Plataformas, sociedade e estado: a organização do trabalho e produção nas plataformas digitais de trabalho

AutorMassimo De Minicis - Priscila Lauande
CargoPesquisador filiado ao INAPP (Istituto Nazionale per l'Analisi delle Politiche Pubbliche) - Doutoranda em Autonomia Privada, Negócio, Trabalho e Tutela do Direito na Perspectiva Europeia e Internacional (Sapienza Università di Roma)
Páginas83-104
PLATAFORMAS, SOCIEDADE E ESTADO: A ORGANIZAÇÃO DO
TRABALHO E PRODUÇÃO NAS PLATAFORMAS DIGITAIS DE
TRABALHO
PLATFORMS, SOCIETY AND STATE: THE ORGANIZATION OF
WORK AND PRODUCTION IN DIGITAL WORK PLATFORMS
Massimo De Minicis1
Priscila Lauande2
RESUMO: O objetivo do presente artigo é analisar as estruturas emergentes no trabalho e na economia para além
dos conceitos tradicionais de trabalho e sociedade, aderindo a modelos e perfis cog nitivos do pós-fordismo que
forjaram representações, análises e imaginações ao longo de uma fase delimitada pela crise ec onômica dos anos
2000. O estudo pretende analisar as novas formas de p rodução da era digital algorítmica, o seu funcionamento e
impacto na sociedade. A p erspectiva teórica consiste na utilização de uma renovada análise desta dimensão
produtiva através de um viés teórico crítico, recorrendo, assim, a uma abordagem analítica baseada no pensamento
e na interpretação da automação, da produção e do trabalho decorrente das ideias de Karl Marx. Uma teoria crítica
para uma nova análise do trabalho e da produção por algoritmos.
PALAVRAS-CHAVE: Plataformas de trabalho; Sociedade; Precarização.
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Máquinas, Em presa, Trabalho. 3. Gênese e natureza da produção digitalizada. 4
Imaterialidade e valo r nas plataformas digitais de trabalho. 5. O ciclo de produção da plataforma de trabalho. 6.
Subemprego e Polarização Tecnológica. 7. Propostas. Referências Bibliográficas.
ABSTRACT: The aim of this paper is to analyze the emerging st ructures in work and the economy beyond the
traditional concepts of work and society, adhering to the cognitive models and profiles of post-Fordism that forged
representations, analyses and imaginations throughout a phase delimited by the economic crisis of th e 2000s. The
study aims to analyze the new forms of production o f the algorithmic digital age, their functioning and imp act on
society. The theo retical perspective consists in using a renewed analysis of this productive dimension through a
critical theoretical bias, thus drawing on an analytical approach based on the thinking and interpretation of
automation, production and labor stemming from the ideas and work of Karl Marx. A critical theory for a new
analysis of work and production by algorithms.
KEYWORDS: Work platforms; Society; Precariousness.
SUMMARY: 1. Introduction. 2. Machines, Company, Work. 3. Genesis and nature of digitized production. 4.
Immateriality and value in digital work platforms. 5. The work platform production cycle. 6. Underemployment
and Technological Polarization. 7. Proposals. Bibliographic references.
1 INTRODUÇÃO
Artigo enviado em:16/06/2021
Artigo aprovado em: 20/08/2021
1Pesquisador filiado ao INAPP (Istituto Nazionale per l’Analisi delle Politiche Pubb liche).
2Doutoranda em Autonomia Privada, Negócio, Trabalho e Tutela do Direito na Perspectiva Europeia e
Internacional (Sapienza Università di Roma).
A expressão desemprego tecnológico foi criada por Lord Keynes nos anos 30, mas a
questão das máquinas substituindo o trabalho humano já havia sido discutida muitos anos antes.
Durante muito tempo, o estudo da relação entre desenvolvimento tecnológico, tendências de
emprego e redistribuição de renda tem sido o foco de grandes economistas, incluindo Ricardo
e Marx. Este caminho analítico retorna hoje aos holofotes com o sucesso das TIC, a
globalização e a financeirização dos mercados. Esta teoria partiu do pressuposto de que as
grandes máquinas aplicadas à produção seriam capazes de executar a maioria das formas de
trabalho atuais melhor do que as pessoas e a um custo menor.
Com a tecnologia atual, as tarefas físicas previsíveis e a coleta e processamento de dados
tornam-se particularmente vulneráveis, sujeitas à substituição por máquinas. Neste sentido, em
sua forma atual, da Indústria 4.0 à economia da Plataforma de Trabalho, a estratégia de
automação dos processos de produção é interpretada como uma teoria que determina processos
para reduzir o valor da força de trabalho no ciclo de produção, uma ação produtiva orientada
para determinar uma teoria do fim do trabalho na economia de mercado, para uma economia
pós-mercado (Rifkin, 1995). Esta teoria deveria identificar um domínio crescente da parcela
do capital constante (maquinaria) sobre a parcela do capital flexível (força de trabalho).
As famosas estimativas de Carl Benedikt Frey e Michael Osborne, em seu estudo
Tecnologia no trabalho, preveem, por exemplo, a automatização de cerca de 47% das ocupações
nos Estados Unidos nas próximas décadas, resultando na perda de empregos. De acordo com
esta abordagem teórica, nas próximas décadas, devemos ver um maior foco na busca de novas
possibilidades e tarefas para a força de trabalho humana, empregada em atividades cada vez
menos hierárquicas e rigidamente estruturadas, envolvendo habilidades altamente
especializadas e adquirindo formas inovadoras de renda para substituir o conceito tradicional
de salário.
Se também aceitarmos a análise de (Brynjolfsson, McAfee, 2015), a automação digital
aplicada à produção exigirá menos mão-de-obra, mas altamente qualificada. Esta análise
transforma o conceito de evolução tecnológica em um caminho de progresso objetivo em
termos da qualidade da produção e do perfil dos trabalhadores empregados.
Mas estamos certos de que o que está acontecendo produzirá esses efeitos? Ou o
trabalho continuará sendo central e as máquinas intensificarão seu uso e a produção de valor?
Em vez disso, confirmando análises opostas àquelas destacadas que veem no uso de máquinas
em produção uma necessidade inequívoca de intensificar a produtividade da força de trabalho
humana a custos salariais e de produção mais baixos (Caffentzis, 2013), (Permanente, 2017).

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