O primeiro escritório virtual

AutorAnita Zippin
CargoAdvogada
Páginas248-249
ALÉM DO DIREITO
248 REVISTA BONIJURIS I ANO 31 I EDIÇÃO 661 I DEZ19/JAN20
homenagem à maternidade,
porém que, na nossa estrutu-
ra social, em vez de estar re-
cebendo cuidados pré-natais,
espera pelo f‌ilho na cadeia.
É uma dupla liberdade a
que concedo neste despacho:
liberdade para Edna e liber-
dade para o f‌ilho de Edna que,
se do ventre da mãe puder ou-
vir o som da palavra humana,
sinta o calor e o amor da pala-
vra que lhe dirijo, para que ve-
nha a este mundo tão injusto
com forças para lutar, sofrer e
sobreviver.
Quando tanta gente foge
da maternidade; quando mi-
lhares de brasileiras, mesmo
jovens e sem discernimento,
são esterilizadas; quando se
deve af‌irmar ao Mundo que os
seres têm direito à vida, que é
preciso distribuir melhor os
bens da Terra e não reduzir os
comensais; quando, por moti-
vo de conforto ou até mesmo
por motivos fúteis, mulheres
se privam de gerar, Edna en-
grandece hoje este Fórum, com
o feto que traz dentro de si.
Este Juiz renegaria todo o
seu credo, rasgaria todos os
seus princípios, trairia a me-
mória de sua Mãe, se permi-
tisse sair Edna deste Fórum
sob prisão.
Saia livre, saia abençoada
por Deus, saia com seu f‌ilho,
traga seu f‌ilho à luz, que cada
choro de uma criança que
nasce é a esperança de um
mundo novo, mais fraterno,
mais puro, algum dia cristão.”
Foi ao vê-la grávida, in-
comodada com o peso da
barriga, pois recusou sentar-
-se dizendo que f‌icava mais
à vontade em pé, que pude
compreender a dimensão do
sofrimento dessa mãe. Foi
diante de Edna mulher, Edna
ser humano, que pude com-
preender o que signif‌icava
para ela estar detida.
Pouco tempo depois, Edna
veio se apresentar em juízo,
como tinha sido determinado.
Trouxe no colo a f‌ilhinha que
estava no ventre no dia em
que foi solta. Ela me disse, en-
tão, que, no dia em que foi li-
bertada, prometeu a si mesma
que poderia passar fome, mas
prostituta nunca mais seria. n
Anita Zippin ADVogADA
O PRIMEIRO ESCRITÓRIO VIRTUAL
“A bondade é um rico
manancial, que brota
lágrimas ao toque da
menor comoção”
J D
NASCI E CRESCI um escritó-
rio de advocacia diferente, em
meio a livros, jornais, máqui-
nas, salas intermináveis, pes-
soas estranhas que tinham
livre acesso a todos os com-
partimentos, muitos recados
dos secretários para muita
gente, fotograf‌ias de pessoas
nunca antes vistas e um enor-
me quarto lotado de balas e
chocolates.
Lembro-me que muitos
foram os estudantes e advo-
gados que passavam as tar-
des usando as instalações do
escritório do meu pai. Mui-
tos deles assimilando o jei-
to sério e, ao mesmo tempo,
informal de meu pai andar
ao lado da Justiça e de ter as
portas de todos os gabinetes
abertas. Alguns seguiram os
passos de Dálio Zippin, como
nas centenas de adoções le-
gais realizadas por ele, tendo
acompanhamento das auto-
ridades judiciais, em especial,
do desembargador Francisco
Cunha Pereira, o primeiro juiz
de menores da capital.
Outros passaram para o
lado do livre-comércio, como
se criança fosse mercadoria,
e cometeram erros que, se as
leis dos homens não conse-
guem punir, as divinas trata-
rão de dar f‌ino trato às almas
penadas.
Do escritório central, sem-
pre na rua XV de Novembro
em Curitiba, meu pai multipli-
cou as salas, percorrendo mui-
tos municípios, como Parana-
vaí, Maringá, Dois Vizinhos,
Foz do Iguaçu e Londrina, e
em todos havia o toque do
mestre que deixava tudo à dis-
posição de seus colegas recém-
-chegados à cidade ou, mesmo,
aos advogados militantes sem
condições de pagar aluguel.
Dali, o espaço se multipli-
cou para o Rio de Janeiro. Mas
foi em São Paulo que meu pai
dividia a semana com Curiti-
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Em Giz de Aprendiz, o autor do famoso “Curitiba não nos
poupa, ontem tomei sorvete, hoje tomo sopa” apresenta
versos métricos que se completam ou se contradizem
ao longo de suas sílabas. Uma brincadeira proposital de
sua genialidade, que gosta de deixar a imaginação do
leitor em dúvida e que não busca ser sempre lógica e
previsível, pois é justamente o imprevisível que fascina
e molda os versos.
GIZ DE APRENDIZ
COLEÇÃO HELENA KOLODY
Alvaro Posselt
Rev-Bonijuris_661.indb 248 14/11/2019 17:45:47

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