Participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro de 2014 a 2019

AutorCarolina Troncoso Baltar - Julia Alencar Omizzolo
CargoUniversidade Estadual de Campinas - Universidade Estadual de Campinas
Páginas1-17
Artigo
Original
Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-17, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71522 .
PARTICIPAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE
TRABALHO BRASILEIRO DE 2014 A 2019
Women’s participation in the Brazilian labour market from 2014 to 2019
Carolina Troncoso BALTAR
Universidade Estadual de Campinas
cbaltar@gmail.com
Julia Alencar OMIZZOLO
Universidade Estadual de Campinas
j207515@dac.unicamp.br
RESUMO
Objetivo: A primeira década do século XXI no Brasil foi caracterizada por uma melhora do mercado de trabalho, em que
ocorreu o aumento do salário mínimo e o aumento da formalização. Essa melhora do mercado de trabalho foi positiva
para homens e mulheres, em que houve redução do desemprego e um aumento da formalização. Entretanto, o cenário
se altera e o país passou por uma recessão em 2014 -2016 e estagnação em 2016-2018, que acarretou um aumento
considerável da taxa de desemprego, bem como da informalidade do trabalho. O objetivo deste trabalho é analisar as
mudanças na participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro nesse momento de piora da atividade econômica.
Utilizamos dados da PNAD Con tínua para estruturar a participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro por
ocupação entre 2014 -2019. Um dos resultados encon trados foi que que a remuneração das mulheres se aproximou à
dos homens, mas foi mantida a segregação ocupacional, isto é, mulheres continuaram inseridas em atividades voltadas
aos c uidados e homens em atividades voltadas a produção. Os resultados suge rem que a redução de desigualdade
salarial entre mulheres e homens foi consequência de deterioração do mercado de trabalho brasileiro com pe rdas de
poder aquisitivo aos ocupados e não uma melhora na inserção feminina.
PALAVRAS-CHAVE: Mercado de trabalho brasileiro. Desigualdade de gênero. Segregação ocupacional.
ABSTRACT
Objetive: The first decade of the 21st century in Brazil was characterized by an improvement in the labour market,
sustained by an increase in the minimum wage and an increase in formalization. This improvement in the labour market
was positive for men and women, in which there was a reduction in unemployment and an increase in formalization.
However, the scenario altered, and the country experienced a recession in 2014-2016 and stagnation in 2016-2018, which
resulted in a considerable increase in the unemployment rate, as well as in the informality of work. The objective of this
work is to analyse the changes in the participation of women in the Brazilian labour market at a time of worsening economic
activity. We used PNAD Continuous data to structure the participation of women in the Brazilian labour market by
occupation between 2014-2019. One of the results found was that the remuneration of women was close to that of men,
but occupational segregation was maintained, thus, women continued to be involved in activitie s aimed at care and men
in activities aimed at production. The results suggest that the reduction of wage inequality between women and men was
a consequence of the deterioration of the Brazilian labour market with losses of purchasing power to the employed and
not an improvement in female insertion.
KEYWORDS: Brazilian labour market. Gender inequality. Occupational segregation.
Classificação JEL: J31, J16, J40
Recebido em: 15-02-2020. Aceito em: 22-06-2020.
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Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-17, jan./jul., 2020. Universidade Federal de Santa Catarina.
ISSN 2175-8085. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8085.2020.e71522
1 INTRODUÇÃO
O período de 2004 a 2013 foi caracterizado por uma melhora importante do mercado
de trabalho brasileiro, em que ocorreu o aumento do salário mínimo e o aumento da
formalização. De acordo com Leone (2019), as diferenças entre homens e mulheres no
mercado de trabalho sempre existiram, mas esse período de maior crescimento também foi
caracterizado por uma melhora na inserção das mulheres. Houve redução do desemprego
e aumento da formalidade das relações de trabalho para as mulheres, apesar de muitas
mulheres em domicílios de baixo nível socioeconômico não terem tido condições de
participar da atividade econômica.
O cenário se altera após 2014, quando o país passa por uma recessão (2014-2016)
e estagnação (2016-2018), com resultados negativos para o mercado de trabalho. A taxa
de desemprego aumentou consideravelmente, bem como a informalidade das relações de
trabalho. Nesse contexto de piora na atividade econômica e no mercado de trabalho, as
diferenças de remuneração entre homens e mulheres diminuem.
O objetivo deste trabalho é analisar as mudanças na participação da mulher no
mercado de trabalho brasileiro no período de 2014 a 2019, e verificar como a baixa atividade
econômica no período de recessão e a lenta recuperação após 2017 afetou as diferenças
entre mulheres e homens no mercado de trabalho nacional. Sabe-se que a mulher tem uma
inserção desigual no mercado de trabalho com efeitos significativos nas atividades em que
essas mulheres então inseridas e nas diferenças de salários por sexo, refletindo a
segregação e a descriminação do mercado de trabalho. A hipótese é que uma aproximação
das remunerações entre homens e mulheres, mantendo remunerações mais baixas para
estas últimas, em um contexto de perda de poder aquisitivo dos ocupados apenas reflete a
piora na condição dos ocupados e não uma melhor inserção da mulher no mercado de
trabalho.
O artigo está organizado em cinco seções, incluindo esta introdução e a conclusão.
A seção 2 faz uma revisão da literatura sobre segregação ocupacional no mercado de
trabalho, com o objetivo de captar elementos para uma avaliação da inserção da mulher no
mercado de trabalho. A seção 3 apresenta uma breve discussão da atividade econômica e
do mercado de trabalho brasileiro no período de 2014 a 2019, procurando analisar alguns
indicadores gerais de mercado de trabalho e verificar como a mulher se insere neste
mercado. A seção 4 faz então uma análise da inserção da mulher no mercado de trabalho

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