O regresso do desenvolvimento humano: um sintoma da pandemia de Covid-19?

AutorCarla Alessandra da Silva Nunes
CargoAssistente Social . Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Páginas182-198
O REGRESSO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO: um sintoma da pandemia de Covid-19?
Carla Alessandra da Silva Nunes
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Resumo
O artigo objetiva problematizar a perspectiva do desenvolvimento humano cujo risco de regressão é apontado como uma
consequência do período pandêmico deflagrado com a COVID-19. Por meio de um levantamento exploratório basea do em
fontes documentais apresenta indicadores sociais qu e demonstram os desafios do desenvolvimento humano ao longo das
últimas décadas, particularmente no Brasil. Reforça quea reflexão or ientada pela teoria social crítica marxiana e marxista
aponta que os desafios para sustentar as conquistas do desenvolvimento humano para todos não podem ser atribuídos
exclusivamente ao coronavírus SARS-Cov-2, porqu e antes mesmo da crise sanitária, os lentos, mas importantes avanços
conquistados já se mostravam insustentáveis na ordem social capitalista, cuja superação é condição para um real e
sustentável desenvolvimento da humanidade, na perspectiva da emancipação human a.
Palavras-chave: Desenvolvimento humano. Emancipação humana. Pandemia
THE REGRESS OF HUMAN DEVELOPMENT: A SYMPTOM OF THE COVID-19 PAND EMIC?
Abstract
The article aims to problematize the perspective of human development whose risk of regression is pointed out as a
consequence of the pandemic period triggered by COVID-19. Through an exploratory survey based on documentary
sources, it presents social indicators that demonstrate the challenges of human develop ment over the last decades,
particularly in Brazil. It reinforces that the reflection guided by the Marxian and Marxist critical social theory points out that the
challenges to sustain the achievements of human development for all cannot be attributed exclusively to the SARS-Cov-2
coronavirus, because even before the health crisis, the slow but i mportant advances already achieved proved unsustainable
in the capitalist social order, whose overcoming is a condition for a real and sustainable development of humanity, in the
perspective of human emancipation.
Keywords: Human development. Human emancipation. Pandemic
Artigo recebido em: 21/11/2020 Aprovado em: 20/05/2021
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v25n1p182-198
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Assistente Social . Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora Adjunta do
Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe ( UFS). E-mail: carlaaless andranunes@gmail.com
Carla Alessandra da Silva Nunes
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1 INTRODUÇÃO
“[...] O pulso ainda pulsa
E o corpo ainda é pouco
Ainda pulsa
Ainda é pouco”
(Arnaldo Antunes)
O mundo foi surpreendido em 2020 por uma crise sanitária provocada pelo novo
coronavírus SARS-Cov-2, cuja rápida circulação assumiu caráter de pandemia1 com o avanço da
doença por ele provocada, a COVID-19, infectando até o momento da escrita deste texto, 54.301.156
milhões de pessoas e provocando 1.316.994 milhão de óbitos2 no mundo. Além dos sintomas físicos
que afetam o corpo humano, a insuficiência respiratória é o mais grave deles; a COVID-19 provoca
efeitos dramáticos no corpo social, no ser social do homem, atingindo o trabalho e as demais esferas
da sociabilidade humana.
A Organização das Nações Unidas (ONU), através do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento(PNUD), traduz esses sintomas no alerta sobre a regressão do desenvolvimento
humano, a ocorrer pela primeira vez na história mundial desde que o Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) foi criado como medida para avaliar os indicadores básicos que configuram uma
humanidade desenvolvida: educação, renda e expectativa de vida3. Tanto em países ricos quanto em
países pobres, queda nos níveis educacionais, de renda e de saúde já está sendo observada,
decorrente do adoecimento, das mortes e das medidas de enfrentamento da COVID-19 que exigem o
isolamento social.
Diante desse cenário, o artigo objetiva problematizar a perspectiva de desenvolvimento
humano antes e durante o período pandêmico, particularmente no Brasil. Para tanto, recorro às
avaliações do desenvolvimento humano elaboradas e divulgadas pelo PNUD (2003; 2010; 2015; 2019),
às fontes documentais que realizam sínteses de indicadores sociais no Brasil, a exemplo do IBGE
(2018;2020) e IPEA (2019a; 2019b), bem como às fontes jornalísticas que divulgam tais
diagnósticos/prognósticos, de modo a oferecer um conjunto de elementos que nos permita demonstrar
que as dificuldades em cumprir as condições básicas elimitadas de desenvolvimento humano já eram
previsíveis antes da chegada do vírus SARS-COV-2. A pandemia aprofunda uma situação de
calamidade social já existente, que há muito tempo se fazia insustentável e que diferente do vírus um
ser invisível a olho nu tem origem conhecida e estava aí para ser observada, ao menos por aqueles
não atingidos pela “cegueira” conivente4 com os interesses capitalistas, afinal, a desigualdade social
vem sendo produzida ao longo da história desse sistema e a sua superação é a condição para um real
e sustentável desenvolvimento da humanidade.

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