Produção do discurso (laudo)

AutorJosé Fiker
Ocupação do AutorDoutor em Semiótica e Linguística Geral (com enfâse em Laudos Periciais) pela USP
Páginas49-54

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Todo discurso, quer seja religioso, político, científico ou de outra natureza, tem uma estrutura que é seguida, ainda que intuitivamente, pelo orador, desde a época de Aristóteles. Resumidamente, pode ser dito que ela lhe confere um princípio, um meio e um fim, com o objetivo de estruturá-lo e evitar repetições desnecessárias daquilo que já havia sido dito, bem como concatenar suas partes no sentido de que seja mais objetivo, aumentando sua capacidade de persuasão e tornado-o menos cansativo e mais atraente para o destinatário:

São partes principais do discurso:

• EXÓRDIO: apresentação do tema ou da tese a ser desenvolvida. Deve ser leve, incisivo, provocar uma mudança de comportamento no destinatário, de forma a tirá-lo de uma posição ou passividade e predispô-lo a ouvir ou ler o discurso.

• NARRAÇÃO: narrativa dos fatos que vão motivar o aparecimento da tese apresentada. Eles devem ser apresentados de forma a justificar uma ação que será exercida no sentido de dar resposta a esses fatos que clamam por uma solução ou por uma conclusão.

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• CONFIRMAÇÃO: exposição da tese para solucionar os problemas apresentados, ou concluir baseado nela.

• PERORAÇÃO: encerramento do discurso em final das conclusões apresentadas, colocando um final mediante uma frase de fecho conclamando o destinatário a aceitar a tese exposta.

Isso pode ser mais bem compreendido mediante um exemplo fictício prático extraído da obra de Medeiros Jr. e Fiker (1999). Imaginando que se queira dirigir uma campanha de emergência contra a fome e a miséria, tem-se:

• EXÓRDIO: Apresentação da tese – “Enquanto aqui estamos confortavelmente sentados, com a nossa atenção voltada para nossos problemas, cresce nas ruas o número de crianças carentes que morrerão prematuramente de fome ou que se transformarão em delinquentes e marginais”.

• NARRAÇÃO: Fatos que comprovam a tese – “1) As estatísticas demonstram que uma parte da inteligência do indivíduo é congênita e que outra se desenvolve a partir das condições sociais às quais ele está submetido, alimentação, ambiente, formação escolar, profilaxia contra doenças etc.;
2) Seria repetitivo dizer que a criminalidade, fornecedora de tanta substância para imprensa, cresce na razão direta do aumento da miséria; 3) O desequilíbrio econômico da sociedade torna cada vez mais assustador o quadro. Poucos de nós podemos jactar-nos de nunca termos sido moles-tados pela ação criminosa de algum delinquente, direta ou indiretamente, e...

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