Mulheres, PCB e Feminismos: disputas e tensões (1930-1937)

AutorIracélli da Cruz Alves
CargoDoutoranda pela Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, Brasil
Páginas435-452
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n40p435
Mulheres, PCB e Feminismos: disputas e tensões (1930-1937)
Women, BCP and Feminisms: disputes and tensions (1930-1937)
Iracélli da Cruz Alves*
Resumo: O artigo analisa a militância feminista de mulheres do Partido
Comunista do Brasil, atualmente denominado Partido Comunista Brasileiro
(PCB) entre 1930 e 1937, bem como as relações estabelecidas com outros
grupos feministas do período. A preocupação central é evidenciar a forma
como as pecebistas concebiam a luta e as críticas que zeram a outros grupos
feministas. No início do século XX, tornou-se crescente o número de mulheres
organizadas em prol de mudanças político-sociais para o gênero feminino. No
período, surgiram organizações coletivas formais que lutaram por mais direitos
para as mulheres, que costumamos chamar feministas. A luta pela emancipação
feminina era permeada por tensões. Para as mulheres do PCB, o feminismo era
entendido como um movimento “pequeno-burguês”, por isso, inadequado para
as mulheres que estavam verdadeiramente preocupadas com a emancipação
feminina. Não se assumir feminista não signicava, necessariamente, falta de
engajamento com as pautas comuns aos feminismos. Afora todas as tensões, a
luta das mulheres dentro do PCB e as relações intrapartidárias também foram
marcadas por tensões e contradições. Nesse sentido, o texto visa reetir sobre
as diferentes formas de organização, tensões e contradições existentes nas lutas
feministas na primeira metade do século XX, especialmente aquelas ligadas
ao PCB.
Palavras-chave: Política, Feminismos, Partido Comunista do Brasil (PCB)
Abstract: This article analyzes the feminist activism of women from Communist
Party of Brazil, now called Brazilian Communist Party (BCP) between 1930
* Doutoranda pela Universidade Federal Fluminense, Niterói/RJ, Brasil.
E-mail: iracelli_alves@yahoo.com.br
Artigo
436
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 40, p. 435 - 452, dez. 2018.
and 1937, as well as established relationships with other feminist groups of
the period. The central concern is to show how pecebistas conceived the ght
and the criticisms they made to other feminist groups. In the early twentieth
century, it has become a growing number of women organized in support of
political and social change for females. In the period, born formal collective
organizations that fought for more rights for women, we usually call feminists.
The struggle for women’s emancipation was permeated by tensions. For
women the BCP, feminism was understood as a “petty bourgeois” movement,
therefore, inappropriate for women who were truly concerned with women’s
emancipation. Do not recognize herself feminist does not mean, necessarily,
lack of engagement with the common guidelines to feminisms. Aside from all
the tensions, the struggle of women into BCP, and intraparty relations have
also been marked by tensions and contradictions. In this sense, the text aims
to reect on the different forms of organization, tensions and contradictions
in feminist struggles in the rst half of the twentieth century, especially those
connected to the BCP.
Keywords: Politic, Feminims, Brazilian Communist Party (BCP)
Introdução
No Brasil do século XIX, algumas mulheres manifestaram-se em prol da
emancipação feminina através de jornais e revistas de grande circulação e/ou de
grupos políticos especícos, bem como os editados por elas mesmas. Por meio
da imprensa, buscaram incitar mudanças no status econômico, social, cultural
e legal das mulheres. Nas primeiras décadas do século XX, com a implantação
da República, se tornou crescente o número de mulheres organizadas em prol
de mudanças político-sociais para o gênero feminino. Nesse período, surgiram
algumas organizações feministas com diferentes práticas políticas.
Atualmente, entende-se por feminismo as práticas sociais, culturais,
políticas e linguísticas que atuam com o objetivo de liberar as mulheres de uma
cultura misógina e da imposição de um modo de ser construído pela lógica
masculina nos marcos da heterossexualidade.1 Mas no início do século XX,
geralmente o termo feminismo designava as mulheres de tendências liberais
de classe média que, na maior parte das vezes, não aprofundaram na discussão
acerca das estruturas sociais de dominação masculina.2 (RAGO, M. 2001, p.
219).
O que não signica dizer que, na prática, elas não estivessem corroendo
as estruturas de dominação. Não deve ter sido fácil para as mulheres daquele

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