O pessoal é político? As representações sociais dos profissionais da estratégia da saúde da família sobre a violência contra mulheres no município de Três Cachoeiras

AutorDione Matos de Souza Cardoso - Graziela Cucchiarelli Werba Brenda Fernandes
CargoEspecialista em Gestão Comunitária e Saúde Mental - Pós Doutora em Psicologia, docente e coordenadora do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil
Páginas176-194
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
V. 6 - Nº 02 - Ano 2017
ISSN | 2179-7137 | http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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O PESSOAL É POLÍTICO? AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS
PROFISSIONAIS DA ESTRATÉGIA DA SAÚDE DA FAMÍLIA
SOBRE A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES NO MUNICÍPIO DE
TRÊS CACHOEIRAS
Dione Matos de Souza Cardoso1
Graziela Cucchiarelli Werba2
Resumo: O Sistema Único de Saúde é a
atual forma de organização da assistência
pública em saúde em nosso país. Na busca
pela reorganização das práticas
profissionais foi instituída a ESF -
Estratégia Saúde da Família. Este artigo
tem por objetivo discutir sobre as RS -
Representações Sociais - dos profissionais
da ESF acerca da violência contra as
mulheres. A pesquisa foi realizada com as
equipes da ESF do município de Três
Cachoeiras RS. Os dados foram obtidos
através das técnicas de Grupo Focal,
Entrevistas e Observação Participante.
Foram delimitadas três categorias:
Invisibilidade, Culpabilização e
Intervenções. Concluímos que, o setor de
saúde ainda não reconhece esta
problemática como de sua competência. A
1 Especialista em Gestão Comunitária e Saúde Mental, docente e coordenadora adjunta do curso de Psicologia
ULBRA Torres.
2 Pós Doutora em Psicologia, docente e coordenadora do Curso de Psicologia da Universi dade Luterana do
Brasil (ULBRA).
categoria culpabilização apontou a
“liberdade da mulher” como causa
principal da violência de gênero,
sinalizando a necessidade de uma reflexão
acerca do principal objetivo do movimento
feminista, a “libertação feminina”.
Palavras-chave: Mulher. Violência.
Gênero. Saúde.
Abstract: The public healthcare system is
the current form of organization of public
healthcare in our country. FHS - Family
Health Strategy has been established in
order to organize professional practices in
the public healthcare system. This paper
aims to discuss the SR - Social
Representations - of the FHS professionals
about violence against women. The
research was conducted with the FHS team
from Três Cachoeiras - RS. The data was
obtained using Focal Groups, Interviews
and Participant Observation techniques.
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
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Three categories have been delimited:
Invisibility, Blaming and Interventions.
We conclude that the health sector does
not recognize this issue as their
responsibility. The Blaming category
pointed the “woman freedom” as the main
cause of the gender violence, showing the
necessity of a reflection about the main
goal of the feminist movement, the
“feminine liberation”.
Keywords: Women. Violence. Gender.
Health.
INTRODUÇÃO
O Sistema Único de Saúde é a
atual forma de organização da assistência
pública em saúde em nosso país. Com o
propósito de descentralização e
capilaridade, o programa de Atenção
Básica foi desenvolvido para que a saúde
estivesse mais próxima da vida das
pessoas, sendo a porta de entrada para toda
a Rede de Atenção à Saúde. Na busca pela
reorganização das práticas profissionais e
reconhecimento dos territórios e suas
especificidades a portaria 648 do ano de
2006 institui a política Programa Saúde da
Família PSF e os princípios gerais da
Estratégia Saúde da Família.
Historicamente, no contexto da
saúde, o estatuto biológico da mulher
esteve sempre associado a outro, moral e
metafísico. As diferenças entre homens e
mulheres, constatadas pelos médicos, não
se dava somente por um conjunto de
órgãos, mas também por sua natureza e
características morais. O debate sobre a
saúde da mulher nas últimas três décadas,
alinhavado pela reforma sanitária e pela
atuação do movimento feminista, centrou-
se inicialmente no tema do controle
demográfico. Dentro da concepção de
atenção integral a saúde das mulheres a
violência contra mulheres, ou violência de
gênero, é reconhecida como um problema
de saúde pública. Segundo Guedes,
Fonseca e Egry (2013) a alta prevalência
da violência de gênero entre mulheres
usuárias dos serviços básicos de saúde foi
constatada tanto em estudos nacionais
como internacionais, apontando que 35%
das queixas que levam as mulheres ao
serviço de saúde estão relacionadas com
algum tipo de violência.
O presente artigo, resultante de
uma pesquisa-ação realizada com as
equipes da ESF Estratégia Saúde da
Família do município de Três Cachoeiras,
Rio Grande do Sul, tem por objetivo
discutir sobre as representações sociais
destes profissionais acerca da violência

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