Origens e influências da economia feminista: uma análise bibliométrica e de conteúdo

AutorAmanda Krein Antonette - Júlio Eduardo Rohenkohl
CargoUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, Brasil - Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, Brasil
Páginas1-28
Artigo
Original
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-28, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71527 .
ORIGENS E INFLUÊNCIAS DA ECONOMIA FEMINISTA:
UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA E DE CONTEÚDO
Origins and Influences of Feminist Economics: A Bibliometric and Content
Analysis
Amanda Krein ANTONETTE
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, Brasil
amandakrein@hotmail.com
Júlio Eduardo Rohenkohl
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, Brasil
julioroh@gmail.com
RESUMO
Objetivo: O presente trabalho objetiva encontrar, através da pesquisa bibliométrica e da Análise de Conteúdo, pontos de
diálogo entre as teorias feministas e outras tradições teóricas, buscando maneiras de aproximar e fomentar o diálogo
entre estas. Para isto, retoma-se a gênese dos estudos em economia feminista, para estabelecer as inspirações teóricas
fundamentais para a economia feminista e mapear com quais tradições houve proximidade e de que forma se deu esta
conexão. Nos primórdios do des envolvimento da teoria feminista houve importante influência de tradições teóricas da
área da economia, com destaque para a teoria marxista e a teoria neoclássica, bem como da sociologia, especificamente
a teoria social feminista e sua vertente marxista.
PALAVRAS-CHAVE: Economia Feminista. Pesquisa Bibliométrica. Análise de Conteúdo. Tradições Econômicas.
ABSTRACT
Objetive: This paper aims to find, through bibliometric research and the content analysis, contact points to facilitate
dialogue between feminist theories and other theoretical traditions, seeking for ways to approach and foster the dialogue
between them. To do so, we revisit the genesis of the feminist economics studies, in order to establish fundamental
theoretical inspirations for feminist economics and how this connection took place. In the early days of the development of
feminist theory there was an important influence of theoretical traditions in the field of economics, with emphasis on Marxist
theory and neoclassical theory, as well as sociology, specifically feminist social theory and its Marxist strand.
KEYWORDS: Feminist Economics. Bibliometric Analysis. Content Analysis. Economic Traditions.
Classificação JEL: A13; B00; B54
Recebido em: 15-02-2020. Aceito em: 11-05-2020.
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Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-28, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71527
1 INTRODUÇÃO
Os eventos na economia global desde 2008 têm demonstrado a ineficácia das teorias
econômicas mais disseminadas, em explicar e propor soluções para a realidade atual. Tal
inadequação afeta a ciência econômica como um todo. Enquanto a maior crise econômica
desde a década de 30 colapsava o sistema financeiro e deteriorava a vida de milhares de
pessoas, as ciências econômicas permaneciam fechadas a seus modelos e teorias
mainstream, que pouco ou nada contribuíram para modificar o cenário, “[t]he models
worked perfectly but had little to do with the economy we saw at home and in the news”
(FISCHER et al, 2017, p.1). A economia neoclássica, ainda que uma importante
contribuição para a compreensão da economia internacional, mostrou-se, diferentemente
do que se pautava até então, não a única, e talvez não a mais precisa, em explicar todos
os fenômenos econômicos em curso (FISCHER et al, 2017, p.3).
Desde então, têm sido cada vez mais evidente a imprescindibilidade das
perspectivas pluralistas para a disciplina econômica, especialmente, para o entendimento
da economia internacional. Estas perspectivas, na medida em que buscam dialogar e
abarcar uma ampla e plural gama de teorias e formas de explicar a realidade, possibilitam
“to think critically about contrasting arguments and encourages them to ask new and
important questions about the economy and their place within it”(FISCHER et al, 2017, p.4).
Nesse sentido, Chesnay e Sauviat (2006) utilizam-se de abordagens pluralistas - marxista
e regulacionista - para demonstrar como o atual ciclo de acumulação, que têm como pilar
o capital financeiro, modificou as relações econômicas a nível sistêmico de forma que, se
antes o capital financeiro servia de financiamento para a inovação tecnológica e produtiva,
hoje, a atividade produtiva é que sustenta a financeirização. As causas disso são tanto a
globalização financeira quanto as ondas de desregulamentação e liberalização que vêm
sendo adotadas por diversos países, e promovida por instituições econômicas
internacionais, desde a década de 1960, que acabaram por criar uma concentração de
parcelas importantes do capital social das empresas produtivas em poderio das instituições
financeiras
1
, e deram a elas um enorme poder de barganha. Sobre isto, os autores colocam
que
1
Em 1999, as instituições financeiras detinham metade do total das ações de sociedades anônimas, enquanto
acionistas individuais tinham menos de 42% destas, e os fundos de pensão e mútuos detinham 42% destas
ações, enquanto as companhias de seguros apenas 6% (CHESNAY e SAUVIAT, 2006, p.473)

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