O Patrimônio cultural do Morro do Amaral no imaginário dos jovens: tensões possíveis

AutorAdilson Aviz
CargoUniversidade da Região de Joinville-UNIVILLE
Páginas165-186
http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n165p185
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.165-186, ago/dez 2013
O Patrimônio cultural do Morro do Amaral no imaginário dos
jovens: tensões possíveis
The cultural heritage of “Morro do Amaral” in imaginary youth:
tensions possible
Adilson Aviz
1
Resumo
Neste artigo, o patrimônio cultural da ilha do Morro do Amaral, localizada em
Joinville, norte de SC, às margens da baía da Babitonga, é investigado de forma
interdisciplinar através do discurso dos jovens da região mediante a aplicação de
entrevistas semiestruturadas. O imaginário, arraigado ao real e ao simbólico (RSI), é
o ponto de discussão entre os discursos de preservação do patrimônio cultural e a
relação com as sensações temporais nesse espaço preservado da cidade. É
utilizado como referencial teórico a psicanálise de Freud e Lacan através dos
conceitos de desenvolvimento psíquico em três fases: simbiose, complexo de Édipo
e jogo do espelho. Essas fases são vistas de forma dinâmica e não estanques.
Utiliza-se para compreensão das falas a análise do siscurso (AD) de Pêcheux em
uma corrente francesa de teóricos. As respostas dos jovens mostraram uma relação
simbiótica com o local no sentido parcial de conhecimento em relação ao patrimônio
cultural, ao mesmo tempo em que se tornam passivos a aceitar aquilo que provoca
um sentimento ambivalente entre desejo e medo repetindo discursos pré-
estabelecidos historicamente.
Palavras-chave: Patrimônio cultural. Memória. Políticas de preservação.
Juventudes. Psicanálise.
Abstract
In this article the Cultural Heritage of the Island of Morro do Amaral, located in
Joinville SC, north of the shores of the bay Babitonga, is investigated in an
interdisciplinary way through the speech of young people of the region through the
application of semi-structured interviews. The Imaginary and the Real rooted to
Symbolic (RSI) is the point of discussion between the discourses of preservation of
Cultural Heritage and the temporal relationship with the sensations that space
preserved city. It is used as a theoretical psychoanalysis of Freud and Lacan through
the concepts of psychic development in three phases: Symbiosis, Oedipus Complex
and Game Mirror. These phases are viewed as a dynamically and not watertight and
these are used to understanding the speech Discourse Analysis (DA) of a current
Pêcheux French theorists. The responses of young people showed a symbiotic
relationship with the local in the sense of partial knowledge in relation to Cultural
Heritage at the same time they become liabilities to accept what provokes an
ambivalent feeling between desire and fear repeating speeches pre-established
historically.
1 Universidade da Região de Joinville UNIVILLE. E-mail: adilson.aviz@gmail.com
Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, ISSN 1984-8951
v.14, n.105, p.165-186, ago/dez 2013
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Key Words: Cultural Heritage. Memory. Preservation policies. Youths.
Psychoanalysis.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não
Adaptada.
Introdução
A ilha do Morro do Amaral se encontra no extremo sul de Joinville, SC uma
cidade que experimenta um presente marcado pelo complexo fluxo de migrantes,
tecnologias, informações midiáticas e desejos de preservação de um passado, de
memórias que organizam uma suposta unicidade, uma plenitude identitária sempre
ausente. Desde os anos de 1980, como analisa a historiadora Coelho (2011), a
cidade viveu uma reestruturação das indústrias, o aumento do emprego industrial e
a inclusão de novas tecnologias e atualizações no processo produtivo e de
comunicação, e essas evidências “incidem sobre os deslocamentos humanos para a
cidade e também sobre os multifacetados relacionamentos sociais da urbe”
(COELHO, 2011, p. 30-31). Tais aspectos não podem ser desconsiderados nesse
artigo que busca analisar o imaginário dos jovens sobre o patrimônio cultural da ilha
do Morro do Amaral.
Por que falar/discutir a relação dos jovens com o patrimônio cultural? E por
que a região do Morro do Amaral? Esse artigo é um recorte dos resultados de uma
pesquisa interdisciplinar intitulada “O patrimônio cultural do Morro do Amaral no
imaginário dos Jovens: tensões possíveis
2, que nasceu desdobrada de outras
pesquisas e trabalhos de extensão anteriores,3 aliada a uma inquietação sobre a
2 Pesquisa de dissertação do Mestrado Interdisciplinar em Patrimônio cultural e Sociedade, orientada
pela Dra. Raquel ALS Venera e defendida em 26 abril 2013.
3 Em 2008, realizamos uma pesquisa envolvendo três jovens do sexo masculino com a idade de 18
anos, na intenção de averiguar a importância da função paterna na autoestima e independência de
jovens prestes a se inscreverem naquilo que o código civil afirma ser pertencente a maior idade,
como trabalho de conclusão de curso na graduação em psicologia. Em 2009, participamos de um
trabalho desenvolvido na ilha do Morro do Amaral com alguns jovens. A proposta para esse grupo foi
desenvolvida mediante a relação estabelecida no decorrer dos encontros. Dinâmicas envolvendo
contação de histórias e jogos mostraram uma peculiaridade nesses jovens, a dificuldade de romper
o concreto pela fantasia. Em meio a discussões políticas envolvendo a região em torno da
preservação versus modernização, os jovens sinalizavam um local alheio aos aspectos físicos sob a
égide do aqui-e-agora.

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