Plano base erosion and profit shifting: falhas em relação aos interesses dos países em desenvolvimento
Autor | Maria Luiza Belmiro Gomes |
Páginas | 189-241 |
PLANO BASE EROSION AND PROFIT SHIFTING: FALHAS
EM RELAÇÃO AOS INTERESSES DOS PAÍSES EM
DESENVOLVIMENTO
MAriA luizA BelMiro goMes
Resumo
O presente estudo busca analisar a maior exposição dos países em desen-
volvimento às estratégias de planejamento tributário agressivo e as falhas
do Plano (BEPS) em atender aos interes-
ses desses países. Para isso, serão analisadas, inicialmente, as principais
estratégias de planejamento tributário agressivo utilizadas por empresas
multinacionais com o objetivo de reduzir sua carga tributária, ocasionando
uma erosão da base tributária dos países que deixam de receber tais recei-
tas. Diante desse cenário, serão analisadas as ações formuladas e imple-
mentadas no âmbito do Plano BEPS, elaborado com o objetivo de equipar
os governos com regras e instrumentos que garantam que os lucros das
empresas multinacionais sejam tributados onde as atividades econômicas
que geram tais lucros são realizadas. Posteriormente, serão analisadas ra-
zões que explicitam a maior exposição dos países em desenvolvimento às
que demonstram a desconsideração dos interesses desses países durante
a formulação e implementação do Plano BEPS. Com base nessas constata-
ções, será analisada a legitimidade do Plano BEPS, formulado pela OCDE
e pelo G20, organizações compostas, majoritariamente, por nações de-
senvolvidas, além de serem discutidas possíveis ações com o potencial
de atender aos interesses dos países em desenvolvimento no que tange à
-
mento tributário agressivo.
Palavras-chave:
Abstract
to aggressive tax planning strategies, compared to developed countries,
Coleção Jovem Jurista 2021
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and the failures of the BEPS Plan in meeting the interests of developing
-
tinational companies will be examined, which causes an erosion of the tax
base of countries that do not receive such revenues. Given this scenario,
scope of the BEPS Plan, designed to equip governments with rules and ins-
-
loping countries to aggressive tax planning strategies, as well as evidence
that suggests the negligence of the interests of these countries during the
in addition to discussing possible actions with the potential to serve the
interests of developing countries.
Keywords
.
Introdução
-
nacionais passaram a representar, nas últimas décadas, uma grande par-
cela do PIB mundial.1 A mudança de modelos operacionais em nível nacio-
nal para modelos globais permite que haja a exploração, por parte dessas
para se chegar a um planejamento tributário que proporcione uma redu-
ção da carga tributária para o grupo econômico.2
No entanto, estratégias para a realização de planejamento tributário
agressivo tendem a causar uma erosão da base tributária doméstica, im-
pactando diretamente o atendimento de setores como educação, saúde e
segurança pública dos países afetados.3 Além disso, tais estratégias pre-
judicam os cidadãos, que passam a arcar com uma maior carga tributária
4 Empresas nacionais também
1 OXFAM. Business among friends: why corporate tax dodgers are not yet losing
sleep over global tax reform. 2014, p. 4. Disponível em: https://www-cdn.oxfam.org/
-
-120514-en_0_1.pdf. Acesso em: 10 ago. 2020.
2 Ibid., p. 4/5.
3 OECD. Combating international tax avoidance. Disponível em: https://www.oecd.org/
about/impact/combatinginternationaltaxavoidance.htm. Acesso em: 10 ago. 2020.
4 Ibid.
Plano base erosion and profit shifting 191
competir com empresas multinacionais que exploram técnicas para a re-
dução da carga tributária.5
Estima-se que, anualmente, os países percam, em média, entre $100 e
$240 bilhões devido às estratégias de planejamento tributário agressivo, o
que equivale a 4%-10% da receita global de imposto de renda corporativo.6
maior para esses países, quando em comparação com os países desenvol-
vidos.7
-
nejamento tributário agressivo8 – e baixa capacidade de coleta de dados
sobre as multinacionais atuantes em seus territórios9 fazem com que os
países em desenvolvimento sejam mais expostos a estratégias de planeja-
mento tributário agressivo. Proporcionalmente, países em desenvolvimen-
10
às estratégias de planejamento tributário agressivo realizadas por em-
presas multinacionais, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvi-
mento Econômico (OCDE) e o G20 formularam o Plano Base Erosion and
(Plano BEPS), por meio do qual foi formulado um pacote
e instrumentos nacionais e internacionais necessários ao combate dessas
estratégias, de forma a garantir que os lucros das empresas multinacionais
sejam tributados onde as atividades econômicas estão sendo realizadas e
onde o valor é criado.11
Face a essas considerações, será testada, no presente trabalho, a
países em desenvolvimento, a despeito de esses países serem os mais pre-
judicados em relação às estratégias de planejamento tributário agressivo.
5 Ibid.
6 OECD. Understanding tax avoidance. Disponível em: https://www.oecd.org/tax/
beps/. Acesso em: 11 ago. 2020.
7 Ibid.
8 UNITED NATIONS ECONOMIC COMMISSION FOR AFRICA (UNECA).
p. 67. Dispo-
nível em: -
t_26feb_en.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
9 UNITED NATIONS. Developing countries’ reactions to the G20/OECD Action Plan on
p. 378. Disponível em: https://www.un.org/esa/ffd/
wp-content/uploads/2015/10/11STM_G20OecdBeps.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
10
developing countries. IMF Working Paper WP/15/118 (2015). Disponível em: https://
www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2015/wp15118.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
11 OECD. BEPS Actions. Disponível em: http://www.oecd.org/tax/beps/beps-actions/.
Acesso em: 29 set. 2020.
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