Potentialities and challenges in the articulation between memory and organizational learning: the Bunge Memory Center/Sessao especial--Fast Track SEMEAD: Potencialidades e desafios na articulacao entre a memoria e a aprendizagem organizacional: o Centro de Memoria Bunge.

AutorParrilla, Franciele Aline
CargoRecursos Humanos e Organizacoes

Introducao

A memoria organizacional e um conceito central nas teorias de gestao do conhecimento e aprendizagem organizacional (Olivera & Casey, 2003). Estudos demonstram que o armazenamento de novos conhecimentos e o uso de conhecimento armazenado sao componentes-chave da aprendizagem organizacional (Huber, 1991; Levitt & March, 1988). Outros ainda evidenciam que as decisoes sao suscetiveis de serem mais eficazes quando consideradas em termos de historia da organizacao do que quando feitas em um vacuo historico (Walsh & Ungson, 1991). Prover o acesso ao conhecimento disperso pode reduzir as despesas da organizacao no desenvolvimento de solucoes para problemas comuns. Alem disso, a transferencia de conhecimentos internos pode contribuir para o desenvolvimento de capacidades organizacionais por meio da identificacao e reproducao de "melhores praticas" (Olivera, 2000).

Nesse sentido, a capacidade da organizacao em coletar, armazenar, recuperar e usar o conhecimento gerado por meio da experiencia pode ter importante impacto no desempenho e eficacia da organizacao (Stein, 1995; Jennex & Olfman, 2002). Armazenar o conhecimento e usa-lo de modo eficaz pode facilitar a gestao, contribuir para o desenvolvimento de produtos inovadores (Moorman & Miner, 1997) e ate mesmo servir para reconstruir uma organizacao (Olivera, 2000).

Muitas organizacoes tem reconhecido a necessidade e as vantagens de coletar, armazenar e prover acesso ao conhecimento disperso. Para isso, tem implantado sistemas e criado espacos onde esse conhecimento possa ser organizado, conservado e facilmente consultado, quando necessario. Algumas organizacoes tem criado centros de excelencia, formados por grupos de especialistas, destinados a obter informacoes sobre as experiencias da organizacao e liberando o acesso a elas. Ha, contudo, poucos trabalhos empiricos que analisam como as organizacoes realmente armazenam conhecimento experiencial e como individuos acessam este conhecimento (Olivera, 2000).

Outra razao para aprofundar nossa compreensao sobre memoria organizacional, afirma Stein (1995), e seu carater dialetico no que se refere a aprender versus desaprender, flexibilidade versus estabilidade, recursos humanos versus tecnologias de informacao. Essa dialetica e essencial para o planejamento, comunicacao, tomada de decisao e processamento de informacao nas organizacoes (Stein, 1995). Argyris e Schon (1978) destacam a importancia da memoria organizacional na aprendizagem, argumentando que para ocorrer aprendizagem organizacional as descobertas, as invencoes e as avaliacoes dos agentes do aprendizado devem ser incorporadas na memoria organizacional. Weick (1979) argumentou que as organizacoes devem aceitar e viver com suas memorias porque a memoria e um importante coprodutor da identidade da organizacao.

O gerenciamento de memoria e uma atividade diaria na maioria das organizacoes e, em geral, os processos de memoria organizacional podem ter um efeito significativo no funcionamento das organizacoes. Stein (1995) argumenta que "Uma melhor compreensao da memoria organizacional pode auxiliar os gestores na elaboracao e resolucao de problemas relacionados a retencao e uso do conhecimento organizacional dentro de suas organizacoes para alem do apoio fornecido pelas tecnologias de informacao atuais" (p. 3).

Algumas das vantagens da memoria organizacional compreendem o aprimoramento da core competence da organizacao, o aumento da aprendizagem organizacional, a maior autonomia e os menores custos de transacao (Stein, 1995). Jennex e Olfman (2004) destacam no contexto da aprendizagem organizacional que a memoria organizacional "e necessaria para facilitar o processo de processamento e retencao de informacao e conhecimento necessario para que a aprendizagem aconteca" (p. 220).

A literatura sobre o tema enfatiza o carater disperso da memoria organizacional, pois o conhecimento pode ser armazenado em diferentes repositorios (Olivera, 2000; Walsh & Ungson, 1991; Jennex & Olfman, 2002). Para que um sistema de memoria organizacional seja bem sucedido, os designers de memoria devem criar processos que reintegrem informacao e conhecimento (Jennex & Olfman, 2002). Os centros de documentacao e memoria criados nas organizacoes sao um exemplo de repositorio de memoria organizacional--podendo ser considerados centros de conhecimento, conforme a definicao de Olivera (2000). As politicas de preservacao da memoria historica cumprem a funcao de preservacao da memoria de uma organizacao, podendo constituir um instrumento para a gestao da cultura de uma empresa e de sua identidade; apoio para redefinicoes estrategicas de negocios, para desenvolvimento de projetos e acoes de comunicacao interna e externa; contribuicao para o incremento de politicas de gestao do conhecimento; contribuicao para a politica e acoes de responsabilidade social, sobretudo voltadas para projetos que remetam a dimensao da empresa como parte constitutiva da historia e da memoria coletiva nacional (Goulart, 2002; Sousa, 2010).

