Objetificação do humano e virtualização das relações sociais: intersecções com a reprodução humana assistida
| Autor | Marcos Catalan/Carla Froener |
| Páginas | 63-73 |
6
OBJETIFICAÇÃO DO HUMANO E
VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS:
INTERSECÇÕES COM A REPRODUÇÃO
HUMANA ASSISTIDA
O sistema econômico capitalista foi estruturado no consumo.
Para sobreviver, ele necessita que as mercadorias que produz e os
serviços que oferece não fiquem estagnados nas prateleiras, clínicas
e consultórios, reais e (ou) virtuais, espalhados pelas Mecas contem-
porâneas, o que pressupõe, evidentemente, o constante estímulo a
formas de consumo tão pantagruélicas, quanto efêmeras: adquiram,
usem e descartem bens e serviços.
Incorporado a esse processo, o corpo humano também foi
transformado em mercadoria a ser consumida1. Aliás, se o uso dos
corpos não ecoa aqui como novidade – eis a prostituição, a escravidão
e tantas outras formas de servidão narradas ao longo da biografia da
humanidade –, a venda e a cessão de partes do corpo tão intimamente
atadas à reprodução humana assistida só pôde vir a ser realizada por
conta do avanço científico e tecnológico havido nas últimas décadas2.
1. VAZ, Paulo. Consumo e risco: mídia e experiência do corpo na atualidade. Comunicação,
Mídia e Consumo, São Paulo, v. 3, n. 6, p. 37-61, mar. 2006. p. 42.
2. BERLINGUER, Giovanni; GARRAFA, Volnei. O mercado humano: estudo bioético da
compra e venda de partes do corpo. Trad. Isabel Regina Augusto. 2 ed. Brasília: UnB,
2001. p. 57-67. Os autores identificam quatro formas de mercados de corpos humanos.
A primeira é a escravidão, que pressupunha a propriedade do corpo inteiro e de seus
descendentes; a segunda é a servidão, que vinculava os trabalhadores e seus familiares
aos senhores que detinham a propriedade da terra; a terceira é a adoção paga de crian-
ças, consistindo na “transferência legal ou ilegal de crianças, recém-nascidas ou por
nascer, de pais naturais para adotivos mediante pagamento aos familiares e, por vezes,
a intermediários”; a quarta é a venda do uso do corpo, que se refere a “troca de funções
corpóreas por moeda, baseada na igualdade jurídica entre os contraentes e no direito
à revogação”. Neste último, inclui-se a venda do trabalho, a prostituição e a gestação
por substituição, ligada às funções reprodutivas.
REPRODUCAO HUMANA_EBOOK.indb 63REPRODUCAO HUMANA_EBOOK.indb 63 05/06/2020 18:10:5005/06/2020 18:10:50
Para continuar a ler
PEÇA SUA AVALIAÇÃO