'Na colônia penal' como emblema da disputa entre prussianismo e liberalismo na Alemanha (1871-1933)

AutorArthur Lopes Campos Cordeiro, Rodrigo Machado Franco
Páginas67-74
“NA COLÔNIA PENAL” COMO EMBLEMA DA DISPUTA
ENTRE PRUSSIANISMO E LIBERALISMO NA
ALEMANHA (1871-1933)
Arthur Lopes Campos Cordeiro1
Rodrigo Machado Franco2
1. INTRODUÇÃO
É sabido que Na Colônia Penal, novela publicada por Franz
Kafka em 1919, comporta múltiplas interpretações quanto ao seu
enredo. Desde um emblema da punição divina no Antigo
Testamento até a predição de Auschwitz e Dachau, não são poucas
as tentativas de traçar naquela, pelos filtros da teoria crítica,
alegorias e exegeses em tudo distintas. O presente trabalho busca
perscrutar em Na Colônia Penal uma parábola da disputa política
pivotal da Alemanha pós-unificação e anterior à ascensão do Partido
Nazista ao poder: a oposição entre prussianismo e liberalismo
enquanto projetos políticos para o século XX.
O dualismo político liberalismo-prussianismo esteve presente
na política interna alemã desde, pelo menos, os anos anteriores à
Unificação de 1871. É, contudo, nas décadas de 1880 e 1890 em
diante - coincidentes com o apogeu do Liberal Empire britânico - que
aquele agrava-se de maneira perceptível3. A ascensão de Otto von
Bismarck à posição de chanceler na Alemanha recém unificada
provoca o ressurgimento do ufanismo nacionalista prussiano com
fortes raízes românticas. Todavia, o romantismo da primeira metade
do século XIX não mais apresenta-se como prerrogativa psíquica do
indivíduo em sua relação com o mundo e com a sociedade, mas sim
enquanto amálgama capaz de reunir o conglomerado nacional sob a
égide do Estado. O Estado, aqui, confunde-se com o perfil do
soberano e manifesta-se por meio do monopólio das forças. A esta
relação entre indivíduo e Estado pautada, paralelamente, no

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