O racismo na atualidade e o conhecimento como estrategia para seu enfrentamento: Entrevista com o Professor Doutor Silvio Almeida.
Autor | Raimundo, Valdenice Jos |
Cargo | ENTREVISTA |
A questão racial tem sido um debate presente na vida do Professor Dr. Sílvio Almeida, desde muito jovem. É de uma família em que a discussão sobre a condição negra sempre foi cultivada. Cresceu cercado de fortes elementos da cultura negra como as escolas de samba, o futebol e as religiões de matriz-africana. Isso sempre foi motivo de orgulho e de afirmação na sua vida, e nunca foi visto como algo sem importância ou alienante. Os espaços negros representavam para ele, lugares de revitalização, de elaboração e de afeto.
Na sua trajetória acadêmica, inicialmente, não tratou diretamente dos temas ligados às relações raciais. A primeira formação foi em Direito. Jurista de formação, interessou-se por duas áreas do direito, no caso, o direito da propriedade intelectual (particularmente o direito de autor) e o direito tributário. Trabalhou e ainda trabalha, como advogado, com essas áreas até hoje, agora mais fortemente no direito tributário. Para o professor, o direito autoral e o direito tributário definiram direta ou indiretamente dois dos seus principais objetos de estudos, sendo esses cruciais para o tratamento que, na atualidade dá à questão racial: o processo de constituição da subjetividade jurídica e a relação entre direito e economia política.
Já formado em direito e advogado, ingressou, simultaneamente, no curso de graduação em Filosofia e no Mestrado em Direito político e econômico. No mestrado, conheceu o professor Alysson Leandro Mascaro, um encontro que redefiniu a sua trajetória, ao receber um dos conselhos mais importantes da sua vida, dentre os quais o de dificultar o trabalho dos racistas e do racismo que sempre associam as pessoas negras a temas vinculados à raça ou ao racismo. O professor Mascaro o orientou a trilhar um caminho que pudesse levá-lo a ser um intelectual, indubitável e incontornavelmente negro, mas capaz de falar sobre assuntos como filosofia, direito, política, sociologia e economia, a exemplo do que fizeram Milton Santos e Guerreiro Ramos.
Para o professor, o racismo conta com o que parece óbvio, que é a ideia de que negros só estão autorizados a falar de racismo. Negros e negras podem falar de racismo, mas não carecem de autorização para falar de outros temas. Ele percebeu desde muito cedo que o racismo atua para isolar negros e negras em caixas intelectuais das quais não podem sair e nas quais são obrigados a falar o tempo todo dos mesmos problemas e a partir da mesma perspectiva. É quase como se houvesse uma divisão racial do trabalho acadêmico em que pesquisadores negros só pudessem produzir dados sobre a sua condição, para que, depois, acadêmicos brancos, especialmente dos EUA e da Europa, construam teorias a partir desses mesmos dados produzidos pelos negros.
Orientado por essa compreensão, estudou Filosofia, Teoria Geral do Direito, Sociologia e Economia Política. Sua força foi e permanece sendo no sentido de tornar-se um teórico, naquilo que esse termo tem de mais nobre. No mestrado, estudou a obra de Lukács e suas contribuições para a Filosofia do Direito, o que resultou no seu primeiro livro "O direito em História e Consciência de Classe" (ed. Alfa-Ômega, 2006). No doutorado, defendeu a tese de Sartre como filósofo do Direito, trabalho publicado no livro "Sartre: direito e política" (Ed. Boitempo, 2016). E, posteriormente, escreveu o trabalho de pós-doutorado comparando as visões críticas da subjetividade jurídica em Lukács, Sartre e...
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