Musicografia de Bezerra da Silva e a necessidade de humanização do direito

AuthorMariana Tavares Pedi, Luiza Andreza Camargo de Almeida, Eduardo Augusto Salomão Cambi
PositionUniversidade Estadual do Norte do Paraná, PR, Brasil. / Universidade Estadual do Norte do Paraná, PR, Brasil. / Universidade Estadual do Norte do Paraná e Centro Universitário Assis Gurgacz, PR, Brasil
Pages103-122
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MUSICOGRAFIA DE BEZERRA DA SILVA E A NECESSIDADE
DE HUMANIZAÇÃO DO DIREITO
MUSICOGRAPHY OF BEZERRA DA SILVA AND THE NEED FOR
HUMANIZATION OF LAW
Mariana Tavares PediI
Luiza Andreza Camargo de AlmeidaII
Eduardo Augusto Salomão CambiIII
Resumo: O presente artigo busca imergir na musicografia de
Bezerra da Silva, com o objetivo de verificar em que medida
o direito pode servir de instrumento de promoção da justiça
social. No primeiro capítulo, busca-se demonstrar como
as músicas compostas e interpretadas por Bezerra da Silva
desvelam problemas das favelas e da Baixada Fluminense
das décadas de 1980 e 1990, e que persistem nas periferias
brasileiras até a data de hoje. No segundo capítulo, observa-
se a atual conjuntura do sistema de justiça e uma possível
indiferença e descompasso com a realidade vivida nos
subúrbios e nas favelas. Em um contexto cada vez mais
marcado pelo neoliberalismo, acentua-se o individualismo
e negligenciam-se os objetivos assumidos pela Constituição
Federal na efetivação dos direitos fundamentais sociais. No
terceiro capítulo, validando-se a hipótese da pesquisa, se
demonstrará como a desconexão entre o sistema de justiça e a
realidade social, denunciada por Bezerra, precisa ser superada
pela concretização de direitos sociais e pelo pluralismo
jurídico capaz de afirmar o direito como um processo de luta
para afirmação da justiça social.
Palavras-chave: Bezerra da Silva. Direitos Humanos. Sistema
de Justiça. Desigualdade Social.
Abstract: is article seeks to immerse itself in the
musicography of Bezerra da Silva, with the objective of
verifying to what extent the law can serve as an instrument
for promoting social justice. In the first chapter, we seek
to demonstrate how the songs composed and performed
by Bezerra da Silva reveal problems in the favelas and
Baixada Fluminense in the 1980s and 1990s, which persist
in Brazilian peripheries to this day. In the second chapter,
the current situation of the justice system and a possible
indifference and mismatch with the reality experienced in
DOI: http://dx.doi.org/10.31512/rdj.v23i47.976
Recebido em: 06.09.2022
Aceito em: 20.10.2023
I Universidade Estadual do Norte do
Paraná, PR, Brasil. E-mail: mariana_
pedi@hotmail.com
II Universidade Estadual do Norte do
Paraná, PR, Brasil. E-mail:
luizacda16@gmail.com
III Universidade Estadual do Norte do
Paraná e Centro Universitário Assis
Gurgacz, PR, Brasil. E-mail: eascambi@
mppr.mp.br
104 Revista Direito e Justiça: Reflexões Sociojurídicas
Santo Ângelo | v. 23 | n. 47 | p. 103-122 | set./dez. 2023 | DOI: http://dx.doi.org/10.31512/rdj.v23i47.976
the suburbs and slums are observed. In a context increasingly
marked by neoliberalism, individualism is accentuated and
the objectives assumed by the Federal Constitution in the
realization of fundamental social rights are neglected. In the
third chapter, validating the research hypothesis, it will be
demonstrated how the disconnection between the justice
system and social reality, denounced by Bezerra, needs to be
overcome by the realization of social rights and by the legal
pluralism capable of affirming the law as a process of struggle
for the affirmation of social justice.
Keywords: Bezerra da Silva. Human Rights. Judicial System.
Social Inequality.
1 Considerações iniciais
Cronista do povo. Embaixador dos Morros. Partideiro Indigesto. Estas foram
algumas das alcunhas que José Bezerra da Silva (1927-2005) recebeu ao longo de
sua trajetória artística, apresentando-se, deliberadamente, como porta-voz das favelas e subúrbios
do Rio de Janeiro e de todo Brasil. Ele assumiu com afinco e um tanto de ironia a missão de
mostrar para o mundo as mazelas, as alegrias, e as particularidades que caracterizavam a vida dos
habitantes destes locais. Revelou a “sua gente”, como bem cantou na música “Eu sou Favela”, e
em tantas outras.
Bezerra da Silva foi cantor, músico, compositor, e intérprete de composições de outros
moradores dos morros cariocas, que encontraram, na voz do sambista, uma forma de expressar
suas emoções e vivências. Conta-se que Bezerra percorria as favelas com um gravador de voz em
mãos, dialogando com pedreiros, mecânicos e outras pessoas comuns que pudessem emprestar
letras para suas melodias (PEDRAZZOLI et. al. 2015, p. 39). Tem-se a potência da musicografia
de Bezerra para traduzir o cotidiano dos moradores das favelas e subúrbios. Ele deu voz a outras
pessoas que compartilharam consigo esta realidade.
Levando-se em consideração o cenário do povo que vive na periferia, o presente trabalho
tem por objetivo verificar em que medida o pluralismo jurídico e a forma como pode se dar a
intervenção do sistema de justiça no combate às desigualdades sociais. Utiliza-se para melhor
compreensão, a categoria do humanismo como chave de leitura dos contextos trazidos e possíveis
para caminhos para embasar a investigação científica.
O primeiro capítulo tem o objetivo de, utilizando a musicografia de Bezerra da Silva como
fio-condutor, desvelar, de modo mais horizontal e panorâmico, as experiências e especificidades
socioculturais de populações marginalizadas pelo Estado nos morros e periferias, para então
cruzá-las com outras pesquisas sobre desigualdade social e urbana.

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