Principais patologias em edificações

AutorSimone Feigelson Deutsch
Páginas138-166

Page 138

As patologias em edificações podem ter origens diferenciadas. Fatores endógenos, exógenos, funcionais e naturais podem inter-ferir na edificação, gerando problemas diversos.

Page 139

Normalmente tem-se uma combinação de fatores que são provenientes de irregularidades diversas, tais como projeto e execução deficiente ou falta de manutenção, gerando danos dos mais diversos tipos.

Na análise das patologias das edificações em diversos casos existentes na engenharia legal, o profissional deverá analisar cada item construtivo detectando a origem da patologia e sua extensão.

4.2. 1 Sistema Estrutural

O sistema estrutural é um ponto imprescindível a ser analisado quando se trata de laudo de observação de vícios construtivos. Para verificação, se os problemas existentes são estruturais é importante uma análise das solicitações existentes sobre a edificação e suas consequências.

Os problemas podem ser oriundos de ações nas fundações e do tipo de solo onde a edificação se encontra.

O importante nas fundações é a compatibilização das tensões oriundas das cargas a serem aplicadas ao solo com a capacidade resistente do mesmo.

As patologias identificadas nas edificações ou em bases de equipamentos a partir de deformações diferenciais, ou recalques diferenciais do solo, ocorrem pelo deslocamento não uniforme dos solos onde estão assentes as fundações.

Os recalques nas fundações podem aparecer decorridos um período de tempo após a conclusão da obra, conforme DE SOUZA e RIPPER (1998):

toda edificação, durante a obra ou mesmo após a sua conclusão, por um determinado período de tempo, está sujeita a des-

Page 140

locamentos verticais, lentos, até que o equilíbrio entre o carregamento aplicado e o solo seja atingido.

No sistema estrutural, os esforços são distribuídos nas peças: vigas, lajes e pilares. As principais anomalias que são detectadas apresentam-se sob a forma de fissuras.

FISSURA

Fissuras são aberturas que surgem nos materiais, oriundos, em geral, da solicitação de tração. Sempre que se observa a existência de fissuras é porque algo não previsto originariamente ocorreu, excedendo a capacidade de resistência do material; várias ações podem interferir na estrutura e gerar o aparecimento das fissuras.

A variação da temperatura é uma ação que gera deformações ativas. Na análise das estruturas deverão ser verificados os mate-riais que compõem as mesmas. No caso de estruturas de concreto existem vários problemas oriundos da deficiência da qualidade do concreto, tais como: tipo de cimento; falta de cura adequada; deficiência no traço; deficiência no amassamento mecânico, lançamento e adensamento; falta do controle tecnológico; problemas no fator água-cimento.

A deficiência na execução do concreto pode ocasionar diver-sos problemas. Os casos comuns são a formação de brocas, mau adensamento, execução de cobrimento inadequado, retirada não ordenada de escoramento e impactos no concreto ainda verde, normalmente oriundos da retirada mal feita das formas.

Um dos fatores que geram um concreto de má qualidade é o fator água-cimento inadequado. O concreto de baixo desempenho ocasiona problemas de corrosão, acarretando menor durabilidade e menor resistência para os elementos estruturais.

Page 141

RECOMENDAÇÕES RELATIVAS ÀS ABERTURAS DAS FISSURAS

  1. identificar se estão relacionadas a problemas estruturais;

  2. verificar se há alguma relação com um problema externo como, por exemplo, ação do vento ou da água;

  3. verificar a estabilidade ou progresso da anomalia, ou seja, verificação da atividade da fissura (se a mesma é ativa ou pas-siva). Para isso pode-se utilizar um selo de gesso; preenchendo a abertura com o material, verifica-se se haverá fissuração do gesso colocado, neste caso indica-se a continuidade da movimentação. Pode-se também realizar um teste com a fixação de uma plaqueta de vidro no local, com marcas de referências, observando-se se há deslocamentos;

  4. verificar a dimensão da abertura.

Foto 4.1 - Fachada com fissura horizontal, devido à dilatação térmica localizada no topo da edificação.

JUNTAS

As juntas são aberturas nas estruturas, executadas para pro-mover um alívio de tensões. Podem ser estruturais ou não estruturais, ativas ou passivas.

Page 142

Muitas vezes as juntas apresentam deficiência no sistema de vedação, ocasionando patologias. A deficiência existente permite a penetração de água, gerando a deterioração estrutural e o desplacamento dos materiais de acabamento.

