas entre os dois polos: homem e mulher (SALIH, 2013). Daí a relevância de uma formação para todos os profissionais do ambiente de ensino problematizando temas como corpo, gênero, sexualidade, assim como etnia e raça, geração, religião, temas imbricados nas questões de gênero (ÁVILA, 2018).

No âmbito da educação superior, um modo de promover uma educação não sexista seria, inicialmente, o cuidado com a própria linguagem e, em seguida, buscar dar visibilidade para aquelas mulheres que contribuíram para a produção de conhecimentos nas diversas áreas. O uso apenas de sobrenomes nas citações ao longo dos livros e papers contribui para a construção de um imaginário do homem branco como autor da maioria dos estudos-o que remete ao uso sexista da linguagem, no qual há uma dificuldade no reconhecimento das mulheres, e contribui para a invisibilidade feminina na ciência e na história.

De acordo com os estudos das autoras TOLEDO et al. (2014), a linguagem é um agente socializante de gênero, uma construção sócio-his-tórica, algo que pode ser ensinado e aprendido. Com isso, ela também pode ser modificada e, por meio dela, moldados os pensamentos que são propagados pelas pessoas na sociedade. Para as autoras, o androcentrismo geralmente é percebido com o uso do masculino como genérico para ambos os sexos e usar apenas o masculino como dominante torna invisível a existência e presença das mulheres na história, no cotidiano e no mundo. E, tradicionalmente, o sexismo é considerado como discriminador do sexo feminino.

Somado a isso, existem os estereótipos de gênero. A reprodução de padrões de comportamento e de estereótipos de gênero ocorre a partir de um conjunto de espaços sociais (WIENCLAW, 2011). Para Carvalho e Mendes (2015), a incorporação de estereótipos de gênero perpassa não somente o ensino escolar, mas outras instâncias como a mídia e a própria família.

Ainda assim, a importância da promoção da equidade no processo educacional está justamente no fato de que é no ambiente escolar que meninos e meninas aprendem a se conformar aos papéis e estereótipos de gênero ou a se libertar deles (WIENCLAW, 2011). Daí a importância de um processo educacional, em todos os níveis de escolarização, que não reforce determinados estereótipos de gênero.

Nesse sentido, quando professores/as selecionam conteúdos, textos para comporem suas aulas, o que ocorre é uma reprodução de saberes que, assim como em outras áreas do pensamento, ainda privilegiam o conhecimento oriundo de homens. Assim, alunos/as aceitam determinados estereótipos, dado que já estão acostumados desde o ensino infantil a processos de ensino e aprendizagem que privilegiam homens, ou ainda, processos de ensino e aprendizagem que tornam as mulheres invisíveis.

Para Cabello (2018), a educação não sexista coloca em questionamento a normatividade heterossexista da educação. Daí a importância de uma educação que reconheça as mulheres e outras dissidências que contribuíram e contribuem para a produção do conhecimento que é disseminado em livros e processos educativos, visto que essas autoras estão, em sua maioria, invisibilizadas pela linguagem sexista.

Mulheres e desigualdades

Para além das desigualdades atreladas ao gênero e à linguagem, as mulheres sofrem outros tipos de desigualdades ligadas aos aspectos geográficos, étnico-raciais e de classe.

Conforme Margaret McLaren (2016), a utilização da categoria mulher ou mulheres tem algumas implicações. Enquanto a utilização desta pode ser vista como necessária para fazer reivindicações políticas como uma identidade de grupo, ao mesmo tempo pode-se pensar que categorias de identidade podem corporificar diferenças na tentativa de representação geral enfatizando o gênero, por exemplo, em detrimento de outros aspectos como habilidades, raça, classe.

De acordo com Hirata (2005), há uma desigualdade marcada pelo enfoque Norte-Sul em termos globais, pois apesar da interdependência de mercados entre os países, não há uma homogeneização nas condições de trabalho, dada a desigualdade de situações econômicas e sociais.

Segundo Seneviratne (2018), uma dimensão que precisa ser incluída nos estudos é a história e o local onde vivem as mulheres, dado que uma mulher do terceiro mundo que trabalha em condições precárias não é oprimida porque é pobre, mas porque é mulher e porque vive nesse lugar que tal condição torna-se possível.

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