A conservacao da memoria historica empresarial nao tem como unica finalidade preservar a documentacao, podendo ser uma ferramenta auxiliar nas tomadas de decisao e planejamento estrategico. Ela "contempla substancialmente a preservacao e disseminacao do patrimonio tecnico-informativo bem como do conhecimento tacito gerado e acumulado por pessoas diretamente envolvidas na construcao da historia e consolidacao da identidade e imagem de uma empresa" (Sousa, 2010, p. 41).

As organizacoes aprendem, sendo elas conscientes desse aprendizado ou nao, e tem em sua memoria um importante elemento desse processo. Nao tendo consciencia, nao usam essa fonte de AO e, assim, como fonte de vantagem competitiva. Um dos mais ricos acervos de memoria empresarial do pais, o Centro de Memoria Bunge consiste em importante elemento de aprendizagem organizacional e representa uma oportunidade de estudo a respeito de sua atuacao, potencialidades e desafios.

Centros de memoria podem ser considerados centros de conhecimento onde se coletam, conservam e usam conhecimentos. Embora muito se tenha estudado sobre aprendizagem organizacional e memoria organizacional, a articulacao entre tais conceitos tem sido pouco explorada pela literatura. Pouco se sabe tambem sobre o uso dos centros de memoria com o objetivo de promover aprendizagem organizacional. Por isso, considerando que "as historias carregam a memoria organizacional, e o seu desenvolvimento constitui aprendizagem organizacional" (Sims, 2001, p. 65), este artigo tem como objetivo principal "analisar a articulacao entre a memoria organizacional e aprendizagem organizacional por meio da analise da atuacao do Centro de Memoria Bunge".

O estudo esta distribuido em cinco secoes, de forma a atender ao objetivo geral da pesquisa. Na primeira, esta a introducao da pesquisa e seu objetivo geral; na segunda sao apresentados os fundamentos teoricos, que tratam da Memoria Organizacional e da Aprendizagem Organizacional. A terceira secao apresenta o trajeto metodologico da pesquisa, enquanto nas quarta e quinta se analisam os resultados e sao efetuadas as conclusoes do estudo, respectivamente.

Fundamentacao teorica

Memoria organizacional: aspectos teoricos, funcoes e usos

A memoria organizacional tem sido objeto de analise de diversas areas do conhecimento, por meio de diferentes perspectivas. Varias areas tem contribuido para o debate sobre o tema: aprendizagem organizacional, comunicacao, teoria da informacao, inteligencia competitiva, gestao do conhecimento, desenvolvimento organizacional, gestao da mudanca, gestao da inovacao, cultura e comportamento organizacional, teoria das organizacoes, teoria dos sistemas, psicologia social, sociologia organizacional, historia empresarial, politica e economia (Stein, 1995). A extensa literatura sobre o tema aborda desde sua conceituacao ate a sua aplicacao, sem um consenso quanto a sua definicao (Casey & Olivera, 2003; Jennex & Olfman, 2004).

Abordar a memoria como um fenomeno organizacional e coerente com um corpo crescente de literatura que sugere que as organizacoes processam, armazenam e usam informacoes e que essas atividades coletivas podem ser vistas como distintas da atividade de agentes individuais (Cyert & March, 1963; Huber, 1991; Moorman & Miner, 1997). Sob esse ponto de vista, as acoes dos membros de uma organizacao podem conduzir a interacoes da organizacao com o mundo, trazendo resultados que sao interpretados e compartilhados entre os seus membros, criando a memoria organizacional sob a forma de crencas compartilhadas, valores, pressupostos, normas e comportamentos (Argyris & Schon, 1978; Levitt & March, 1988; Moorman & Miner, 1997). A nocao de processos mentais coletivos tem sido criticada por incentivar a reificacao e generalizares de fenomenos individuais as acoes do grupo. Entretanto, a memoria organizacional parece distinguir-se claramente da memoria individual (Moorman & Miner, 1997).

Walsh & Ungson (1991) ponderam que a memoria organizacional e um constructo multinivel, acontecendo em nivel individual, grupal e organizacional. Para os autores, as interpretacoes e solucoes de problemas variam de acordo com o individuo, contudo, o que da coerencia as interpretares dos individuos que compoem a organizacao e o compartilhamento de tais interpretares.

Nesta pesquisa assume-se a definicao de memoria de Walsh & Ungson (1991) como artefatos mentais e estruturais que tem efeitos indiretos sobre o desempenho da organizacao e se refere a informacao armazenada a partir da historia da organizacao que pode ser trazida para basear as decisoes presentes. Essa memoria e composta por tres categorias conceituais: estrutura, conteudo, e processos de aquisicao, armazenagem e recuperacao (Olivera, 2000; Walsh & Ungson, 1991).

No que se refere a sua estrutura, a memoria organizacional e constituida por diferentes locais de armazenamento compostos por seis repositorios: cinco deles internos a organizacao os...

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