Outras patologias do trabalho e diagnóstico diferencial

AutorAntonio Buono Neto/Elaine Arbex Buono
Ocupação do AutorMédico Especialista em Medicina do Trabalho pela AMB. Ex-Presidente da Comissão de Perícias Médicas da ANAMT. Ex-Presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Trabalho; Perito Judicial/Médica Especialista em Medicina do Trabalho pela AMB. Ex-Membro da Comissão de Perícias Médicas da ANAMT. Ex-Diretora Científica da Sociedade Paulista de ...
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PAIR

As Disacusias causadas por exposição a elevados níveis de pressão sonora, atualmente denominadas PAIR — Perda Auditiva Induzida pelo Ruído —, é prove-niente de exposições a ruído de intensidade suficientemente forte que pode resultar em perda da audição permanente em diversos graus de severidade. As alterações destas lesões se localizam no órgão de Corti (cóclea), sendo bilateral. Os padrões audiológicos das PAIR mostram uma perda auditiva sensorial simétrica, bilateral, cuja configuração da curva audiométrica é geralmente descendente com perda maior na região de frequências altas do que nas regiões das frequências mais baixas e médias. O grau da perda é geralmente progressivo. Em ambos os ouvidos a sensitividade está dentro dos limites normais com exceção de um entalhe GOTA ACÚSTICA característica da PAIR, geralmente iniciada em 4.000 Hz.

Em outras palavras, a deficiência auditiva induzida pelo ruído progride de uma maneira razoavelmente bem definida e seus audiogramas apresentam configurações reconhecíveis. Porém, para o diagnóstico das alterações auditivas decorrentes de exposição a ruído, é necessário considerar os dados de história laboral, dados da anamnese clínica e principalmente a presença de ruído em seu local de trabalho. Com base nestes dados devem ser solicitados diversos exames que auxiliam na caracterização do diagnóstico. As diversas configurações da audiometria por via aérea e óssea podem apresentar vários resultados, dentre os que nos interessam podemos citar:

  1. Audiometria normal: o audiograma mostra limiares auditivos até 25 dB nas vias aéreas e ósseas, ou seja, 25 dB é considerado como limite máximo da normalidade. Indivíduos jovens e normais podem ter limiares de -5 a +5 dB (isto é, de 20 a 30 dB nas curvas audiométricas são considerados em indivíduos jovens, até 35 anos, normais).

  2. Presbiacusia: perda da audição devida a mudanças senescentes do sistema nervoso (perda natural pela idade): a curva audiométrica é caracteristicamente descendente (não há gota ou entalhe). A perda da sensitividade é geralmente simétrica. O grau médio de perda para 500, 1.000 e 2.000 Hz está geralmente entre 15 dB a 60 dB.

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  3. Disacusias por Trauma Acústico (PAIR): compromete inicialmente as frequências de 4.000 Hz (3.000 a 6.000 Hz), sendo progressiva para células sensíveis a sons de outras frequências, decrescendo após uma curva ascendente (GOTA ACÚSTICA).

    As Disacusias são alterações funcionais do aparelho auditivo, não comprometendo a sua capacidade laborativa. Portanto a disfunção da capacidade auditiva independe da relação com a capacidade laboral. O conceito das legislações brasileira e americana e de diversos outros países, que estabelecem relação entre dano e capacidade de trabalho, apresenta-se cada vez mais inconsistente com as crescentes mudanças nos processos de trabalho, em que indivíduos com alterações físicas e até psíquicas têm grande eficiência na produção.

    A perda auditiva é sinal de alguma patologia e não a própria patologia em si. PAIR e nosoacusia (patologias otológicas ou condições médicas que afetam a audição) são formadoras de perdas auditivas. Entretanto as nosoacusias podem ser congênitas e/ou adquiridas. Perdas induzidas por ruído podem ter como causas atividades em ambientes ruidosos (caráter ocupacional) ou pela socioacusia (não ocupacional). Não é suficiente para o estabelecimento da causa da PAIRO a história de exposição ocupacional e a perda auditiva. É necessário estabelecermos os limiares adequados para, no que se refere à faixa etária, ocorrência de nosoacusia, socioacusia e mesmo predisposições genéticas.

    A idade e a exposição a ruído ocupacional são contribuintes usuais, mas muitas outras alterações podem ser...

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