A publicação do kama-sutras e a lei inglesa que regulamentava as publicações obscenas de 1857

AutorFelipe Salvador Weissheimer
CargoDoutorando em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC)
Páginas266-285
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 02 - 2º Semestre de 2014
ISSN | 2179-7131 | http: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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Seção 07: Movimento feminista, história da dominação e Gênero.
História e censura: a publicação do kama-sutras e a lei inglesa que regulamentava as
publicações obscenas de 1857
Felipe Salvador Weissheimer
Resumo: O período vitoriano (Inglaterra,
1837-1901) foi marcado por profundas
ambivalências morais, diversidades culturais
e conflitos dos mais variados níveis, sejam
eles entre as classes sociais (aristocracia,
burguesia, operários, etc.), ou disputas
internas no seio das próprias classes por
grupos distintos. Em nossas análises aos
relatos dos envolvidos na tradução e
publicação do Kama-sutras, método que
possibilitou observarmos alguns indícios da
formação discursiva e, consequentemente,
das estratégias utilizadas para que a
produção do livro se desse como tal,
constatamos a existência de interdições
legais, tais como as promulgadas pela Lei de
Publicações Obscenas de 1857, que
regulavam as publicações de cunho erótico e
sexual. Esta Lei teve consequências
profundas na sociedade vitoriana, pois, a
ameaça de multas e prisões gerou certa
autocensura restritiva. Neste sentido, a Lei
de Publicações Obscenas obteve
considerável sucesso no controle e supressão
à obscenidade, inclusive de obras de
aspiração literária e científica. No entanto,
havia certa licenciosidade, que possibilitou a
publicação de vários livros de cunho erótico
e sexual, tal como no caso do Kama-sutras.
Assim, buscaremos aprofundar as discussões
e referências para compreendermos as
estratégias adotadas pelos produtores do
Kama-sutras na publicação de 1883.
Palavras-chave: Kama-sutras. Lei de
Publicações Obscenas de 1857. Inglaterra
vitoriana. Sociedade Hindu Kama-Shastra.
Richard Francis Burton.
Resumen: El período del Victorian
(Inglaterra, 1837-1901) estuvo marcada por
la ambivalencia moral y culturales
diversidades y los conflictos de los distintos
niveles profundos, ya sea entre clases
sociales (aristocracia, burguesía, obreros,
etc.), o las luchas internas dentro de clases
mismas por parte de diferentes grupos. En
nuestro análisis de los informes que
participan en la traducción y publicación del
libro Kama Sutras que permitió observar
algunas evidencias de formación discursiva
y, en consecuencia, las estrategias utilizadas
para la producción del libro es que, nos
encontramos con la existencia de
prohibiciones legales, tales como las
promulgadas por la Ley de Publicaciones
Obscenas de 1857, que regulaba las
publicaciones de carácter erótico y sexual.
Esta Ley tuvo profundas consecuencias en la
sociedad victoriana, por lo tanto, la amenaza
de multas y penas de prisión genera cierta
censura restrictiva. En este sentido, la Ley de
Publicaciones Obscenas ha tenido un éxito
considerable en el control y represión de la
obscenidad, que incluye obras de aspiración
literaria y científica. Sin embargo, había una
cierta licencia, lo que permitió la publicación
de varios libros de carácter erótico y sexual,
como en el caso del Kama Sutras. Por lo
Periódico do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Gênero e Direito
Centro de Ciências Jurídicas - Universidade Federal da Paraíba
Nº 02 - 2º Semestre de 2014
ISSN | 2179-7131 | http: http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ged/index
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tanto, vamos a buscar nuevas discusiones y
referencias para comprender las estrategias
adoptadas por los productores de Kama
Sutras publicación en 1883.
Palabras clave: Kama Sutras. Publicaciones
obscenas Ley 1857. Inglaterra victoriana.
Kama Shastra la sociedad hindú. Richard
Francis Burton
1. INTRODUÇÃO
Ao longo do século XX surgiram
várias publicações sob o título de Kama-
sutras. Desde então, o mercado, de uma
forma geral, transformou o Kama-sutras em
um bem cultural, sinônimo do exotismo e da
volúpia sexual. Neste sentido, o Kama-
sutras foi explorado de várias maneiras, seja
em publicações ilustradas (não havia
imagens eróticas na primeira publicação
inglesa) ou, até mesmo, tornando-se marca
de cosméticos, incensos ou produtos
eróticos.
Dentre as várias publicações que
levam o título de Kama-sutras difundidas no
mercado, a versão clássica foi escrita por
Vatsyayana e posteriormente publicada na
Inglaterra em 1883 sob a coordenação de
Richard Francis Burton. Esta versão inglesa
do Kama-sutras foi publicada sob o título
The Kama Sutra of Vatsyayana, Translated
from the Sanscrit. In Seven P arts, with
Preface, Introduction and Concluding
Remarks (O Kama Sutra de Vatsyayana.
Traduzido do Sânscrito. Em sete partes, com
Prefácio, Introdução e Observações Finais).
Não constava o nome dos tradutores no
livro, que foi impresso em papel grosso e
encadernado em velino branco com frisos
dourados, e tinha o seguinte colofão:
“Cosmopoli: 1883: para a Sociedade Kama
Shastra de Londres e Benares,
exclusivamente para circulação privada”
(Archer, 1988: 9). Entre 1883 e 1885 teve
duas reedições (Archer, 1988: 9).
1
De modo geral, o Kama-sutras de
Vatsyayana é um livro com conselhos e
reflexões escritos em aforismos (sutr as),
1 No que se refere ao Kama-sutr as, na
impossibilidade de acesso aos originais de 1883,
utilizamos como fo nte uma versão p ortuguesa,
publicada em 1988 (traduzida por Waltensir Dutra). A
versão p ortuguesa de 1988 é uma tradução direta de
uma versão inglesa de 1963, publicada sob a
coordenação de W. G. Archer (com o prefácio escrito
por Archer e a introdução escrita por K. M. Panikkar,
ambos citados ao longo d o nosso trabalho, pois
foram, mesmo que minimamente, referenciais
estrangeiros i mportantes no estudo do Kama-sutra s).
Por sua vez, a versão inglesa de 19 63 é uma
publicação literal do Kama- sutras conforme editada
por Burton em 1883, apenas acrescida do pr efácio de
Archer e da introdução d e Panikkar. Conforme consta
na “Foreword” ( notas prévias) da versão inglesa de
1963 “the present edition is based on the translation
as it appeared in 1883 and includes the translators,
preface, introduction, foo t-notes and concluding
remarks” (Archer, 1963: 07). T radução da nota
acima: esta edição baseia-se na tradução tal como foi
publicada em 1883 e inclui prefácio, a introdução e as
notas de rodapé, bem como os comentários finais,
feitos pelo tradutor.

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