Recursos hídricos e saúde humana: impactos industriais e estratégias de manejo e proteção ambiental no município de Goiana/Pe

AutorIsabelle Maria Mendes de Araújo - Manoel Marcilio Barbosa Nascimento - Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira
CargoDoutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, Brasil - Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba - Doutor em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
Páginas163-181
http://dx.doi.org/10.5007/1807-1384.2016v13n3p163
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.13, n.3, p.163-181 Set.-Dez. 2016
RECURSOS HÍDRICOS E SAÚDE HUMANA: IMPACTOS INDUSTRIAIS E
ESTRATÉGIAS DE MANEJO E PROTEÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE
GOIANA/PE
Isabelle Maria Mendes de Araújo
1
Manoel Marcilio Barbosa Nascimento2
Angelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira3
Resumo:
No contexto da expansão industrial regional, os recursos hídricos do Nordeste
brasileiro vêm sofrendo diversos impactos, os resíduos e efluentes industriais
poluentes são uns dos principais fatores que contribuem para os danos ambientais,
os quais também geram externalidades negativas para a saúde da população no
território. Desse modo, o presente artigo objetiva sistematizar os tipos de impactos à
Bacia Hidrográfica do Rio Goiana no município de Goiana, Pernambuco, diante da
recente instalação dos polos automotivo e farmacoquímico, com a presença da
primeira indústria de hemoderivados do Brasil, Hemobrás, bem como pela presença
de outros empreendimentos produtivos na região; e, descrever as estratégias de
manejo e proteção ambiental desenvolvidas para proteger e gerir os recursos
hídricos. Para tal, foi realizada revisão bibliográfica, bem como pesquisa de campo e
sistematização de dados secundários em instituições estaduais e municipais
responsáveis pela proteção da zona aquífera. Constatou-se a presença de poluição
e degradação dos recursos hídricos em Goiana advindas dos polos fabris:
cimenteiro, vidreiro, automotivo, de celulose, da cultura canavieira e da
carcinicultura; além de serem evidenciadas medidas mitigadoras associadas à
proteção da biodiversidade, da água, reduzindo, assim, a vulnerabilização da
população local.
Palavras-chaves: Bacia hidrográfica. Industrialização. Vulnerabilidade.
1 INTRODUÇÃO
No cenário mundial em que a água, essencial recurso ambiental, está
diretamente sendo afetada pelas mudanças climáticas e atividades antrópicas
(ARNELL, 2004; SWEENEY et al, 2009), há também aumento da vulnerabilidade de
territórios e populações (SPRENGER et al, 2011), a exemplo do estresse hídrico de
1 Doutoranda em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN,
Brasil. E-mail: isabellesaudelivre@hotmail.com
2 Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba,
Campina Grande, PB. Professor da Rede Municipal de Goiana e Coordenador da Divisão de
Educação Ambiental em Goiana, PE, Brasil. E-mail: marcilioufpb@gmail.com
3 Doutor em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho. Pós-Doutorado pela University College London, Londres, Inglaterra. Professor Associado da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil E-m ail: roncallli@terra.com.br
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áreas degradadas. Os impactos ambientais relacionados aos poluentes (dejetos
humanos, lixos, venenos, efluentes agrícolas e resíduos industriais) e ao uso
intensivo do solo, segundo o modelo agrícola oriundo da Revolução Verde (com
dependência de agrotóxicos e de biotecnologia, mecanização, irrigação,
monocultura e concentração de terras), afetam negativamente a disponibilidade e
qualidade da água para consumo humano (AUGUSTO et al, 2012). Situação
agravada pelos desmatamentos e queimadas.
A gestão dos recursos hídricos assume, desse modo, grande importância, ao
relacionar-se aos aspectos da economia e da sociedade, em particular: à produção
de alimentos, às condições de saúde, à segurança do abastecimento doméstico de
água, ao saneamento básico, enfim, múltiplos usos da água que devem ser
planejados a fim de viabilizar a sustentabilidade ambiental (CARR et al, 2012;
AUGUSTO et al, 2012). Todavia, as privatizações dos recursos hídricos, sejam das
companhias de distribuição de água e saneamento ou da apropriação privada por
grandes conglomerados econômicos e industriais, reconfiguram a questão do
acesso às zonas aquíferas e do direito à água para o consumo humano.
Frente a essa problemática, faz-se necessário compreender as experiências
locais no Brasil em torno do problema da água, analisando-se os processos
concretos que geram algum grau de vulnerabilidade para a população e,
principalmente, as estratégias sanadoras ou mitigadoras desenvolvidas para a
proteção dos recursos hídricos.
Nesse sentido, discutiremos o caso do município de Goiana em Pernambuco
e a correspondente Bacia Hidrográfica do Rio Goiana, a qual que tem sido alvo de
múltiplas demandas, sofrendo diversos impactos negativos. Nesse território, a Bacia
do Rio Goiana abastece a Zona da Mata Norte de Pernambuco, englobando 25
municípios, além de fazer parte da reserva extrativista Acaú-Goiana, área sob
proteção do órgão ambiental Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio/IBAMA).
Atualmente, esse município é emblemático, visto que sedia a primeira
indústria de hemoderivados e biotecnologia do Brasil, a Hemobrás, e a primeira
indústria automotiva da região Fiat/Jeep, com repercussões socioeconômicas para
o estado pernambucano e para os municípios vizinhos (HEMOBRAS, 2013). Por
outro lado, os recursos naturais vêm sofrendo impactos relativos às sobrecargas

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