Pesquisa qualitativa nas ciências sociais: uma discussão acerca de sua complexidade e perspectivas futuras

AutorRuth Gonçalves Duarte - Diego de Queiroz Machado - Fátima Regina Ney Matos
CargoMestranda em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) - Doutorando em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR) - Doutora em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (2008)
Páginas203-224
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1984-8951.2013v14n104p203
Pesquisa qualitativa nas ciências socias: uma discussão acerca de
sua complexidade e perspectivas futuras
Qualitative research in social sciences: a discussion about your
complexity and future perspectives
Ruth Gonçalves Duarte1
Diego de Queiroz Machado2
Fátima Regina Ney Matos3
Resumo
Mesmo recebendo críticas pesadas e não tendo ainda alcançado o status de
método, uma vez que são muitos os que a consideram uma arte, é inegável a
contribuição que a pesquisa qualitativa trouxe, em especial, no contexto das ciências
sociais. Dessa forma, o presente ensaio tem como objetivo apresentar, mediante
exploração dos principais dilemas recorrentes da sua aplicação, a pesquisa
qualitativa em toda a sua complexidade. Espera-se, com a promoção de tal
discussão, que possam ser reconhecidas as múltiplas vozes e críticas responsáveis
por promover e impulsionar uma evolução de seus métodos e técnicas, permitindo
um desenvolvimento constante e radical da pesquisa qualitativa como instrumento
de ciência, pura e aplicada.
Palavras-chave: Pesquisa Qualitativa. Complexidade. Confiabilidade. Validade.
Perspectivas.
Abstract
Even getting heavy criticism and has not yet reached the status of method, since
there are many who considers it an art, it is undeniable the contribution that
qualitative research brought, in particular, in the context of the social sciences. Thus,
this essay aims to present, by exploring the main recurring dilemmas of its
application, the qualitative research in all its complexity. It is expected, with the
promotion of this discussion, which can be recognized multiple voices and criticism
responsible for promoting and driving an evolution of its methods and techniques,
1Mestranda em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Especialista
em Gestão Tributária e em Docência à Distância e Bacharel em Ciências Contábeis. E-mail:
ruthduarte2@gmail.com.
2 Doutorando em Administração de Empresas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). Mestre em
Administração de Empresas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), especialista em Gestão
de Pessoas pela Faculdade Estácio do Ceará (2010) e bacharel em Administração de Empresas pela
Universidade Federal do Ceará (2007). E-mail: diegoqueirozm@yahoo.com.br.
3 Doutora em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco (2008). Mestre em
Administração pela Universidade Estadual do Ceará (2000). Graduada em Psicologia pela
Universidade Federal do Ceará (1979). Professora adjunta do Programa de Pós Graduação em
Administração da Universidade de Fortaleza. E-mail: fneymatos@globo.com .
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição 3.0 Não Adaptada.
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.14, n.104, p.203-224, jan/jun 2013
allowing for a constant and radical development of qualitative research as a tool of
science, pure and applied.
Keywords: Qualitative Research. Complexity. Reliability. Validity. Perspectives.
1. Introdução
O conhecimento da realidade sempre foi preocupação para o homo sapiens.
Na visão ocidental, a ciência é uma forma hegemônica de construção da realidade.
A sua capacidade de dar respostas técnicas aos problemas sociais e humanos e o
estabelecimento de uma linguagem universal para a compreensão do mundo
fizeram com que a sociedade moderna passasse a valorizar a ciência frente às
outras modalidades de saber.
Porém, Minayo (2007) contesta essa hegemonia, tendo em vista que o
homem sempre procurou explicações para os fenômenos relacionados com a vida e
com a morte, com a posição dos indivíduos na organização social, bem como com
os mecanismos de poder, de controle e de reprodução, no que corrobora Foucault
(1971, p. 67), que discute o saber em sua arqueologia e identifica que “lá no fundo,
em seu subterrâneo, onde se apresenta sem máscaras, mostra sua mais verdadeira
face, que é a subserviência ao poder”.
A universalidade da linguagem científica é passível de variações, tendo em
vista a natureza dos objetos estudados. No caso das ciências sociais, que trabalha
objetos históricos a sociedade e os indivíduos dotados, por isso, de uma
consciência histórica, existe uma identidade entre o sujeito e o objeto da
investigação. Tal relacionamento “passa pela subjetividade e por interesses
diversos” (MINAYO, 2007, p. 41), tendo no seu objeto um cunho essencialmente
qualitativo.
A Grécia antiga, como o berço da civilização ocidental, legou “uma base
objetiva para o conhecimento humano” (SOLIS, 1990, p. 161): da lógica aristotélica a
um dos primeiros tratados etnográficos conhecidos, a descrição feita por Heródoto
sobre “os costumes, as vestimentas, as armas, os barcos, os tabus alimentares e as
cerimônias religiosas dos persas e povos circunvizinhos” (GOLDENBERG, 2004, p.
16).
Porém, de acordo com Bogdan e Biklen (2006), os primeiros registros sobre
investigações qualitativas datam do século XIX, sendo baseados em investigações
sociais como os estudos do cotidiano de indivíduos urbanos. Essas investigações

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