MATERIAIS

Do ponto de vista patológico é importantíssimo o controle e a correta especificação dos materiais que serão utilizados no amassamento do concreto. Os agregados devem ser corretamente definidos, evitando-se substâncias que possam ser reativos com o cimento. O formato e tamanho dos agregados também devem ser analisados.

Recomenda-se a utilização de água potável isenta de impure-zas. No concreto armado, a presença de cloretos pode gerar corrosões nas armaduras.

CORROSÃO E CARBONATAÇÃO

Ocorre devido à poluição, umidade do ar, etc., gerando um caminho excelente para a carbonatação, provocando a abertura de trincas.

Segundo DE SOUZA e RIPPER (1998), a carbonatação no concreto é proveniente da ação do anidrido carbônico presente na atmosfera:

A ação do anidrido carbônico (CO2) presente na atmosfera, manifesta-se pelo transporte deste para dentro dos poros do concreto, e com a sua subsequente reação com o hidróxido de cálcio - existente na água do concreto - formando o carbonato de cálcio, o que implica carbonatação do concreto (redução do pH para valores inferiores a 9).

Em ambientes litorâneos, a ação dos íons cloreto do ar geram agressividade no concreto e nas armaduras. Os agentes da natu-

Page 143

reza reduzem o pH do concreto, com um ataque ácido às armaduras, com a formação de óxido de ferro. Essa situação ocasiona o aumento na dimensão da seção do aço, formando fissuras e expulsando a camada superficial do concreto, deixando a armadura exposta. Conforme CÁNOVAS (1988), "a corrosão dos aços no concreto armado tem dois inconvenientes importantes: produz desagregações no concreto e diminui a seção resistente das barras".

A corrosão por cloretos é mais danosa que por carbonatação, uma vez que por meio da carbonatação há o aviso na forma de trincas, e a corrosão por cloretos normalmente não avisa, há o imediato rompimento da peça.

Nas análises patológicas, em casos de corrosão é necessária a verificação do grau de alcalinidade da peça, com determinação do pH. O concreto é um material básico, composto por hidróxido de cálcio, entre outros elementos que produzem um meio com pH acima de 12, porém quando submetido a agressões essa característica desaparece. Conforme CÁNOVAS (1988):

O concreto é um material eminentemente básico porque em sua composição se encontram hidróxido de cálcio, sulfatos, álcalis, etc., que produzem um meio com o pH acima de 12, nas primeiras idades, até 13 nos concretos com mais idade. A armadura nessas condições está num meio alcalino ideal e, portanto, o aço está em forma passiva, entretanto por diversas causas, a passividade pode desaparecer em pontos localizados ou completamente.

As garagens nas edificações normalmente não têm revestimento na estrutura de seus tetos, sendo apenas eventualmente pintadas. Desta forma, são usualmente os locais onde primeiro se percebem os sinais de carbonatação e consequente corrosão das armaduras.

Page 144

O gás carbônico oriundo dos escapamentos dos carros e das águas de lavagem e eventualmente águas da chuva, leva a uma combinação que propicia a carbonatação.

Foto 4.2 - Armaduras expostas e em processo de corrosão.

4.2. 2 Sistema de Vedação

As alvenarias são os elementos de vedação utilizados para definir os compartimentos e ambientes de uma edificação. Podem ser estruturais ou apenas de vedação; em ambos os casos são compostas de elementos inertes ligados por um tipo de argamassa. Normalmente são revestidos. Servem de suporte e proteção para as instalações da edificação, quando embutidas, e criam condições de habitabilidade para a edificação.

Nas patologias verificadas em alvenarias muitas vezes detectam-se os seguintes problemas: prumo; massa de ligação de má qualidade; falta de amarração ou "aperto" inadequado. No caso de uma parede estar fora de prumo, é quase certo que necessitará

Page 145

ser demolida e refeita. A falta de amarração eventualmente pode ser corrigida com grampos metálicos ou cimento adequado.

A alvenaria estrutural, foto 4.3, é usada em edificações nas quais não haverá estrutura de concreto armado reticulada, e sim blocos de concreto ou cerâmico com resistência elevada, sendo resistentes, suportando as ações atuantes. Tais blocos são vazados, facilitando as instalações, principalmente a elétrica, que é conduzida pelo interior dos mesmos. A alma do bloco estrutural é vertical, o que possibilita a passagem dos conduítes concomitante à elevação da edificação. A alvenaria estrutural não admite cortes em suas paredes, que deverão ser realizados em pequenos trechos para fins específicos, tais como: colocação de interruptores e tomadas, quadros de luz, ramais hidráulicos e de esgoto secundários, etc. O ideal é a realização de cortes acompanhando...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT