A nova cepal: projetos de desenvolvimento e o neoestruturalismo na américa latina pós-2008

AutorEneida Oto Shiroma - Bruno Augusto Olska
CargoDoutora em Educação. Professora Titular do Cento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC. Bolsista PQ do CNPq - Graduando em Pedagogia do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC
Páginas62-82
A NOVA CEPAL: projetos de desenvolvimento e o neoestruturalismo na América Latina pós-
2008
Eneida Oto Shiroma
1
Bruno Augusto Olska
2
Resumo .
O objetivo deste artigo é analisar o pr ojeto desenvo lvimentista da Cepal em suas diferentes fases, focando nos seus
postulados acerca do papel do Estado e em desdobramentos sobre as políticas públicas. Com base no materialismo
histórico, realiza uma pesquisa teórica que procurou reconstruir a trajetória política-intelectual cepalina desde sua criação no
pós-guerra até a redução de sua influência nos anos de 1980 dia nte da ascensão do neoliberalismo na Amér ica Latina. Por
meio de análise documental, e videncia as mudanças e permanências dos fundamentos teór icos que orientam suas
propostas, especialmente pós-1980, quando a Cepal opera uma inflexão teórico-metodológica para o n eoestruturalismo.
Discute, por fim , o deslocamento do conceito de equidade para o de igualdade como um eixo operativo essencial da atual
estratégia cepalina.
Palavras-chave: Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL). Políticas públicas. Desenvolvimento.
Políticas sociais.
THE NEW ECLAC: projects of development and the new structuralism in post-2008 Latin America
Abstract
The aim of this article is to analyze ECLAC’s developmental project in its three different phases, focusing on its premises
about the State’s role and its consequences on public policies. Based on the histor ical materialism, theoretical research has
sought to retrace the political-intellectual path of ECLAC since its cr eation in the post-war until the reduction of its influence in
the 1980s with the neoliberalist ascension in Latin America. Through a documental analysis, change and permanence of
theoretical fundamentals is highlighted, managing its proposals, mainly after 1980, when ECLAC adopts a theoretical
methodological change to the neostructuralism. Finally, it discusses the conceptual displacement from equity to equal ity as
an essential operational axis of ECLAC’s current strategy.
Keywords: Economic Commission for Latin America and the Caribbean (ECLAC). Public policies. Development. Social
policies.
Artigo recebido em: 13/08/2021 Aprovado em: 20/05/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n1p62-82
1
Doutora em Educação. Professora Titular do Cento de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina
– UFSC. Bolsista PQ do CNPq. E-mail: eneida.shiroma@ufsc.br.
2
Graduando em Pedagogia do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.
Bolsista de Iniciação Científica pelo CNPq. E-mail: olska.bruno@gmail.com.
Eneida Oto Shiroma e Bruno Augusto Olska
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1 INTRODUÇÃO
Em 2015, na Conferência Rio + 20 das Nações Unidas, foram traçados os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável (ODS) cujo objetivo é o de orientar as políticas globais nos próximos anos.
Referem-se a um conjunto de metas para redução da pobreza, promoção social e proteção ao meio ambiente a
serem alcançadas até 2030.
Essa agenda orienta o plano de desenvolvimento de muitos países,
diretamente, por seus representantes de governo, ou indiretamente, por meio dos Organismos
Internacionais. No continente latino-americano, a Comissão Econômica Para a América Latina e o
Caribe (CEPAL), criada em 1948, foi fundamental na formulação e difusão de ideias
desenvolvimentistas ao longo do século XX, e hoje continua a ser um polo difusor e orientador de
políticas públicas.
Nos anos 60, os precursores da teoria marxista da dependência (TMD) (MARINI, 1990;
BAMBIRRA, 2013) teceram fundamentadas críticas às teses cepalinas para a suposta superação do
subdesenvolvimento que, como a história mostrou, longe de atender às demandas populares,
alimentou um projeto de modernização amalgamando interesses das oligarquias agroexportadoras e
da burguesia. Desde o final daquele século, porém, a Comissão passou por profundas transformações
que impactaram sua concepção de desenvolvimento e, consequentemente, suas propostas para
alcançá-lo.
Sessenta anos depois, a Cepal volta a assumir o destaque na região ao coordenar
esforços de planejamento para o “novo” desenvolvimento, que agora aparece adjetiva do como
“sustentável”. Não por acaso, vemos coetaneamente o crescimento do interesse pelo resgate crítico da
TMD no Brasil (CARCANHOLO, 2008; 2013; BICHIR, 2018)
Este artigo resulta de uma pesquisa teórica bibliográfica e documental em que se analisa
os principais documentos de organizações multilaterais da América Latina (CEPAL, BID,
OREALC/Unesco), procurando identificar as mudanças nos conceitos estruturantes das novas
propostas de desenvolvimento para a região, bem como os novos slogans e o que revelam sobre as
mudanças nas políticas públicas direcionadas à “questão social” para as próximas décadas.
O presente trabalho elege como objetivo discutir, com apoio de autores fundadores da
TMD (MARINI, 1990;2012; BAMBIRRA, 2013) e analistas contemporâneos (CASTELO, 2013; BICHIR,
2018; CARCANHOLO, 2008; LIRA, 2018), a proposta desenvolvimentista da Cepal ao longo de suas
diferentes fases, com foco no papel do Estado e nos desdobramentos sobre as políticas públicas.
Fundamentados no materialismo histórico, realizamos a análise documental concomitantemente com
uma reconstrução da trajetória política-intelectual da Cepal, desde sua criação no pós-guerra,
passando por seu período régio ao longo das décadas seguintes, até a redução de sua influência a

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