Mãos Negras, Mentes Gregas: as narrativas de Luís da Câmara Cascudo sobre as religiões afro-brasileiras

AutorDurval Albuquerque Junior
CargoUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
Páginas9-30
1 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: durvalal@uol.com.br
MÃOS NEGRAS, MENTES GREGAS:MÃOS NEGRAS, MENTES GREGAS:
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LUÍS DA CÂMARA CASCUDO SOBRE AS RELIGIÕESLUÍS DA CÂMARA CASCUDO SOBRE AS RELIGIÕES
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO SOBRE AS RELIGIÕESLUÍS DA CÂMARA CASCUDO SOBRE AS RELIGIÕES
LUÍS DA CÂMARA CASCUDO SOBRE AS RELIGIÕES
AFRO-BRASILEIRAS.AFRO-BRASILEIRAS.
AFRO-BRASILEIRAS.AFRO-BRASILEIRAS.
AFRO-BRASILEIRAS.
Durval Muniz de Albuquerque Júnior1
Resumo: O texto aborda o lugar dado ao negro e a contribuição africana para a
história e a chamada cultura brasileira pelo erudito potiguar Luís da Câmara
Cascudo. Tomando como objeto de análise seus escritos sobre a contribuição
africana para a formação da sociedade brasileira, notadamente o livro Meleagro,
procuramos analisar as imagens e os enunciados que, constantemente, estão as-
sociados ao negro e à cultura africana nas obras de Cascudo, como ele tende
insistentemente em desafricanizar ou branquear a cultura brasileira, notadamente
o que nomeia de cultura popular ou folclore. O texto tenta também entender o
lugar de fala do erudito potiguar e o que o leva a ter esta visão sobre a participa-
ção dos africanos na constituição social do país e de seus costumes.
Palavras-chave: Afro-Brasileiros; Cultura Popular; Câmara Cascudo; Branque-
amento. Desafricanização.
Abstract: The text talks about the position given to Afro-Brazilians and to the
African contribution to Brazilian history and the so-called culture by the erudite
Luís da Câmara Cascudo. The object of our analysis are his writings on the
African contribution to the constitution of the Brazilian society, especially the
book Meleagro. We try to examine the images and the statements that are
constantly associated with Afro-Brazilians and the African culture in the works
of Cascudo, as he tends, insistently, to deafricanize or whiten the Brazilian culture,
especially what he calls popular culture or folklore. The text also tries to understand
the opinion of the erudite from Rio Grande do Norte and what makes him have
this view on the participation of Africans in the social constitution of the country
and its habits.
Key-words: Afro-Brazilian; Popular culture; Câmara Cascudo; Whitening;
Deafricanization.
10 REVISTA ESBOS Volume 17, Nº 23, pp. 9-30 — UFSC
...MELEAGRO, nome pedante para justificar
feitiço da Grécia em mão africana.
Luís da Câmara Cascudo2
Luís da Câmara Cascudo é um dos mais importantes intelectuais na formu-
lação de metanarrativas da nacionalidade. Produzindo grande parte de sua ex-
tensa e significativa obra obedecendo aos ditames do dispositivo das nacionalida-
des e conforme as regras que instituíram a formação discursiva nacional-popular,
que predominou, no Brasil, entre os anos vinte e os sessenta do século passado, o
tema privilegiado de sua obra será o que nomeia de cultura brasileira. Estando
entre aqueles que se dedicaram a fazer a narrativa da formação da nacionalidade
brasileira, tomando, portanto, a história como o elemento através do qual interro-
ga o que seria a constituição da cultura nacional em suas diferentes expressões
regionais, em sua particular distribuição pelo território, em sua geografia,3 Cas-
cudo é, no entanto, um autor que ainda faz por merecer maior atenção por parte
daqueles que se dedicam a estudar os discursos que formularam identidades para
a nação, que foram responsáveis pela instituição do imaginário que sustenta e
significa a comunidade nacional brasileira.
Talvez por ter dedicado a maior parte de seus escritos a uma área de sa-
ber, a uma disciplina que foi historicamente alijada no país dos estudos universitá-
rios: o folclore – área que, quando tratada academicamente, como no estudo
pioneiro de Florestan Fernandes,4 foi para denegar a sua cientificidade, para afir-
mar o direito de outras disciplinas como a antropologia, a etnografia e a sociolo-
gia de a substituírem nos estudos universitários - Cascudo ocupa este lugar mar-
ginal quando se trata de estudar os intérpretes do Brasil, injustiça que somente
vem sendo corrigida recentemente, por exemplo, no campo da historiografia.5 No
entanto, mesmo no interior do chamado Movimento Folclórico, que procurou, a
partir dos anos quarenta do século XX, institucionalizar esta área de saber apro-
ximando-a do Estado, articulando-a em instituições não-universitárias para com-
pensar a rejeição da Universidade, instituições dependentes do mecenato dos
poderes públicos, Luís da Câmara Cascudo vai ocupar um lugar de segundo pla-
no, mesmo tendo sido dele a iniciativa pioneira neste processo de institucionaliza-
ção e de aproximação do folclore das políticas culturais do Estado, com a cria-
ção, em 1941, da Sociedade Brasileira do Folclore, cuja sede era em sua própria
casa, na cidade do Natal. Talvez por ter ficado em Natal, por não ter migrado
para mais perto da sede do Estado brasileiro, a cidade do Rio de Janeiro, como
fizeram Manuel Diegues Júnior, Afrânio Peixoto, Renato Almeida, que terão po-
sições de destaque na criação do Conselho Nacional de Folclore por representar
e estar ligado às elites de uma área periférica política e economicamente falando,
o Mestre do folclore nacional, tal como foi monumentalizado ainda em vida, e sua

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