Quando todos podem ganhar?

AutorRicardo Morishita Wada; João Paulo da Silveira Ribeiro
Ocupação do AutorÉ Professor da Disciplina Responsabilidade Civil e Direito do Consumidor na graduação da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV)/É Professor da Disciplina Regulação Jurídica e Econômica do Setor Elétrico na graduação da Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV)
Páginas698-732
698 Temas RelevanTes no DiReiTo De eneRgia eléTRica
1 BREVE HISTÓRICO
Até meados da década de 1990, os serviços públicos de distri-
buição de energia elétrica eram prestados por empresas estatais.
Contudo, com o processo de reforma do Estado vivenciado pelo
Brasil naquele período e com o início do Plano Nacional de Deses-
tatização, na maioria dos Estados, a prestação do serviço de distri-
buição de energia elétrica foi delegada – através de concessões – para
a exploração de agentes privados, permanecendo a titularidade com
o Estado brasileiro, por se caracterizar como um serviço público.
1
Em virtude disso, trata-se de setor regulado.
Como consequência desse processo, o setor elétrico foi objeto
de ampla reestruturação. O início das privatizações das empresas
elétricas aconteceu antes mesmo do novo modelo institucional do
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a licitação da exploração dos potenciais hidráulicos.
Parte considerável deste novo modelo é resultado das suges-
tões apresentadas no Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico
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a desverticalização das empresas, com a separação das áreas de
geração, distribuição, transmissão e comercialização. Esse modelo
possibilitou a competição nas áreas de geração e comercialização de
energia que deixaram de ser exploradas em regime de monopólio.
No entanto, nas áreas de transmissão e distribuição, por se tratarem
de monopólio natural,2 permanece inexistindo a competição.
1    -
distribuição de energia
elétrica, gás e combustíveis.
2
Monopólio Natural a teoria econômica convencionou denominar monopólios
naturais os setores nos quais uma única empresa prove o mercado a um menor
custo do que qualquer outra situação.
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QuanDo ToDos PoDem ganhaR? 699
Registra-se que, enquanto os grandes consumidores de energia3
podem optar de quem desejam comprar energia e gozam de liber-
dade para negociar com seus fornecedores, os consumidores em
geral continuam como consumidores cativos.
4
Sendo assim, a grande
maioria dos usuários enquadra-se como consumidor cativo em um
mercado monopolístico não podendo, então, escolher quem será
seu prestador de serviço. Em outras palavras, estão vinculados a
uma determinada distribuidora de acordo com o espaço territorial
em que consomem energia. Nesse cenário de vulnerabilidade dos
consumidores, a regulação ganha relevância ainda maior.
De forma geral, é possível verificar que, após o processo de
desestatização, houve uma melhora na qualidade da prestação do
serviço. Esse desenvolvimento pode ser constatado a partir de uma
análise dos índices de continuidade do serviço que servem como indi-
cadores de qualidade no fornecimento de energia elétrica. O índice
DEC (Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumi-

elétrica em um dado lapso temporal. O FEC (Frequência Equivalente
de Interrupção por Unidade Consumidora) indica o número de vezes,
em média, em que houve interrupção do fornecimento de energia
elétrica para as unidades consumidoras. Como pode ser observado

duração das interrupções do serviço desde a década de 1990. De
acordo com esses índices, houve uma melhora na continuidade da
3 -
midor especial. O Decreto n
atendido em qualquer tensão, tenha exercido a opção de compra de energia
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É de livre escolha dos novos consumidores,
cuja carga seja igual ou maior que 3.000 kW, atendidos em qualquer tensão, o
fornecedor com quem contratará sua compra de energia elétrica.
4 Consumidor cativo é aquele que só pode comprar energia elétrica da concessio-
nária ou permissionária que detém a concessão do serviço de distribuição de
-
tido à tarifa e às condições de fornecimento estabelecidas pela Agência Nacional
de Energia Elétrica.
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prestação de serviço após o processo de desestatização das distri-
buidoras de energia.
30
28
26
24
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20
18
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14
12
10
8
1997 1998 1999 20002001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
DEC
FEC
27,19
24,05
19,85
17,44
16,57
18,07
16,66
15,81
16,85 16,33 16,08 16,63
21,68
19,88
17,59
15,29
14,56 14,84
13,12 12,12 12,62
11,71 11,71 11,36
Fora isso, o acesso à energia elétrica pela população atingiu
elevado nível de universalização com 99,9% dos domicílios urbanos
5
2 NOVOS DESAFIOS
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que o mercado de energia elétrica desenvolva-se com equilíbrio entre
 Além dessas competências
-

5 PNAD/IBGE, 2009. Pesquisa nacional por amostra de domicílios.
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