Usos do passado e escrita da história: o bandeirante e a história paulista em Alfredo Ellis Jr. (1932-37)

AutorDiogo da Silva Roiz
CargoUniversidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Páginas183-199
Revista de Ciências Humanas - Florianópolis - Volume 45, Número 1 - p. 183-199 - Abril de 2011
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* Uses of the past and writing of history: the pioneer and the history of São Paulo in Alfredo Ellis
Jr. (1932-37)
1 Resultados parciais da pesquisa Caminhos paralelos: mito, ideologia e utopia na escrita da história
de Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de Holanda, 1929-1959. Tese de Doutorando em História pela
UFPR, sob a orientação da Prof.ª Dr.ª Helenice R. da Silva, com apoio do CNPq. Endereço para
correspondências: Rua Tibagi 404, Edifício Aruanã, apto. 100, Centro, Curitiba, PR, 80060-110,
(diogosr@yahoo.com.br).
Usos do passado e escrita da história: o bandeirante e a
história paulista em Alfredo Ellis Jr. (1932-37)*
Diogo da Silva Roiz1
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
O objetivo principal deste artigo é
estudar a trajetória intelectual de Alfredo
Ellis Jr, entre 1930 e 1937, inquirindo como
apreendeu as discussões sobre a “a revolu-
ção de 1930”, “de 1932” e o “golpe de 1937”.
Durante esse período esteve na Assem-
bléia Legislativa do estado de São Paulo,
como deputado estadual, foi ao combate,
na “Revolução Constitucionalista de
1932”, exerceu o ofício de professor de his-
tória e voltou para a Assembléia paulista.
Palavras-chave: Intelectuais paulistas –
Bandeirantismo – Década de 1930 – Alfre-
do Ellis Jr.
The objective of this article is to stu-
dy the intellectual history of Alfredo Ellis
Jr., between 1930 and 1937, asking how he
assimilated the discussions about “the
revolution of 1930”, “the 1932” and the
“putsch of 1937”. During this period, he
was in the Legislature of the state of Sao
Paulo, as state legislator, he went to fight
in the “Constitutional Revolution of 1932”,
held the craft of history”s professor and
returned to the Assembly in São Paulo.
Keywords: Intellectuals from São Paulo –
“Bandeirantism” – Decade of 1930 –
Alfredo Ellis Jr.
O objetivo principal deste artigo é estudar a trajetória intelectual de Alfredo
Ellis Júnior (1896-1974), entre 1930 e 1937, inquirindo como apreendeu
as discussões sobre a “a revolução de 1930”, “de 1932” e o “golpe de 1937”.
Durante esse período esteve na Assembléia Legislativa do estado de São Paulo,
como deputado estadual (por dois mandatos consecutivos, entre 1925 e 1930, o
último dos quais, interrompido pelas reviravoltas do final daquele ano, com o
ingresso de Vargas ao poder, dando fim a Primeira República), foi ao combate na
“Revolução Constitucionalista de 1932”, exerceu o ofício de professor de história
e voltou para a Assembléia Constituinte de São Paulo, nas eleições de 1934.
1. No rastro da interpretação de Eric Hobsbawm, em sua autobiografia
Tempos interessantes (publicada em 2002), na qual indicou uma transição sub-
terrânea em processo, tal qual a que ocorreu durante o período de 1890 a 1970,
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entre os procedimentos da história dos eventos políticos para a história social,
em função das críticas efetuadas pelos historiadores “modernizadores” sobre
os “tradicionais”, que se deu àquela mudança epistemológica, que Ginzburg
(2007) se voltará para a gênese da micro-história italiana (no décimo terceiro
ensaio de seu livro O fio e os rastros). Por Hobsbawm o ter inserido dentro da
análise pós-moderna, vinculada a transição subterrânea dos estudos históricos
nos anos de 1970, e crítica quanto aos procedimentos da história então pratica-
dos, que este irá reconstituir o desenvolvimento da micro-história italiana, com
vistas a demonstrar que mesmo inserido neste campo de estudo (e não na
macro-história econômica e social, defendida por Hobsbawm), não deixou de
refutar as críticas dos céticos, pós-modernos, aos estudos históricos.
Por isso, refez o caminho trilhado pela micro-história, desde os anos de
1970, quando com Giovanni Levi passaram a discutir a questão. Ao mesmo
tempo indicou a gênese do termo “micro-história” no campo das Ciências Hu-
manas. De George R. Stewart (que primeiro se utilizou da noção em 1959) a
Luis González y González (que a usou em sua obra Uma aldeia em tumulto em
1968), perpassando pelas obras de Raymond Queneau, Primo Levi, Ítalo Calvino,
Andréa Zanzotto, Richard Cobb, Emmanuel Le Roy Ladurie, François Furet,
Jacques Le Goff e Jacques Revel, as reviravoltas das discussões sobre a compre-
ensão do termo foram diversas. E a maneira pela qual a micro-história italia-
na se desenvolveu foi diversa e independente da maneira como ocorreram as
discussões na Inglaterra, na França, nos Estados Unidos e mesmo na América
Latina. Como indicaria também o estudo de Carlos Antonio Aguirre Rojas (2007,
p. 97-120), ao comparar a “micro-história local” praticada no México, com a
“micro-história de escala” desenvolvida na Itália:
[...] a micro-história italiana não é, ao contrário do
que o termo micro poderia equivocadamente suge-
rir, uma história de microespaços, ou de micror-
regiões, ou de microlocalidades – uma história lo-
cal ou de espaços pequenos e reduzidos –, mas,
sim, uma nova maneira de enfocar a história que,
entre seus procedimentos principais, reivindica o
da “mudança de escala” do nível do observador e
estudo dos problemas históricos e, por conseguin-
te, utiliza o acesso aos níveis “macro-históricos” –
vale dizer, a escala de observação pequenas ou
reduzidas, que podem ser locais mas também indi-
viduais ou referidas a um fragmento, a uma parte
ou elemento pequeno de uma realidade qualquer –
como espaço de experimentação e trabalho, como
procedimento metodológico para o enriquecimen-
to da análise histórica (2007; p. 99).

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