Razões finais

AutorAna Cristiane de Mello Moreles
CargoAdvogada
Páginas258-258

Page 258

Mãe, me dê dez razões para eu escolher o direito.”

Foi assim, sem meias palavras, que ouvi minha filha Ana Carolina me questionando sobre a profissão da advocacia. Ela é ainda jovem, entrou no curso de jornalismo e não se adaptou; pensou em fazer psicologia ou talvez direito, daí o motivo de seu interesse. Eu confesso que já havia tentado “puxar essa brasa para minha sardinha”, sugerindo-lhe fazer o curso, mas à época ela escolheu jornalismo e eu a apoiei, logicamente.

Pedi-lhe um tempo para responder.

Pensei em fazer uma tabela, elencando de um lado as coisas boas das carreiras jurídicas e de se cursar direito e do outro as dificuldades.

E nesse processo de como responder à minha filha, passei a pensar na minha própria escolha.

Como eu vim parar na advocacia e estou nela há mais de dez anos? Lembrei como foram os inesquecíveis primeiros anos de formada, as dificuldades de montar um escritório, os conselhos recebidos e guardados daqueles profissionais que sabiam, e ainda sabem, mais do que eu. Os primeiros atendimentos na minha própria “sala de advogada” (rsrs), as primeiras conquistas, os primeiros honorários... Tantas lembranças em uma carreira ainda curta.

Viajando mais longe no tempo, cheguei ao dia em que eu tive a convicção de que essa profissão ia muito além de simplesmente “entrar com processos” ou ganhar ações.

Era uma manhã tipicamente guarapuavana, em que o sol, tímido, espiava por dentre as nuvens de vez em quando, depois de uma noite de muita chuva. Eu estava no último ano de faculdade e fazia estágio obrigatório. Os estágios eram feitos em dupla naquela época, e consistiam em atender pessoas de baixa renda, confeccionar a ação correspondente e acompanhá-la, tudo com a supervisão de um professor advogado.

Já fazia alguns dias que havíamos impetrado um mandado de segurança para um senhor, vítima de um AVC, que precisava de um medicamento controlado e de uso contínuo, para ele muito caro, e que a Secretaria de Saúde não fornecia.

Estávamos com a liminar em mãos e não conseguíamos contato com aquele senhor. Pedimos autorização para ir em seu endereço a fim de lhe avisar que o juiz lhe concedeu a liminar, que o Estado já havia sido citado para cumprimento e que ele deveria ir à Regional de Saúde, com urgência. Autorizado.

Entrei no carro feliz da vida com aquele “feito”: uma liminar em mandado de segurança, nossa! Isso era muito bom para mim. O carro se afastava da zona urbana e fomos rumando à Vila do Jordão.

Eu via as...

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