Religião e educação: o posicionamento das Igrejas Cristãs Protestantes em relação às questões dos negros no Brasil

AutorJurandir de Almeida Araújo - Deyse Luciano de Jesus Santos
CargoMestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia, Salvador - Doutoranda e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia, Salvador
Páginas50-68
10.5007/1807-1384.2017v14n3p50
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.14, n.3, p. 50-68 Set.-Dez. 2017
RELIGIÃO E EDUCAÇÃO: O POSICIONAMENTO DAS IGREJAS CRISTÃS
PROTESTANTES EM RELAÇÃO ÀS QUESTÕES DOS NEGROS NO BRASIL
Jurandir de Almeida Araújo
1
Deyse Luciano de Jesus Santos2
Resumo:
O presente artigo tem como objetivo tecer uma análise teórico-crítica acerca do
posicionamento das Igrejas Cristãs Protestantes em relação às questões do negro
no país e como a escola pode contribuir com a desconstrução de uma sociedade
racista. Parte-se da premissa de que essas igrejas têm se mostrado omissas e
silenciosas no que se refere ao lugar marginal em que a população negra ocupa na
sociedade brasileira desde o período escravista. E, também, que lidar com a história
e cultura africana, no currículo e cotidiano escolar, tem sido cada vez mais difícil
devido à problemática questão religiosa presente no espaço educacional.
Palavras-chave: Igrejas Evangélicas. Negros. Omissão. Silenciamento. Educação.
1 INTRODUÇÃO
As igrejas cristãs protestantes, popularmente denominadas de igrejas
evangélicas, desde que foram introduzidas na sociedade brasileira, têm se mostrado
incessíveis, omissas e silenciosas no que se refere às questões das relações étnico-
raciais no país, isto é, no que diz respeito ao lugar marginal em que a população
negra se encontra na sociedade brasileira desde o período escravista. Segundo
argumenta Alcântara (2011, p.87), essas igrejas, “tanto históricas quanto
pentecostais, contribuíram para que a situação de discriminação e marginalização
dos negros no Brasil fosse por tanto tempo perpetuadas”.
Nessa perspectiva, o presente artigo tem como objetivo tecer uma análise
teórico-crítica acerca do posicionamento das Igrejas Cristãs Protestantes em relação
às questões do negro no país e como a escola pode contribuir com a desconstrução
de uma sociedade racista. O texto toma como base, para tal análise, os estudos
teóricos de autores como: Branchini (2008), Alcântara (2011), Frizotti (1998), Silva
1 Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade
pela Universidade do Estado da Bahia, Salvador. Professor da Fundação Visconde de Cairu em
Salvador, BA, Brasil E-mail: juran-araujo@hotmail.com
2 Doutoranda e Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação e
Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia, Salvador. Professora da Rede Estadual
da Bahia, da Faculdade Maurício de Nassau e da UNIME, Salvador, BA, Brasil E-mail:
deyse10luciano@gmail.com
51
R. Inter. Interdisc. INTERthesis, Florianópolis, v.14, n.3, p.50-68 Set.-Dez. 2017
(2011) e CICM (1998), os quais discorrem sobre como as igrejas cristãs protestantes
têm se posicionado, ao longo da história, aceca das questões étnico-raciais; Santos
(2012a, 2012b) e Martins (2008) que abordam a questão educacional neste
contexto, entre outros autores que corroboram com a discussão em questão.
Parte-se da compreensão que se trata de uma discussão que, devido à
problemática em torno das culturas de matrizes africanas, tecidas e resistidas nos
terreiros de candomblé, reflete a dificuldade e resistência dos cristãos em lidar com
as questões étnico-raciais nos espaços de educação, não apenas nas escolas
confessionais, mas também nas escolas não confessionais e em todos os espaços
que estes se façam presentes. Também da premissa de que lidar com a história e
cultura africana e afro-brasileira no currículo e cotidiano escolar tem sido cada vez
mais difícil devido à problemática questão religiosa presente no espaço educacional.
Dificuldade e resistência que tem se constituído em um empecilho para a inclusão,
valorização e respeito à História e Cultura Africana, Afro-Brasileira e Indígenas no
currículo e no cotidiano das salas de aulas das escolas brasileiras, como orienta a
3 e a Lei 11.645/084.
Cabe destacar, no entanto, que não é a nossa intenção aqui apontar culpados
pelos estigmas e as situações desiguais em que se encontra a população negra no
país desde o período escravista. A nossa pretensão é trazer novas reflexões críticas
que ampliem o debate sobre como as igrejas evangélicas têm se posicionado diante
a situação marginal do negro no Brasil ao longo da história. Como sinalizado no
primeiro parágrafo e veremos no decorrer deste estudo, tais igrejas, desde a sua
implantação na sociedade brasileira, têm contribuído para a discriminação e
marginalização da população negra no país. É nossa pretensão também discutir
criticamente acerca da resistência dos cristãos evangélicos em lidar com a história e
cultura africana e afro-brasileira dentro dos espaços educacionais, sejam eles
confessionais ou não confessionais.
Contudo, antes de adentrarmos a discussão central deste estudo, é
importante ressaltar que, desde a década de 1970, militantes negros/as
3 A Lei 10.639/03 estabelece a obrigatoriedade da inclusão da História e da Cultura Africana e Afro-
Brasileira no currículo das escolas, públicas e privadas, do ensino fundamental e m édio do país.
4 A Lei 11.645/08 complementa a Lei 10.639/03 estabelecendo a obrigatoriedade do ensino de
história e cultura dos povos indígenas nas escolas do ensino básico.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT