A produção de uma estética para o reconhecimento do trabalho artesanal de Tecelãs
Autor | Edla Eggert |
Cargo | Doutora em Teologia pela Escola Superior de Teologia |
Páginas | 222-238 |
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n3p222
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.222-238 Set.-Dez. 2016
A PRODUÇÃO DE UMA ESTÉTICA PARA O RECONHECIMENTO DO
TRABALHO ARTESANAL DE TECELÃS
1
Edla Eggert2
Resumo:
O artigo analisa três vivências produzidas num ateliê com um grupo de tecelãs.
Estuda-se o processo de saber fazer toda a produção têxtil e com elas visibilizar
essas experiências de trabalho milenar. Os argumentos teórico-metodológicos
ancoram-se na pesquisa participante entremeada com a perspectiva feminista de
visibilizar a história das mulheres envolvendo o ato de pesquisar como
(auto)formador. A observação participante e as rodas de conversa possibilitaram a
recolha de material para a análise das vivências. Conclui-se que pesquisadoras e
tecelãs produziram uma estética por meio de uma interface entre o ateliê e os
espaços de formação em que as artesãs e as estudantes/professora foram
desafiadas a pensar os processos de aprender e ensinar da Educação de Jovens e
Adultos por meio do trabalho artesanal.
Palavras-chave: Ateliê. Trabalho Artesanal. Mulheres. Visibilidade.
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa é desenvolvida junto a um ateliê de tecelagem em Alvorada, RS,
município da região metropolitana de Porto Alegre. São realizadas visitas regulares,
que possuem o caráter de observação participante desde os anos de 2008 até o
presente ano de 2016. É um estudo longitudinal sobre os processos de ensino e de
aprendizagem que ocorrem no cotidiano da vida ordinária dessas artesãs. O que
será apresentado nesse artigo é a descrição e análise de três momentos
vivenciados com as tecelãs por meio de experimentações planejadas com elas a fim
de percebermos como acontece o ensinar e o aprender da tecelagem que implica
sobretudo em pensar os processos. Esses momentos vivenciados em tempos
diferentes proporcionaram formas distintas de vermos o que foi feito: em 2010 foi
proposto para as tecelãs ensinarem as pesquisadoras a tecerem, e foi produzido um
micro-documentário de 7 minutos. (FELIZARDO, 2010); em 2013/2014 foi proposta a
1 Este texto foi escrito baseado em apresentação oral realizada no Congresso Internacional
"Connessioni decoloniali. Pratiche che ricreano convivenza", na Universidade de Verona, Itália, de 19
a 21 de maio de 2016, e possui o financiamento do CNPq.
2 Doutora em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Pós-Doutorado no Programa de Estudios de
la Mujer da Univesidad Autónoma Metropolitana de Xochimilco, Ciudad de México, DF Professora na
Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS .
E-mail: edla.eggert@gmail.com
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criação de peças artesanais por meio de registros fotográficos “sobre o que de feio
tem em Alvorada” feito com seus celulares e uma vez impressas as fotografias
serviram de “inspiração” para a criação de peças artesanais. E, por fim 2015 e 2016,
a apresentação por meio de exposições e instalações das peças criadas e
produzidas pelas tecelãs.
Ao fazer a análise nos utilizamos das marcas de leituras que aprendemos a
fazer com base em uma série de atravessamentos que nos formam pesquisadora
compromissada com a visibilização da história das mulheres no campo educativo
por meio do trabalho artesanal.
2 A METODOLOGIA INSPIRADORA
A metodologia da pesquisa baseia-se na Pesquisa Participante (STRECK;
BRANDÃO, 2006), na pesquisa (auto)biográfica (JOSSO, 2004, 2010) e em
pressupostos teóricos do feminismo (GEBARA, 2000). São aspectos teórico-
metodológicos que tramam um debate conspirador desde o Sul marginal. Pensamos
na vida que acontece nas margens, vida de mulheres das classes populares, em
tentativas recorrentes da escolarização tardia, na esperança de um trabalho melhor.
A aproximação e entrevistas acontecem enquanto as quatro tecelãs trabalham, ou
enquanto elas mostram como se faz e, ainda quando elas ensinam como se faz. E
tudo isso nós anotamos, gravamos, degravamos e devolvemos às quatro tecelãs
que participam de uma cooperativa e vivem desse trabalho artesanal. E assim, num
circuito que poderia ser chamado de um círculo hermenêutico, tentamos entender
aquilo que as tecelãs fazem: tramam conhecimento, tecido para os dias melhores.
Portanto a metodologia tem, na forma como nos aproximamos à empiria, um modo
de ler o mundo. Somos marcadas por leituras que realizamos ao longo da nossa
formação. E, entre essas leituras estão as metodologias de pesquisa qualitativa
embasadas em concepções da Educação Popular, de teorias feministas e leituras
decolonialistas (WALSCH, 2013; ANZALDUA, 2000; STRECK; ADAMS, 2012;
2014). Juntamente com essas leituras temos ainda outras que nos convidam a
pensar o modo como interpretamos o que encontramos, quando pesquisamos com
pessoas ao longo da nossa carreira de docentes e investigadoras científicas.
Buscamos metodologias de interpretação produzidas na América Latina, por meio da
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