'A negociação é o futuro do Direito de Família', diz especialista de Harvard

Foi fora das extensas fronteiras do Brasil que a advogada gaúcha Niver Bossler Acosta encontrou o rumo definitivo para a sua carreira como causídica. E, curiosamente, isso não aconteceu em um curso ligado diretamente ao Direito. Ao fazer especialização em Negociações na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, uma das mais prestigiosas instituições de ensino do planeta, ela estabeleceu as bases para o trabalho que faria na volta ao país. Um trabalho, aliás, que ela orgulhosamente classifica como não convencional.

Niver é uma advogada que não possui um escritório sisudo, daqueles forrados de livros, e não frequenta os fóruns de São Paulo, cidade que escolheu para viver. O tribunal, definitivamente, não é o lugar para ela, uma profissional que atua no Direito de Família com o objetivo exclusivo de buscar um acordo para os casais que a procuram em busca de um divórcio tranquilo, algo sempre muito complicado.

A gaúcha diz que sua habilidade natural de negociadora, somada ao que aprendeu em Harvard, permite a ela obter um final feliz em praticamente todos os conflitos matrimoniais que chegam às suas mãos, mesmo naqueles em que há grande animosidade. "Eu consigo o acordo em pelo menos 90% dos casos", afirma a advogada.

Em entrevista à ConJur, Niver garante que as vantagens da negociação são tão evidentes para os clientes que esse caminho é, obrigatoriamente, o futuro do Direito de Família do Brasil. Ela também conta que seu jeito despojado causa enorme desconfiança (ou preconceito mesmo) entre os colegas de profissão, o que a levou à conclusão de que os advogados brasileiros precisam urgentemente se modernizar.

ConJur — Quando uma pessoa que deseja se separar busca sua ajuda, qual é sua primeira providência?

Niver Acosta — Eu primeiro estudo a situação da pessoa, principalmente se o cônjuge que não entrou em contato comigo sabe da situação. Às vezes, uma parte já tem a ideia convicta da separação e a outra ainda não sabe disso. Eu sempre estudo essa situação para saber de que maneira o outro cônjuge vai receber a informação de que a outra parte decidiu se divorciar. E eu tenho técnicas para isso, tanto para a abordagem quanto para a indicação de terapia de casal com esse foco, para que a pessoa tenha um espaço para comunicar o cônjuge que o divórcio realmente será o caminho.

ConJur — Por que você toma esse cuidado?

Niver Acosta — Porque isso tira um peso muito grande do advogado. Então eu tenho muito cuidado com essa situação. Superada essa questão, começo a atender às partes. E aí passo a fazer um estudo a respeito da motivação, obviamente da evolução patrimonial, e também o que é inegociável para essas pessoas, porque esse é o maior problema: negociar o que é inegociável para elas.

ConJur — E qual é seu índice de sucesso na obtenção de um acordo?

Niver Acosta — Olha, eu consigo o acordo em pelo menos 90% dos meus casos.

ConJur — Existe alguma situação em que você recusa o caso?

Niver Acosta — Eu não assumo a representação quando percebo que uma das partes está sendo desleal com a outra, como, por exemplo, esvaziando o patrimônio, usando o tempo da negociação para lesar o cônjuge. Aí eu comunico para ambos que o melhor é eles serem representados por outras pessoas.

ConJur — Mas não existem situações em que a animosidade entre os cônjuges é incontornável?

Niver Acosta — Bem, eu uso a minha técnica para contemporizar essa animosidade, acolhendo as emoções que envolvem o casal. Outra coisa: eu nunca coloco as pessoas frente a frente para negociar. A menos que esteja muito claro que é seguro. Normalmente eu faço essa interface para elas. Porque eles estão com os ânimos à flor da pele e isso pode afastar a possibilidade de acordo. Então o meu trabalho é sensibilizar uma parte para as necessidades reais da outra e vice-versa. Fazendo esse trabalho, obviamente usando minha técnica para isso, eu consigo contemporizar, encontrar uma alternativa para que essas pessoas voltem a ter um diálogo focado na solução do conflito.

ConJur — No que o seu trabalho é diferente do que faz um advogado convencional?

Niver Acosta — Qual é a postura de um advogado mais clássico? Quando se chega a uma situação em que há um conflito que ele talvez não saiba como contemporizar, então cada um vai para o seu lado. Mas há a possibilidade de trabalhar em conjunto? Sim. Eu preciso colocar as partes frente a frente para trabalhar? Não. E aí eu tenho espaço para conseguir (o acordo), sabe? Fazer o contorno de todas as objeções, entender as necessidades das pessoas, entender o que é inegociável para elas... E aí eu consigo fazer. Há, sim, situações em que o acordo não é possível, mas elas são bem pontuais.

ConJur...

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