Prefácio

AutorEdilson Mougenot Bonfim
Páginas9-11
Prefácio
Marca o implacável calendário da lembrança, internalizado na consciência das
pessoas, que o tempo inexorável deve ser dispendido de forma a atender prioridades;
dessa consciência também advém a certeza de que a ninguém é dado o apossamento,
a paralização ou a reprodução deste mistério universal — o tempo —, sendo, pois, sábio,
aquele que inteligentemente o administra, na certeza de que sua volatilidade e dispersão são
as inarredáveis consequências de seu próprio uir. Tempo é como fama: “volat”, na serôdia
expressão de Virgílio (‘Eneida’, III, 121). Gire-se, portanto, este caleidoscópio temporal, esta
miríade de horas, escute-se o eco da memória dos anos e em alguma sessão plenária do júri
deste grande país, ouviremos a voz sentenciosa de um juiz-presidente do júri, dirigindo-se ao
promotor em tom grave e ocial: “Vossa Excelência tem 1h30m para produzir a acusação!”.
Ouve o “parquetier” a convocação para o embate, e eis que lhe surge, neste momento,
seu mais implacável inimigo, ele mesmo, o tempo — “senhor da razão”, dirão outros —
que com seu látego em forma de ponteiros, nos adverte em sua marcha inexorável que se
não o administrarmos, não selecionarmos, não priorizarmos, da prova que eventualmente
tenhamos nada advirá como conhecimento; da tese que abraçamos, não exsurgirá o amparo
necessário pelos jurados, e tudo por causa de sua errônea utilização.
E digo do tempo, na ciência de que quanto mais os anos se encurtam, mais se torna
inerente essa consciência à nossa percepção; maior o tempo transcorrido, mais valorizarmos
os créditos de minutos, como se horas fossem, e estas, valoradas como os dias, que
antes gastávamos perdulariamente sem a pré e real consciência do quão fugidio é o deus
Chronos... tal como em um exaustivo plenário, que quando nos apercebemos o tempo se
esvaiu e tanta coisa ainda existe por ser abordada...
* * *
Pois, assim, começo homenageando o autor desta obra: Francisco Dirceu Barros,
que por longos anos honrou a tribuna do Ministério Público no tribunal do júri do interior
de Pernambuco, dando ao seu tempo de promotor a dignidade que as horas sociais lhe
precatavam e advertiam; e foi nesse tempo-experiência que amealhou a mais preciosa
das argilas, o conhecimento, aquela que misturada à água do labor — o suor inefável — foi

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