A poesia a favor do réu
| Autor | Ernani Buchmann |
| Cargo | Advogado |
| Páginas | 248-248 |
248 REVISTA BONIJURIS I ANO 32 I EDIÇÃO 666 I OUT/NOV 2020
ALÉM DO DIREITO
Ernani BuchmannADVOGADO
A POESIA A FAVOR DO RÉU
como barbada, inclusive por se
tratar de réu confesso.
O lado da defesa estabele-
ceu-se com José Maria Alck-
min, que logo viu o tamanho da
encrenca. Pensou em diversas
alternativas até resolver des-
pachar para a comarca o jorna-
lista e poeta Guilhermino Ce-
sar, então estudante de direito.
Guilhermino viajou com
ordens expressas de amolecer
o coração do juiz, declamando
poesia para suas filhas, adep-
tas das trovas. Ele chegou,
apresentou-se na casa do ma-
gistrado e passou alguns dias
recitando todo o seu repertó-
rio de poemas, dos menos me-
losos até os muito românticos.
A estratégia deu resultado.
As moças ficaram encantadas
com aquele jovem dedicado
às rimas. Decerto viam ali um
bom partido.
É verdade que Tancredo ga-
nhou o júri, com o réu conde-
nado a nove anos de reclusão.
Mas Alckmin ficou eufórico.
“Meu rapaz”, disse para Gui-
lhermino, “o réu pregou a cabe-
ça do amigo no chão, a golpes
de martelo. Esse homem mere-
cia 900 anos. Se só levou nove,
deve-se a sua poesia”.
A poesia não era dele, re-
trucou. Alckmin encerrou a
discussão com um argumento
definitivo:
— Pois se não era sua, pas-
sou a ser. Estamos conversa-
dos.
E voltaram ambos a Belo
Horizonte, sem mais notícias
daquelas moças carentes de
uns versos bem declamados. n
Duas raposas da políti-
ca mineira, Tancredo
Neves e José Maria
Alckmin, antes de se-
rem parceiros no anti-
go (Partido Social Demo-
crático), foram adversárias em
um caso famoso pela violência
do crime.
Deu-se que em uma comar-
ca do sul de Minas dois amigos
de longa data passaram a noite
bebendo até engatarem uma
séria discussão. A coisa termi-
nou mal, em homicídio.
O promotor era Tancredo,
estimado na cidade pela voz
melíflua e pelo bom trato com
a população. O caso era tido
Simon Taylor
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