Práticas de governança e futebol: um estudo em clubes do Rio Grande do Sul

AutorRégis Michels Nazi, Nério Amboni
CargoUniversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)/Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Páginas91-108
Práticas de governança e futebol: um estudo em clubes do Rio Grande do Sul
R C A
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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RESUMO
O artigo descreve os resultados do estudo multicasos sobre a
aplicação de práticas de governança corporativa nas agremia-
ções de futebol prossional: GE Brasil, SER Caxias, EC Juventude
e EC Pelotas entre 2012 e 2016. Por meio de análise bibliográ-
ca, documental e entrevistas, busca-se identicar a adoção de
princípios governança a partir de cinco dimensões presentes
na literatura: estrutura de governança, transparência, accoun-
tability, retorno social e práticas gerenciais. Observou-se que as
dimensões estrutura de governança e práticas gerenciais foram
fundamentais para o GE Brasil e EC Juventude no período. A
SER Caxias, apresentou melhora somente em 2016, e o EC Pe-
lotas possui problemas nas dimensões preponderantes para
o sucesso dos demais clubes pesquisados. Em consonância
com estudos anteriores na área, percebeu-se que os clubes
que adotaram práticas de governança com maior intensidade,
obtiveram melhores resultados esportivos.
Palavras-Chave: clubes de futebol; gestão esportiva; gover-
nança corporativa.
ABSTRACT
The paper describes the ndings of the multicase study about
the application of corporate governance practices of profesio-
nal football associations: GE Brasil, SER Caxias, EC Juventude
and EC Pelotas between 2012 and 2016. Using documents
and interviews, aims to identify the adoption of governance
principles in ve dimensions: governance structure, disclosure,
accountability, corporate social responsibility and managerial
practices. It is observed that the dimensions governance struc-
ture and managerial practices were fundamental to GE Brasil
and EC Juventude in that period. The SER Caxias, on the other
hand, presents an improvement only in 2016, and EC Pelotas
has problems in the dimensions preponderant of the success
of the other clubs surveyed. In line with previous studies in
this area, it was noticed that clubs who adopted governance
practices with major intensity, get better sport performance.
Key-words: corporate governance; football clubs; sport
management.
Práticas de governança e futebol:
um estudo em clubes do Rio Grande do Sul
Governance practices and football: a study in Rio Grande do Sul clubs
Régis Michels Nazi
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
email: regisnazi@yahoo.com.br
Nério Amboni
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC).
email: amboni30@yahoo.com.br
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-8077.2020.e61620
Recebido em: 18/02/2019
Aceito em: 19/11/2020
Régis Michels Nazi • Nério Amboni
Revista de Ciências da Administração • v. 22, n. 56, p. 91-108, Abril. 2020
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R C A
1 INTRODUÇÃO
O futebol é uma importante atividade econô-
mica e social que segundo um estudo do Itaú-BBA
(2018), as receitas brutas dos 27 principais clubes
brasileiros se aproximam dos R$ 5 bilhões, entretanto,
as dívidas destas agremiações chegam a aproximada-
mente R$ 6,6 bilhões. Verica-se que, mesmo mo-
vimentando quantias nanceiras progressivamente
maiores, Freitas e Fontes Filho (2011), apontam que
o problema das entidades desportivas pode estar
relacionado às suas administrações.
No Brasil, o Estado se constituiu como um
importante agente de mudanças no futebol do país,
desde a década de 1990, a legislação visa a estrutura-
ção dos clubes como entidades lucrativas. A criação
da Lei Zico, em 1993, que facultava o surgimento
de clubes-empresa, e, cinco anos mais tarde, da Lei
Pelé, que obrigava as instituições a se congurarem
juridicamente como associações empresariais. Tal
obrigação foi revogada com o ajuste na Lei Pelé, de
2003, que tornou opcional a conguração empre-
sarial para agremiações esportivas (GONÇALVES;
CARVALHO, 2006).
No ano de 2015, no entanto, surgiu o Progra-
ma de Modernização da Gestão e Responsabilidade
Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT). Silva e Silva
(2016), asseveram que a regulação propôs um novo
parcelamento das dívidas dos clubes que aderirem
ao programa, mas que em troca, as agremiações de-
veriam se comprometer com adaptações gerenciais.
Mesmo com o marco regulatório vigente, os
levantamentos recentes demonstraram (ITAÚ/BBA,
2018) que o quadro de endividamento das associações
brasileiras não apresentou retração. Situação seme-
lhante foi vericada na Inglaterra do início do século
por Michie e Oughton (2005), que ao analisarem 32
clubes britânicos, notaram a mesma dinâmica de
crescimentos simultâneos de receitas e débitos. Os
autores vericaram a aplicação de práticas de go-
vernança corporativa nas agremiações estudadas e
perceberam que as que apresentaram maior adesão
aos princípios de boa governança, obtiveram melhor
desempenho à época. Ao estender o estudo da apli-
cação de práticas de governança em 67 agremiações
europeias, Dimitropoulos (2014), identicou que a
descentralização do poder de decisão entre direção
e parceiros conferiu melhoras na credibilidade e
estrutura de capital.
O problema de insolvência de clubes de fute-
bol foi estudado em outros países. Na Alemanha,
Frick e Prinz (2006), identicaram uma média de
prejuízos superior a 2 milhões de Euros nas associa-
ções da primeira divisão alemã. Por sua vez, Dietl e
Franck (2007), apontam que haviam problemas de
governança que geravam instabilidade nanceira,
como regimentos desatualizados que não previam a
complexidade do ambiente competitivo do esporte.
Na França, Andre (2007), vericou que 40 agremia-
ções francesas dependiam de receitas oriundas de
direitos televisivos e venda de atletas para equilibrar
os balanços nanceiros, os frouxos mecanismos de
governança e de responsabilidade scal agravavam a
situação. Na Itália, Hamil, Morrow, Idle, Rossi e Fac-
cendini (2010), armam que os casos de corrupção e
a decadente média de público nos estádios italianos
vão ao encontro da negligente regulação nacional e
das incipientes práticas de governança das entidades
esportivas.
No Brasil, a conjuntura é semelhante e ao se
averiguar a adoção de preceitos empresariais, nota-se
que há muito a evoluir. Sob a ótica qualitativa, Mar-
ques (2005), investigou a governança de três clubes
paulistas, Freitas (2012), o fez em quatro agremiações
cariocas e Teixeira (2014), em três mineiras. Também
há pesquisas de viés quantitativo, como a de Rezende,
Facure e Dalmácio (2009), que estudaram o tema em
27 entidades e a de Oliveira (2011), que englobou 20.
Dentre as principais considerações, ressalta-se a rela-
ção positiva entre a adoção de práticas de governança
e desempenho esportivo. Outro dado a ressaltar, é de
que instituições que estão em ambientes mais compe-
titivos também possuem maior adesão aos princípios.
Diante destas considerações e da emergência do
estudo sobre a governança em agremiações esportivas,
desenvolveu-se o seguinte questionamento: “A adoção
de práticas de governança corporativa inuenciou o
desempenho esportivo de Esporte Clube Juventude
(EC Juventude), Esporte Clube Pelotas (EC Pelotas),
Grêmio Esportivo Brasil (GE Brasil) e Sociedade
Esportiva e Recreativa Caxias do Sul (SER Caxias),
no período entre 2012 e 2016?
Além de abordar clubes que ainda não foram
estudados sob a ótica da governança, ressalta-se

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