Reage cidadão: Pacato motorista

AutorPaulo César Campos
CargoAluno de Ciência Política (7o semestre)

“Quando a lei é injusta, é justo combatê-la e pode

ser justo às vezes, violá-la.

Justiça de Antigona contra a de Creonte.

Dos resistentes contra os de Vichy.

Dos justos contra a dos puristas”.

André Camte - Sponville

Modernidade Técnica no Trânsito

Brasília e suas gentes vêm sendo, ultimamente, alvo de uma intensa campanha pela Paz no Trânsito.

A dimensão do problema pode ser avaliada pela decisão do GDF de, apesar das dificuldades orçamentárias, destinar vultosos recursos para a compra das novas viaturas que patrulham a cidade. São carros de excelente qualidade e dotados com modernos equipamentos de gravação de som e imagem para registrar infrações, suas circunstâncias e envolvimento, bem como as caríssimas barreiras eletrônicas, os radares móveis; enfim, todo um arsenal de equipamentos que simbolizam a modernidade técnica do DETRAN.

As autoridades responsáveis pelo trânsito do Distrito Federal têm atribuído, quase que exclusivamente, ao excesso de velocidade de carros particulares a principal causa de mortes em acidentes de trânsito em Brasília. Em conseqüência, vêem promovendo um verdadeiro linchamento dos motoristas que, por qualquer razão, ultrapassem quaisquer níveis os limites estabelecidos de velocidade máxima. Assim, se estabeleceu uma caçada aos infratores de uma, e somente uma, das regras fundamentais de segurança no trânsito.

Ora, todos os cidadãos, mesmo os só razoavelmente equilibrados, têm que apoiar as iniciativas que pretendam promover a diminuição da violência no trânsito: mas excessos praticados por algumas autoridades podem produzir efeitos indesejáveis.

A Ética das Autoridades no Trânsito

O Diretor de Trânsito do GDF, Sr. Miura, em um programa de televisão tipo "sobremesa", destes que são transmitidos nas tardes de sábado, chegou mesmo a chamar de "imbecis" a todos aqueles motoristas que "...trafegam a mais de 60, 80 ou, até mesmo, 180 km/h". A velocidade pode ser, em muitos casos, responsável por trágicos acidentes. Mas seria a única causa ou, em muitos casos, responsável por trágicos acidentes. Mas seria a única causa ou mesmo a principal? A norma que fixou os limites máximos de velocidade

deve ter sido elaborada tendo em conta um motorista "médio", conduzindo um carro "médio", trafegando em uma via média, que experimenta uma circulação "média" e, também , um movimento médio de pedestres. Ora, é muita média para suportar uma ofensa tão genérica promovida por um técnico; e, mais importante ainda, é muito grosseira para suportar uma ofensa tão genérica pronunciada por um servidor público.

Já o Secretário de Transporte, Nazareno Spósito, provavelmente com o propósito de realçar uma caudatária adesão do GDF à campanha promovida por um jornal local, rompeu os limites de equilíbrio e racionalidade exigíveis de autoridades públicas em regimes democráticos. Em diversas entrevistas para a televisão declarou - entre irônico e debochado, mas efetivamente autoritário - que decidira manter sob a mais absoluta coação os motoristas desta cidade. Não satisfeito com esta inacreditável postura, exortava cidadãos a que emprestassem seus carros a agentes do trânsito que, não sendo identificados no tráfego, poderiam aplicar mais multas a motoristas que excedessem as velocidades fixadas para as vias públicas do DF.

O Sr. Nazareno reintroduziu, na vida brasiliense, duas abomináveis figuras que acreditávamos banidas de nossas de nossas vidas : o espião e o dedo duro cidadão contribuinte, disfarçado de motorista do agente de trânsito.

Depois do rumuroso episódio da P2, em que ficou muito mal explicada a intromissão do...

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