Recursos livres, livros fechados: uma análise da dimensão interativa dos objetos educacionais digitais no ensino de Sociologia

AutorZuleika de P. Bueno - Fagner Carniel
CargoDocente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM) - Docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
Páginas132-154
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7984.2015v14n31p132
132 132 – 154
Recursos livres, livros fechados:
uma análise da dimensão interativa
dos Objetos Educacionais Digitais
no ensino de Sociologia
Zuleika de Paula Bueno1
Fagner Carniel2
Resumo
Este artigo pretende discutir a dimensão interativa dos livros didáticos digitais aprovados pelo
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). A investigação proposta tomou como referência
as obras de Sociologia avaliadas pelo programa em 2015. O objetivo é analisar tais materiais
considerando suas potencialidades e seus limites de uso no Ensino Médio brasileiro. Para tanto,
consideramos os pressupostos teóricos oferecidos pela bibliograf‌ia recente sobre mídias digitais
e destacamos as formas emergentes de interação com o conhecimento socialmente produzido e
disponibilizado na web. Por f‌im, evidenciamos o choque entre lógicas fechadas, restritas e pro-
tegidas, que organizam os atuais livros didáticos digitais disponibilizados aos colégios públicos
do país, e os usos de softwares livres de edição que estão sendo disseminados nos formatos de
recursos educacionais abertos.
Palavras-chave: Ensino de Sociologia. Livros didáticos. Recursos educacionais abertos.
1 Introdução
Os cursos de formação docente poderiam vir acompanhados de uma ad-
vertência: “Cuidado! É bem depressa que se envelhece em sala de aula”. Não
que o desgaste físico ou emocional na prossão seja necessariamente maior
do que em outras. São as sucessivas histórias de mudanças no ensino, de no-
vos procedimentos, de recentes dispositivos tecnológicos, materiais, técnicas e
1 Docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Socio-
logia e doutora em Multimeios pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
2 Docente do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Mestre em Socio-
logia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e doutor em Sociologia pela Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC).
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 14 - Nº 31 - Set./Dez. de 2015
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linguagens moderníssimas e a absoluta urgência em inovar que rapidamente
transformam uma recém-criada prática pedagógica em uma velha prática
pedagógica. E como é curiosa essa vontade de modicar continuamente os
formatos da educação! Ela faz do ensino um projeto tão provisório quanto as
próprias iniciativas em reformá-lo; propostas que somente poderão se com-
pletar após a usura do tempo convertê-las em um índice atualizado de nossas
“defasagens” escolares.
Em 2015, os colégios públicos brasileiros vivenciam mais um capítulo
dessas tentativas de inovação das práticas de ensino ao receberem do Go-
verno Federal sua mais recente “safra” de livros didáticos. A novidade, des-
ta vez, cou por conta dos formatos digitais. Como informa o Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD) (BRASIL, 2015b), as obras aprovadas
estão disponíveis em versões digitalizadas nos sites das editoras e podem ser
acessadas e executadas a qualquer momento por meio de tablets, notebooks,
netbooks e smartphones. Nos domínios da rede, tais obras adotam diversos
tipos de Objetos Educacionais Digitais (OEDs), que oferecem animações,
áudios, games, hiperlinks, imagens, infográcos, mapas, simuladores, tabe-
las, vídeos, entre outros tantos recursos que prometem articular os tradicio-
nais conteúdos disciplinares às contemporâneas Tecnologias da Informação
e da Comunicação (TICs).
Essa articulação busca promover a disseminação de conteúdos em turmas
cada vez mais conectadas, gamicadas, hipertextualizadas, virtualizadas. Com
isso, novamente se introduz o compromisso de abertura da educação formal às
vivências e experiências estudantis mediante políticas educacionais que inves-
tem maciçamente na transguração do que já existe em objetos de uma apren-
dizagem multimídia, proporcionando o desdobramento das reexões didáticas
em suportes digitais. Contudo, para não embarcarmos tão ingenuamente nessa
aventura tecnológica, vale indagarmos: há quanto tempo estamos esperando a
tão propalada integração entre educação e TICs? O universo digital apresentado
com grandes expectativas políticas e editoriais aos colégios públicos neste ano
realmente seria o indício de uma “revolução copernicana” na educação?
Das proposições pioneiras de Lévy (1993) a respeito do papel da inter-
net e da cibercultura na produção de certa “inteligência coletiva” às recentes
iniciativas de empresas transnacionais, como a Positivo Informática e suas
“suntuosaslousas digitais, temos nos formado em um contexto intelectual

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