Pensar como um negro: considerações iniciais

AutorAdilson José Moreira
Páginas29-41
29
PENSAR COMO UM NEGRO:
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sou um jurista negro e penso como um negro. Estou afirmando
que minha raça determina diretamente a minha interpretação dos
significados de normas jurídicas e também minha compreensão da
maneira como o Direito deveria operar em uma sociedade marcada por
profundas desigualdades raciais. Tenho um propósito específico neste
livro: criticar uma perspectiva interpretativa que entende o princípio da
igualdade como uma exigência de tratamento simétrico, uma ótica que
identifica a igualdade como exigência de aplicação dos mesmos
procedimentos a todas as pessoas. Essa posição encontra legitimidade na
pressuposição de que os membros de uma comunidade política que
possui uma cultura democrática têm experiências sociais homogêneas
em função do status jurídico comum. A tese de que uma sociedade
democrática possibilita o mesmo tipo de inserção social está baseada na
premissa segundo a qual esse tipo de arranjo político permite a construção
de uma ética social fundada no respeito por todas as pessoas. Os que a
defendem afirmam que políticas generalistas são capazes de promover a
integração de todos os indivíduos porque possíveis disparidades entre
eles são causadas por problemas de distribuição de oportunidades
materiais.
Penso que essa perspectiva é muito problemática porque pessoas
negras e brancas têm experiências sociais radicalmente diferentes no

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