Novas perguntas para criminologia brasileira: poder, racismo e direito no centro da roda

AutorFelipe da Silva Freitas
CargoDoutorando e mestre em Direito, Estado e Constituição pela Universidade de Brasília (UnB). Email: fsfreitas_13@yahoo.com.br
Páginas40-51
Novas perguntas para criminologia brasileira...
Cadernos do CEAS, Salvador, n. 238, p. 488-499, 2016. 488
Resumo
O presente trabalho discute como o
pensamento criminológico vem se articulando
com a agenda genocida contra o povo negro no
Brasil. A partir da análise dos discursos
contemporâneos da criminologia crítica acerca
da seletividade do sistema penal, buscaremos
enfatizar as principais rupturas e p ermanências
entre os discursos criminológicos críticos e as
práticas políticas no campo jurídico penal. O
objetivo do estudo é aprofundar uma análise
sobre punitivismo no Brasil, relacionando-a
com o debate sobre racismo, produção do
conhecimento criminológico e funcionamento
do campo jurídico nacional. O trabalho articula
as discussões sobre relações raciais
realizadas no campo da sociologia e da
criminologia com as perspectivas políticas e
analíticas do movimento negro, principal ator
social na denúncia do racismo como gerador
de assimetrias na sociedade brasileira. O
principal destaque do texto é o apontamento
dos privilégios das pessoas brancas no campo
da criminologia crítica como fator
determinante na manutenção das desigualdades
raciais e das interdições epistemológicas do
campo.
Palavras-chave: Racismo. Criminologia.
Poder. Direito.
Felipe da Silva Freitas
Doutorando e mestre em
Direito, Estado e Constituição
pela Universidade de Brasília
(UnB). Email:
fsfreitas_13@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
... Foi então que uns brancos muito legais convidaram a gente prá uma festa
deles, dizendo que era prá gente também. Negócio de livro sobre a gente, a
gente foi muito bem recebido e tratado com toda consideração. Chamaram
até prásentar na mesa onde eles tavam sentados, fazendo discurso bonito,
dizendo que a gente era oprimido, discriminado, explorado. Eram todos
gente fina, educada, viajada por esse mundo d e Deus. Sabiam das coisas. E
a gente foi sentar lá na mesa. Só que tava cheia de gente que não deu prá
gente sentar junto com eles. Mas a gente se arrumou muito bem, procurando
umas cadeiras e sentando bem atrás deles. Eles tavam tão ocupados,
ensinado um monte de coisa pro crioléu da platéia, que nem repararam que
se apertasse um pouco até que dava prá abrir um espaçozinho e todo mundo
sentar juto na mesa. Mas a festa foi eles que fizeram, e a gente não podia
bagunçar com essa de chega prá cá, chega prá lá. A gente tinha que ser
educado. E era discurso e mais discurso, tudo com muito aplauso. Foi aí
que a neguinha que t ava sentada com a gente, deu uma de atrevida. Tinham
chamado elaprá responder uma pergunta. Ela se levantou, foi lá na mesa
prá falar no microfone e começou a reclamar por causa de certas coisas que
tavam acontecendo na festa. Tava armada a quizumba. A negrada parecia
que tava esperando por isso prá bagunçar tudo. E era um tal de falar alto,
gritar, vaiar, que nem dava prá ouvir discurso nenhum. Tá na cara que os
brancos ficaram brancos de raiva e com razão. Tinham chamado a gente
prá festa de um livro que falava da gente e a gente se comportava daquele
NOVAS PERGUNTAS PARA CRIMINOLOGIA BRASILEIRA:
PODER, RACISMO E DIREITO NO CENTRO DA RODA1
NEW QUESTIONS FOR BRAZILIAN CRIMINOLOGY: POWER, RACISM AND
RIGHT IN THE WHELL CENTER

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