O papel do desenvolvimento econômico no debate teórico sobre transições de regimes políticos
Autor | Teresa Marques |
Páginas | 465-480 |
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2018v17n38p465/
465465 – 480
O Papel do Desenvolvimento
Econômico no Debate Teórico sobre
Transições de Regimes Políticos1
Teresa Cristina Schneider Marques2
Resumo
Os estudos teóricos que procuraram compreender os fatores que influenciaram a manutenção das
democracias sempre levaram em consideração o desenvolvimento econômico. Porém, diferen-
tes papéis foram atribuídos a esta variável pelas diferentes orientações temáticas no estudo da
democracia, dentre os quais destacamos o enfoque culturalista e o enfoque institucionalista
por meio de duas obras consideradas clássicas: Comunidade e democracia: a experiência da
Itália moderna, de Robert D. Putnam; e Democracy and development: Political Institucions e
Material Well-Being in the World. 1950-1990 de Adam Przeworski, Miguel Alvarez, José Antô-
nio Cheibub e Fernando Limongi. Esse ensaio busca analisar essas duas obras tendo como eixo
a relação entre economia e transições de regimes políticos. Busca-se compreender qual o papel
atribuído pelos institucionalistas e culturalistas para a variável econômica, bem como identifi-
car as suas contribuições para a compreensão sobre as variáveis que possibilitem a emergência
de regimes autoritários.
Palavras-chave: Desenvolvimento econômico. Transições políticas. Estudos teóricos.
Introdução
Mudanças de regimes políticos são eventos raros, mas tais processos
ainda ocorrem, incentivando os estudos que buscam identicar padrões
nos processos de transição política. A relação entre transformações de re-
gimes políticos e economia é presença certa enquanto variável na maior
1 Uma primeira versão deste ensaio foi apresentada e publicada nos anais do sexto encontro da Associação
Latino-Americana de Ciência Política (ALACIP), em 2012. Agradeço aos pareceristas anônimos da revista
Política e Sociedade pelas críticas construtivas que permitiram que o ensaio apresentasse um debate mais
atualizado.
2 Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professora adjunta do
programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS). Endereço eletrônico: teresa.marques@pucrs.br
O Papel do Desenvolvimento Econômico no Debate Teórico sobre Transições de Regimes Políticos | Teresa Cristina Schneider
Marques
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parte desses estudos. O contexto atual incentiva ainda mais este debate,
pois os governos dos países latino-americanos que passaram por processos
de redemocratização no início da década de 1980 se vêem diante de graves
crises econômicas que não raro são usadas como justicativas para refor-
mas políticas que afetam sobremaneira o funcionamento das instituições.
Logo, é neste contexto que está inserida a contribuição que o presente
ensaio pretende apresentar.
A economia sempre esteve automaticamente relacionada com a es-
tabilidade de regimes políticos. Na ciência política é sempre presente e a
ideia de que o desenvolvimento econômico inuencia na manutenção de
democracias, e que a ausência desse, pode facilitar a emergência de regi-
mes autoritários. Também convém destacar que diferentes papéis foram
atribuídos a esta variável por cada um dos principais enfoques e orienta-
ções temáticas no estudo de transições. Ora como coadjuvante, ora como
ator principal, o fato é que o desenvolvimento econômico quase sempre
é apontado como uma das causas da estabilidade de regimes políticos.
Contudo, por algum tempo estiveram presentes as perguntas: Por que
inuencia? Como inuencia?
Dentre as orientações teóricas que marcaram os estudos sobre transi-
ções de regimes políticos, acreditamos que receberam maior destaque duas
teses orientadas pela análise de macro-variáveis que levaram em conside-
ração o aspecto econômico. A primeira delas é a defendida por Robert D.
Putnam, que na obra Comunidade e democracia: a experiência da Itália mo-
derna (1996) se baseia em macro-variáveis de ordem cultural para explicar
as mudanças de regime. Para os autores, o desenvolvimento econômico
possibilitaria o surgimento do capital social, que seria a condição indispen-
sável para a manutenção de regimes democráticos, consequentemente, a
ausência deste possibilitaria a emergência de ditaduras. A segunda delas é
a tese defendida por autores tais como Adam Przeworski, Miguel Alvarez,
José Antônio Cheibub e Fernando Limongi na obra já considerada clássi-
ca Democracy and development: Political Institucions e Material Well-Being
in the World. 1950-1990 (2000). Nessa obra, os autores se basearam em
análises comparativas para apontar o desenvolvimento econômico como a
pré-condição essencial para a manutenção de democracias.
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