No rastro da Cobra-Canoa: religião, cultura e educacão no Alto rio Negro - AM

AutorRoberta Enir Faria Neves de Lima - Renilda Aparecida Costa
CargoMestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela UFAM. Atualmente é docente do IFAM - Campus SGC onde presidiu a Comissão de Estruturação do Núcleo Gestor de Estudos Linguísticos e Antropológicos do IFAM. Orcid: http://orcid.org/0000-0001-6311-6308 E-mail: enir@ifam.edu.br - Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos...
Páginas137-157
https://cadernosdoceas.ucsal.br/
Cadernos do Ceas, Salvador/Recife, n. 240, p. 137-157, jan./abr., 2017 | ISSN 2447-861X
NO RASTRO DA COBRA-CANOA: RELIGIÃO, CULTURA E
EDUCACÃO NO ALTO RIO NEGRO - AM
In the trail of the Cobra-Canoa: religion, culture and educacion in Upper Rio
Negro AM
Roberta Enir Faria Neves de Lima
Mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia pela
UFAM. Atualmente é docente do IFAM - Campus
SGC onde presidiu a Comissão de Estruturação do
Núcleo Gestor de Estudos Linguísticos e
Antropológicos do IFAM.
Orcid: http://orcid.org/0000-0001-6311-6308
E-mail: enir@ifam.edu.br
Renilda Aparecida Costa
Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos/ Unisinos( 2011). Atualmente é
professora adjunta da Universidade Federal do
Amazonas atuando no Instituto de Natureza e
Cultura Benjamin Constant na área da Sociologia da
Educação e no Programa de Pós-graduação
Sociedade e Cultura na Amazônia. É coordenadora
do Núcleo de Estudos Afro Indígena - NEAINC.
E-mail: renildaaparecidacosta@gmail.com
Informações do artigo
Recebido em: 10/02/2017
Aceito em: 04/05/2017
Resumo
As reflexões são fruto da observação de atividades de
pesquisa r ealizadas pelo Núcleo Gestor de Estudos
Linguísticos e Antropológicos, NUGLAN, do Instituto
Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do
Amazonas Campus São Gabriel da Cachoeira, IFAM
CGSC, entre os anos de 2011 e 2013. Através dos
relatos obtidos durante a experiência em campo
procuramos compreender a concepção de educação
oferecida pelos padres Salesianos no Alto Rio Negro
às inúmeras etnias da região e assinalar, além do o
impacto sofrido por elas com a chegada de
missionários da igreja pentecostal na vida das
comunidades por conta da demonização de suas
tradições. Necessitamos perceber as implicações da
educação oferecida pelos padres da ordem e o efeito
da presença evangélica nas comunidades indígenas.
Palavras chave: Religião. Cultura e educação no Alto
Rio Negro.
Educação e identidade nacional: a Língua Portuguesa entre os povos Indígenas
Considerando-se que o foco principal da Ordem Salesiana no Alto Rio Negro é a
educação, cabem, aqui, algumas reflexões: Educação Liberta? Qualquer tipo de educação
pode libertar? Quem tem acesso a essa educação que proporciona condições de sermos seres
reflexivos capazes de decidir por nós mesmos nossos destinos? Fomos “treinados” a acreditar
que a resposta à primeira pergunta seria um sonoro sim. Sim a educação liberta, entretanto
a segunda pergunta nos traz à mente imagens de modelos de educação que foram adotados
no passado e que certamente não contribuíam para o crescimento do indivíduo como
membro consciente da sociedade.
Nem todos os membros que fazem parte da sociedade envolvente ou colonizadora
têm acesso a uma educação libertadora e isso se dá por fatores históricos e culturais que
procuram justificar a ausência desses indivíduos no processo educacional. Nas palavras de
Cadernos do Ceas, Salvador/Recife, n. 240, p. 137-157, jan./abr., 2017 | ISSN 2447-861X
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A questão social e o contexto amazônico | Luiz Felipe Lacerda, Marília Veríssimo Veronese
Darcy Ribeiro (2010): “[...] surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do
invasor português com índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros
aliciados como escravos...” (RIBEIRO, 2010)
A grande massa resultante dessa confluência durante muito tempo ficou marcada
como a causa do nosso atraso e a “distância evolutiva” existente entre nós e os europeus. Os
primeiros teóricos estudiosos da formação da sociedade brasileira como Oliveira Vianna e
Nina Rodrigues defendiam que a mestiçagem causou nosso atraso e que o branqueamento
da sociedade brasileira seria a solução para nossa chegada ao patamar de civilizados. Uma
onda migratória de europeus foi estimulada pelos governos do início da República. Alemães,
Poloneses, Italianos chegam ao Brasil a fim de trazer o progresso tão esperado que os
mulatos não foram capazes de tornar viável.
Nesse cenário, Gilberto Freyre influenciado por sua experiên cia nos Estados Unid os
com o antropólogo Franz Boas, inova a teoria de formação do povo brasileiro afirmando que
exatamente aquilo que os teóricos que o antecederam pregavam como ponto fraco em nossa
formação, nossa mestiçagem, seria na verdade o que nos torna tão singulares. Sua obra mais
editada foi Casa Grande & Senzala sendo criticada por muitos e igualmente admirada por
outros tantos. Segundo COSTA (2011)
A identidade nacional brasileira, também foi influenciada pelo conceito de
democracia racial, difundida no cenário mundial a partir da obra Casa Grande e
Senzala, de Gilberto Freyre (1933), cujo tema girava em torno da vida social no
Brasil, em meados do século XIX. Seu livro pregava a ideologia da harmonia nas
relações entre brancos, negros e índios.
Em todo território brasileiro os efeitos dessa visão de patriotismo e nacionalismo
pregada pelo governo teve seus efeitos. A tão esperada imigração europeia que,
teoricamente, impulsionaria nosso crescimento torna-se um inconveniente e um possível
perigo a nossa soberania.
Na Amazônia o indivíduo a ser abrasileirado era o indígena, pois mesmo sendo natural
dessa terra não era visto como brasileiro em virtude da grande diversidade étnica e linguística
existente entre eles. Fomos educados para acreditar que a Amazônia possui um grande vazio
demográfico com áreas imensas desabitadas. Contudo, através de uma visão mais reflexiva
é possível observarmos que, na verdade o que ocorria era que as autoridades ao dizerem que
havia um vazio demográfico a ser preenchido com colonos de outras regiões (brancos)
sinalizavam que para elas os índios que ali residiam há gerações não contabilizavam como

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