Prosopografia dos deputados federais peessedebistas e petistas eleitos em 1994 e 2002

AutorGuilherme Leite Ribeiro - Maria Celina Soares D'Araujo
CargoAtualmente cursa doutorado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Publicou o livro 'Radicalização e crise: o protagonismo das frentes parlamentares no Governo João Goulart (1961-1964)' (Appris, 2017). É bolsista nota 10 da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). E-mail:...
Páginas151-180
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2019v18n42p151
151151 – 180
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Experiência parlamentar e
trajetórias dos deputados federais
eleitos por PSDB e PT em 1994
e 2002: quebrando mitos
Guilherme Leite Ribeiro1
Maria Celina Soares D’Araujo2
Resumo
Analisam-se as bancadas eleitas pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e pelo Partido
dos Trabalhadores (PT) em 1994 e 2002 a partir de critérios sociais, políticos e econômicos. Na
pesquisa, confirmam-se teses correntes de que os parlamentares petistas possuíam vínculos mais
próximos a movimentos sindicais, eram menos educados e tinham ocupações mais variadas. Por
outro lado, ao contrário do que usualmente se supõe, revela-se que grande parte dos deputados
federais do PT, eleitos nesses dois anos, trazia em seu histórico maior experiência no Legislativo,
contrariando a concepção de outsider do sistema político. Com isso, contradiz-se a tese de que
o PT seria um outsider do sistema político. Comparando a bancada dessas agremiações nas duas
eleições estudadas, e supondo que experiência faz diferença, defende-se a hipótese de que em
1994 essa expertise foi fundamental para o papel do PT como oposição ao governo Fernando
Henrique, e em 2003 como sustentação do governo Lula da Silva.
Palavras-chave: Partido dos Trabalhadores. Partido da Social Democracia Brasileira. Experiência
parlamentar. Composição social dos partidos.
1 Atualmente cursa doutorado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Publicou o li-
vro “Radicalização e crise: o protagonismo das frentes parlamentares no Governo João Goulart (1961-1964)”
(Appris, 2017). É bolsista nota 10 da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro (FAPERJ). E-mail: guilhermeribeirohist@gmail.com
2 Doutora em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Professora do
Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Entre outras
obras, publicou “A elite dirigente do governo Lula” (FGV, 2009). Tem vários livros e artigos sobre partidos polí-
ticos, Era Vargas, ditadura militar, Forças Armadas e elites dirigentes. E-mail: mariacelina@daraujo.net
Experiência parlamentar e trajetórias dos deputados federais eleitos por PSDB e PT em 1994 e 2002:
quebrando mitos | Guilherme Leite Ribeiro; Maria Celina Soares D’Araujo
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Introdução
Quando Fernando Henrique Cardoso foi eleito em 1994, encontrou
o Partido dos Trabalhadores (PT) como principal bancada de oposição,
formada por quadros experientes na política local e com alta militância de
partido aparentemente antissistema. Estes parlamentares petistas foram as
vozes mais retumbantes contra a maioria das medidas do governo e con-
tribuíram para imprimir-lhe marca negativa que perdurou por décadas,
tornando a sigla “FHC” um fardo para o Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB) e para seus candidatos à Presidência da República: José
Serra em 2002 e 2010, Geraldo Alckmin em 2006 e 2018, e Aécio Neves
em 2014.
A bancada parlamentar do PSDB, eleita em 1994, por sua vez, expres-
sava o que Duverger (1970) chamou de “partido de quadros” e contava
com muita habilidade para fazer alianças congressuais. Quando o PT che-
gou à Presidência da República, em 2003, sua bancada havia praticamente
dobrado, estava marcada por forte experiência e motivação política para
inaugurar uma “nova era”. O PSDB, com menos deputados, primou, de
início, por não fazer oposição às propostas do novo governo. Continuou
como partido parlamentar sem defender seu passado e sem fazer oposição
sistêmica. Ou seja, em 2003, Lula da Silva contou com condições mais
favoráveis para governar e isso se deve em grande parte à oposição anódina
feita pelo PSDB, e à aguerrida bancada petista, ainda mais experiente.
PT e PSDB polarizaram a disputa presidencial entre 1994 e 2014.
Embora nenhum deles ocupe o primeiro lugar em número de liados,3
ambos apresentam estrutura organizacional que cobre a maior parte do
território brasileiro, com legisladores e cargos executivos em todos os níveis
da federação e presença em quase todos os municípios.
Este trabalho investiga o perl dos deputados federais eleitos em 1994
e em 2002 pelos dois partidos. O objetivo é analisar as principais caracterís-
ticas desses parlamentares nas eleições em que PSDB e PT chegaram à Pre-
sidência pela primeira vez. As questões que irão nortear o artigo, baseadas
3 Segundo levantamento no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PMDB ocupa a primeira colocação, segui-
do por PT, e PSDB. Para mais informações, http://www.tse.jus.br/eleitor/estatisticas-de-eleitorado/filiados.

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