Povos Tupinambás e classificação social: um rompimento do tecido comunitário pela modernidade/colonialidade

AutorVictória Taglialegna Salles, Rainer Bomfim
Páginas202-220
POVOS TUPINAMBÁS E
CLASSIFICAÇÃO SOCIAL
UM ROMPIMENTO DO TECIDO
COMUNITÁRIO PELA
MODERNIDADE/COLONIALIDADE
Victória Taglialegna Salles1
Rainer Bomfim2
Foto: Isis Medeiros (2019).
Soy latino
Panamericano mameluco
Misturado com cigano
Soy latino
África do baque do batuque
Do contato lusitano
Yo no soy un perro perdido
Tengo el sol en mí corazón
(Lucas Ucá. Corazón. Brasil, 2018)
Resumo: A partir da exposição de uma narrativa histórica descritiva
eurocêntrica da organização social dos Povos Tupinambás no
Brasil, o presente trabalho científico realiza uma abordagem crítica
por meio da apresentação das relações do sujeito feminino na
aldeia, identificando características da colonialidade de poder e
saber que romperam o tecido comunitário indígena, bem como
ocultaram a autonomia dos povos tradicionais. Traz-se a criação das
categorias gênero e raça como exercício legitimado de poder,
compreendendo que a ótica da modernidade se perpetua nos dias
atuais por meio de uma matriz republicana burguesa. Identifica-se a
reprodução do discurso moderno pelo Estado Democrático de
Direito, apesar do reconhecimento dos indígenas como sujeitos de
direito, propondo-se uma nova interpretação do problema apontado.
Apresenta-se, como proposição, a devolução da autonomia dos
povos tradicionais a partir do pluralismo, buscando-se o
reconhecimento da diversidade enquanto individualidade e
coletividade. Como ruptura, tenciona a luta pela existência de um
Estado restituidor da jurisdição própria e do foro interno comunitário
que garanta a deliberação dos povos tradicionais, possibilitando que
o próprio povo construa seu projeto histórico. A operacionalização
da pesquisa dar-se-á pelo método jurídico-sociológico, por meio da
análise de dados quantitativos secundários e de revisão bibliográfica
para o embasamento teórico.
Palavras-chave: Colonialidade. Modernidade. Povos Tradicionais.
Estado Democrático de Direito. Autonomia.
1. Introdução
A classificação social imposta pelo modelo europeu sobre as
Américas, em razão do sistema de produção capitalista, ocultou
toda a história dos povos tradicionais que aqui se
encontravam/encontram e sua forma de organização social,
rompendo o tecido comunitário das aldeias a partir de uma matriz de
poder que impediu a assunção de toda descontinuidade construída
por essas comunidades fora do denominado padrão social
moderno3.
Nesse sentido, compreender as relações de gênero e as
modificações das organizações sociais dos povos tradicionais
resultantes da colonialidade de poder é de suma importância em

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